Projeto forma professores para erradicar analfabetismo
Instituto Chapada atua em 22 municípios baianos e 3 pernambucanos; iniciativa ganhou o 8º Prêmio Empreendedor Social
por Vagner de Alencar 7 de novembro de 2012
Tudo começou após Cybele Amado perceber que o nível de alfabetização de seus alunos era baixíssimo. Na escola municipal onde dava aulas, a Caeté-Açu, que fica na região da Chapada Diamantina, na Bahia, não havia biblioteca. Tampouco materiais que pudessem despertar maior interesse dos alunos pela leitura, além de grande parte dos alunos estarem fora da idade ideal para a série que cursavam. Inquieta com esse cenário, a pedagoga decidiu mobilizar professores, coordenadores pedagógicos, diretores e até secretários de educação para transformar a realidade local. Fez parcerias com institutos privados e criou, inicialmente, um programa de formação de professores, que ajudou a reduzir o índice de evasão dos estudantes em até 80%, a diminuir a repetência em 20% e a aumentar em 80% da frequência escolar. A iniciativa concorre, com cinco finalistas, ao 8o Prêmio Empreendedor Social 2012, que acontece, hoje, em São Paulo.
“Nosso objetivo é mostrar como faz diferença ter um trabalho centrado no estímulo à leitura e à escrita na alfabetização das crianças, que se tornam sujeitos que pensam, lidam com textos, que entendem a função que isso vai ter na vida delas”, diz Cybele, diretora do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa, instituição que fundou em 2000 com uma rede de escolas e profissionais preocupada em melhorar a educação pública da região da Chapada Diamantina. Desde o início do ano, o instituto expandiu suas atuações também para municípios de fora da Bahia, chegando a Pernambuco.
O primeiro projeto do instituto foi o Chapada, iniciativa composta, atualmente, por 22 municípios na qual professores, coordenadores pedagógicos e diretores das escolas passam por formações continuadas para melhorar as práticas pedagógicas em sala de aula. O projeto tem sido usado como forma de erradicar o analfabetismo e melhorar também a formação de estudantes de ensino fundamental 1, estimulando que se tornem leitores e produtores de texto. Com a expansão vivida neste ano, três municípios pernambucanos (Jaboatão dos Guararapes, Ipojuca e Cabo Santo Agostinho) também passaram a receber a formação.
De acordo com Cybele, ainda hoje, muitos professores desenvolvem práticas ainda muito precárias de alfabetização, como ensinar primeiro as vogais, depois as consoantes e só então unir as sílabas. Para a especialista, essa prática de fragmentar a leitura e a escrita acaba sendo reflexo da descrença que os professores têm dos alunos. Eles não acreditam, afirma ela, que as crianças sejam capazes de decifrar trechos maiores que apenas sílabas. “As crianças chegam a demorar anos para ver um texto inteiro. O ideal seria trabalhar logo com cantigas de roda, contos ou palavras que fazem parte do cotidiano dos alunos”, diz.
Formação
As formações do Projeto Chapada ocorrem em cinco fases. Na primeira, participam apenas os municípios que acabaram de aderir ao projeto. Na segunda, aqueles que ainda precisam de bastante acompanhamento; na terceira, os que precisam um pouco menos e assim sucessivamente até a quinta fase. Além disso, os municípios também têm seus indicadores de aprendizagem monitorados e a ideia é que possam progredir ao longo dessas etapas, para que se tornem autônomos e, consequentemente, passem a receber acompanhamentos mais espaçados.
Durante o período em que passam pelo projeto, as cidades recebem visitas de formadores que acompanham a atuação dos professores, coordenadores e diretores. Nesses momentos, as equipes técnicas municipais recebem orientações sobre gestão institucional; os coordenadores pedagógicos, supervisores de ensino e diretores aprendem sobre gestão escolar; e os professores de ensino fundamental 1 são capacitados para gestão da sala de aula. “Como parte da formação, os profissionais fazem relatórios de suas práticas que, depois, servem materiais de análise da atuação. Muitos professores gravam suas aulas, compartilham os materiais usados em sala de aula e as atividades produzidas pelos alunos, o que sempre ajuda a construir novas práticas e enriquecê-las”, diz. Além disso, os municipais participam, ao menos três vezes por ano, de eventos regionais. A partir dos registros feitos localmente, são trabalhadas e qualificadas novas metodologias.
Ainda segundo Cybele, um dos principais desafios enfrentados pelos professores é a ausência de tempo para o planejamento de suas aulas. “Meu sonho é que o educador receba 40 horas semanais, mas que 20 delas sejam somente para planejar suas aulas. Para que possam estudar, planejar, ter mais encontros com os pais e manter um contato mais direto com a comunidade”, diz. Outra dificuldade é o risco de interrupção que os projetos correm quando há mudança na gestão local.
Prêmios
Nos últimos sete anos, as práticas do Instituto vêm rendendo diversas premiações. A primeira delas foi Prêmio Experiências em Inovação Social, que reconheceu os 20 melhores e mais inovadores projetos sociais na América Latina na Categoria Educação Básica, pela Fundação W. K. Kellogg e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da ONU. Em 2007, foi um dos 10 finalistas do Prêmio Generosidade 2007 da Editora Globo. Enquanto isso, em 2008, Cybele foi vencedora na categoria trabalho social do Prêmio Cláudia. O último prêmio, em 2009, foi o Ashoka-McKinsey que contemplou o instituto com o Programa de Planejamento para Ganho de Escala, uma parceria estratégica entre a Ashoka Empreendedores Sociais e a McKinsey & Company. Neste ano, ela é uma das seis finalistas do Prêmio Empreendedor Social, promovido pela Folha de S.Paulo.
* O Instituto Chapada foi o vencedor do 8o Prêmio Empreendedor Social 2012. Confira os outros ganhadores.
Atualizado às 13h22, em 08/11/2012