Redes sociais e escolas: como fazer uma gestão adequada?
Saiba como a gestão escolar deve lidar com as redes sociais e as crises que elas podem gerar, com base no debate realizado na Bett Brasil 2023.
por Ruam Oliveira 11 de maio de 2023
As redes sociais se tornaram mais um elemento para o qual a gestão escolar precisa estar atenta. Afinal, os espaços online podem ser, em muitos casos, os que geram crises que estouram dentro e fora de sala de aula. O debate tem sido permeado pelas consequências do extremismo nos últimos meses e pelos riscos que a internet pode oferecer a crianças e adolescentes – o que ocorre no digital não está totalmente descolado das vivências físicas.
O assunto ganhou destaque na Bett Brasil 2023. A mesa “Redes sociais e escolas: gestão adequada de crises”, realizada nesta quinta-feira (11), reuniu o educador e jornalista Alexandre Le Voci Sayad, diretor da ZeitGeist e co-chairman da UNESCO MIL Alliance, a escritora e jornalista Januária Cristina Alves, e Alessandra Borelli, sócia e presidente-executiva da Opice Blum Academy.
O momento atual exige cuidados. E, ao lado da equipe escolar, as famílias têm papel importante no momento de gerir uma crise ou até na hora de preveni-la, acredita Januária. “É preciso ver como os pais se relacionam com as redes, como elas estão postas dentro de casa, além de criar um canal de comunicação e diálogo na escola para saber como essas questões se dão também fora dela. É um desenvolvimento de senso de observação”, afirmou.
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Para a escritora, uma forma de compreender o universo das juventudes quando se trata de redes sociais, é sentar com a turma e dialogar. “Não existe uma fórmula exata”, comentou. A partir da descoberta do que gostam e de como se relacionam com as figuras online, a escola e os responsáveis poderão perceber melhor como eles usam as redes e, a partir disso, evitar possíveis crises. Alexandre Sayad reforçou que este papel deve ser entendido não como algo utilitarista, mas como uma linguagem. “A mediação não foi inventada na semana passada”, disse.
O estabelecimento dessa relação de diálogo e percepção ativa de toda a comunidade é o que pode possibilitar que crises sejam resolvidas muito mais facilmente. Alessandra reforçou que até mesmo as mensagens que circulam em grupos de WhatsApp dos responsáveis devem ser acompanhadas.
Ela apresentou uma série de exemplos de conteúdos que circulam nesses grupos. As mensagens podem conter diferentes teores, indo desde críticas às vestimentas dos docentes a questionamentos sobre calendário escolar, inclusão ou não de tecnologias digitais, entre outros temas. “As novas tecnologias nos trouxeram inúmeras oportunidades, mas com elas também os riscos. E precisamos administrá-los, principalmente em um ambiente no qual estamos formando pessoas”, disse.
As crises com as quais os gestores podem ter que lidar surgem em diferentes contextos, como é o caso dos aplicativos de mensagens, por exemplo. Alessandra sugere que o caminho ideal é o do diálogo, mas que nem sempre isso é possível. Em determinadas situações como violações de direitos de imagem, exposição indevida de marca ou de alguém, ou ainda riscos de danos físicos, por exemplo, é preciso recorrer a outros meios.
“Quando a gente percebe que todos os esforços foram feitos para conter a situação e evitar um prejuízo maior, e o conflito não cessou, é hora de acionar as medidas judiciais possíveis”, apontou. Ela também destacou algumas diretrizes que devem ser criadas para evitar possíveis crises. Como um dos exemplos, citou regras de uso das redes pelo corpo docente no ambiente escolar, a maneira como os professores lidam com imagens dos estudantes e até mesmo o nível de relacionamento que deve ser estabelecido entre eles.
Diálogo o ano inteiro
Questionados sobre qual o momento ideal para tratar junto às famílias sobre as potencialidades e dificuldades das redes sociais, os palestrantes argumentaram que apenas ações pontuais não surtem os efeitos desejados e necessários.
“A minha sugestão é que seja feita uma campanha, algo que comece em janeiro e não tenha fim. Ou seja, colocar esse tema de forma transversal e fazer esse engajamento com os jovens”, disse Alessandra.
Em vez de promover palestras e encontros específicos na escola sobre o uso das redes, eles ressaltaram que uma abordagem a longo prazo tem chances de maior impacto e mais significado.
Educação midiática como formação continuada
Além de ser fundamental na vida de crianças, adolescentes e jovens, a educação midiática também apoia o dia a dia de professores e gestores. “Quando a educação midiática é olhada de forma sistêmica, ela não deixa ninguém para fora. Às vezes, a gente relaciona a educação midiática ao currículo, quase que imediatamente. Ela precisa estar como elemento cultural no que chamamos de aprendizagem para a vida toda”, sugeriu Alexandre.
E a educação midiática precisa ser vivenciada pela comunidade escolar em diferentes esferas, principalmente no que tange à formação continuada. “Vejo a importância de que a educação midiática esteja no currículo, mas também na educação informal para quem já não está mais nos ciclos formais de educação”, afirmou.
Contudo, a educação midiática, sozinha, não vai resolver todos os problemas. Mas ela pode contribuir para que os gestores saibam como navegar melhor por esse cenário, até mesmo quando precisam pensar na resolução de problemas.