Troca de cartas estimula escrita e empatia em escola cearense
Atividade com alunos do 6º ano amplia produção textual e cria laços entre a comunidade escolar
por Samela Rodrigues de Oliveira Pereira 23 de março de 2023
A troca de cartas é uma forma antiga, mas bastante eficaz de comunicação. Mesmo com a velocidade da informação e tecnologia para o envio de e-mails e mensagens (por celular ou redes sociais), que permitem uma interação comunicativa em tempo real, a carta ainda pode cumprir diferentes funções: proporcionar a troca de afeto e carinho, além de fazer da escrita uma atividade prazerosa.
A partir da temática “Inspiração”, o Colégio Marista de Aracati, no Ceará, desdobrou-a durante a Semana Pastoral, com o propósito de “Escutar com empatia, pensar com sabedoria e agir com determinação”. Os assuntos contribuíram para a criação do projeto “Correio da Empatia”, com meus 80 alunos do 6º ano.
Tudo começou com uma aula sobre o gênero carta. Por meio de slides, visualizamos alguns modelos e também manuseamos diversos tipos de envelopes, para que cada estudante aprendesse o preenchimento dos espaços de remetente e destinatário.
Temos, na escola, uma coletânea de cartas do fundador, São Marcelino Champagnat (1789-1840). Consultamos o material para aprender também sobre a história e a cultura da obra Marista.
Elementos como o projeto de vida e o despertar do protagonismo sacodem a escola e abrem caminhos para vivermos neste chão experiências inspiradoras, mobilizadoras e formadoras na perspectiva do ser, sentir e agir. Consideramos, na proposta do “Correio da Empatia”, as competências presentes na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) na área de linguagens, como também o campo socioemocional, a fim de desenvolver habilidades como: pensamento crítico, imaginação, empatia, sentimento de pertença, olhar atento aos que nos cercam, curiosidade, entre outros itens.
Fizemos, então, uma roda de conversa sobre os valores humanos e, após a teoria, partimos para a prática, escrevendo bilhetes e cartas. Apresentei aos alunos o que seria usado como caixa de correio: um baú com tranca, no qual depositamos as correspondências.
Confira a galeria de fotos:
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Os alunos podiam escrever para os destinatários que quisessem, desde que estivessem no âmbito escolar. A proposta era motivar e ressaltar o potencial de quem iria receber a carta: agradecer pela ajuda em atividades, elogiar uma aula ministrada, retribuir o companheirismo e a escuta. Eu abria as caixas durante a aula e entregava a correspondência quando era do aluno – levava as demais caso fossem direcionadas aos professores ou aos colegas do refeitório.
Nas aulas de produção textual, a turma tinha apoio para a correção ortográfica e coesiva, tornando esse momento um processo muito além de um trabalho com ênfase no gênero textual carta, e também um processo evolutivo da escrita. Afinal, como menciona o educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira: “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Isto é, o processo construtivo da formação leitora e escrita é precedido pela vivência cotidiana.
Às vezes eu recolhia o material, corrigia durante o planejamento e devolvia em outra aula. Quando os alunos passaram a enviar as cartas a outros integrantes da escola, a proposta ficou mais livre, sem a proposta da correção, até como forma de aprendizado.
A ação marcou momentos de troca de elogios, motivações e agradecimentos aos colegas e mestres, além de reconhecer elementos impulsionadores para as produções escritas. As relações sociais e educacionais também estão presentes no “Correio da Empatia”.
Da reflexão para a escrita das correspondências, até a ansiedade para a abertura dos envelopes, os alunos relataram um misto de sensações. Dentre as falas, percebeu-se que a angústia, o nervosismo e a alegria foram sentimentos que se mesclaram durante o período do projeto, pois as expectativas de receber uma carta caminharam entre a incerteza da possibilidade e a alegria da concretização do ato empático. Em meio aos relatos, foi notório perceber a espera para o dia da abertura do baú.
Uma aluna disse que o encanto do projeto estava na alegria em saber que as “suas palavras poderiam alegrar o dia de alguém” e que “é muito bom saber que alguém gostava dela”. Ou seja, é possível perceber que o espaço aberto para a escrita de palavras de incentivo ganhou força poética na constância do trabalho com o gênero textual carta.
O sucesso do “Correio da Empatia” foi maior do que eu esperava. As turmas pediram para a caixa permanecer em sala e nós passamos a abri-la na última sexta-feira de cada mês.
Pretendemos levar o projeto para a recepção, para a sala dos professores e para os corredores da escola, convidando quem se sentir à vontade para participar. Afinal, a vida é mais alegre e os dias menos difíceis quando sabemos que, em algum lugar, há sempre alguém que ama.
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Samela Rodrigues de Oliveira Pereira
Professora há 14 anos, já lecionou em todas as turmas (desde maternal até 3° ano do ensino médio). É graduada em letras e em pedagogia. Possui especialização em língua inglesa e, mais recentemente, em gestão escolar.