Como todos podem sair ganhando no trabalho em grupo
Livro de pesquisadoras da Universidade de Stanford mostra como preparar atividades colaborativas que impactam no aprendizado
por Vinícius de Oliveira 18 de abril de 2017
Uns poucos fazem tudo, seja porque não dão espaço e voz para colegas ou porque há sempre aqueles que se aproveitam dos demais. Para deixar de lado essa percepção sobre o trabalho em grupo e mostrar os ganhos de aprendizagem que a metodologia pode trazer, o livro “Planejando o Trabalho em Grupo – Estratégias para Salas de Aula Heterogêneas”, surge como uma referência para apoiar educadores. Escrita pelas pesquisadoras Elizabeth Cohen (1932-2005) e Rachel A. Lotan, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, a versão em português da obra é uma iniciativa do Instituto Sidarta, em parceria com a editora PENSO.
Ao longo de 226 páginas, as autoras trazem orientações voltadas para a prática em sala de aula, sem se esquecer do apoio na parte teórica para o professor planejar, desenhar e avaliar de forma efetiva, seja por autoavaliação do aluno, observação direta ou questionários. Logo no primeiro capítulo, as autoras definem trabalho em grupo como “alunos trabalhando juntos em grupos pequenos de modo que todos possam participar de uma atividade com tarefas claramente atribuídas. Além disso, é esperado que os alunos desempenhem suas tarefas sem supervisão direta e imediata do professor”. Logo na sequência, dizem o que não corresponde a esse tipo de tarefa: “Não é a mesma coisa que agrupamento por habilidade” e nem “agrupamentos temporários, utilizados para ensino individualizado de leitura ou ensino personalizado”.
Para ser bem executado, o trabalho em grupo precisa cumprir alguns princípios como 1) delegação de autoridade aos alunos para que se esforcem sozinhos e cometam erros; 2) alunos vão precisar uns dos outros em algum momento para completar a atividade; 3) se o professor quer que alunos se comuniquem de modo autônomo, eles precisam de subsídios sobre o que vão conversar. De outra maneira, o nível de engajamento também está ligado ao oferecimento de problemas complexos, com diferentes soluções possíveis para favorecer a criatividade.
Mas o que falta para que os trabalhos em grupo ganhem mais espaço em relação às aulas expositivas? Segundo disse Lotan em conversa com o Porvir, uma parte disso diz respeito à dificuldade de avaliar o desempenho nessas atividades. “Nos Estados Unidos, como as avaliações direcionam o currículo, estão sendo criadas novas maneiras de fazer isso, especialmente por avaliações de desempenho (performance assessment)”, disse. Segundo explica a Associação para Supervisão e Desenvolvimento Curricular (ASCD, na sigla em inglês), uma ONG (Organização Não-Governamental) presente em 128 países, nesse tipo de abordagem, estudantes são encorajados a ser mais independentes, com foco na qualidade, enquanto professores mostram os pontos positivos e negativos de seu trabalho, sempre apontando o que eles precisam descobrir para melhorar. Como resultado, a avaliação é mais consistente e a nota mais justa.
Lotan também ressaltou a importância do trabalho em grupo para melhorar os níveis de motivação da turma. “Motivação diz respeito a um conceito psicológico. É engraçado pensar que, se sou uma professora, basta dizer para uma criança que quero que ela fique motivada. Isso não funciona. O que quero dizer é que ela precisa manifestar o desejo de se esforçar mais, de tentar de novo ou pedir que o professor explique as coisas”. Para que se alcance esse estágio, a autora diz que as crianças precisam de um professor que tenha um relacionamento próximo e saiba quais são seus pontos fortes. “Existem muitas pesquisas que mostram que quando alguém (não apenas na escola) recebe retorno avaliativo (feedback), coloca maior dedicação”, comenta.
Por outro lado, a pesquisadora de Stanford alerta que um trabalho em grupo é prejudicial quando não prepara os alunos a trabalharem juntos. Para essa preparação prévia, o livro sugere maneiras para promover a cooperação, como jogos, exercícios e atividades chamadas justamente de construtoras de habilidades. “As pessoas raramente aprendem novos comportamentos ou convicções sobre como devem se comportar apenas por meio de palestras ou de discussões”. A origem dessas dificuldades também pode estar na falta de formação inicial e continuada para que seja capaz de expandir o repertório do professor e fazer com que ele saiba quando alterar o tipo de instrução dependendo do determinado objetivo de aprendizagem. Lotan também insiste que programas de formação devem criar fortes laços com as escolas para entender que equidade e comprometimento devem caminhar juntos. “Jamais se deve aceitar o falso entendimento de que se deve buscar equidade ou excelência”, diz.
Sobre equidade, aliás, Lotan diz que os benefícios provenientes das atividades colaborativas são diversos e têm sido fartamente documentados, inclusive na Universidade de Stanford. “Uma pesquisa mostra que em lugares como as universidades, quanto maior a presença de pessoas com diferentes históricos de vida, origens, perspectivas e experiências, maior é o desenvolvimento intelectual”, diz. E os pontos positivos não se resumem às notas de provas, mas alcançam também à maneira de pensar a partir do momento que alunos ganham a chance de furar as bolhas sociais em que vivem e entender diferentes perspectivas.