Knewton chegará a 10 milhões de alunos até 2014 - PORVIR
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Transformar

Knewton chegará a 10 milhões de alunos até 2014

Com números, feitos e promessas grandiosas, maior plataforma de ensino adaptativo do mundo agora será vendida no varejo

por Mariana Fonseca ilustração relógio 12 de abril de 2013

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Chegar a 10 milhões de pessoas até 2014. Entender que um aluno não está conseguindo absorver um conteúdo de ciência porque não compreendeu direito um conceito de matemática. Prever que determinada turma terá dificuldades em uma disciplina na terceira semana de curso. Avisar para sua filha que ela sabe muito mais matemática do que ela acha que sabe e que a maior fraqueza dela é a insegurança e não o aprendizado. Com números, feitos e promessas grandiosas, a Knewton, maior plataforma de ensino adaptativo do mundo, tem lidado com um volume de dados inimaginável – mais do que o que está no Facebook, garante José Ferreira, seu fundador – para dar a alunos, professores, pais e gestores públicos um diagnóstico preciso do aprendizado de cada aluno que usar a ferramenta.

Lançada em 2008, a Knewton é uma plataforma adaptativa que entrega o conteúdo aos alunos de diferentes formas e lhes propõe atividades ou exercícios conforme suas necessidades. A ferramenta começou com matemática e era vendida essencialmente a grandes sistemas. Hoje, já engloba todas as disciplinas, desenvolve mapas de conhecimento transdisciplinares capazes de estabelecer conexões entre matérias diferentes e, em breve, deve começar a ser vendida no varejo, e não só para sistemas educacionais. E mais: o conteúdo, nesses casos, será gratuito e qualquer pessoa do mundo poderá contribuir com ele. As funcionalidades é que serão pagas. “Com a abertura da versão retail, qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, vai poder inserir conteúdo gratuito na plataforma. E uma vez que ele está lá, fica disponível para qualquer pessoa, de graça”, diz Ferreira, que é norte-americano, mas sua família é de Moçambique – o que justifica seu nome de origem lusófona, que parece tão brasileiro.

Ferreira esteve no Brasil pela primeira vez na semana passada e deu palestra no Transformar. Confira, a seguir, entrevista exclusiva que deu ao Porvir.

Como a Knewton muda o processo da educação na escola?
A transformação acontece de acordo com o que a escola permite. O sistema é desenvolvido para que seja a melhor versão de material didático possível, melhor do que qualquer livro. Ele ainda fornece muita informação aos gestores e aos professores, dados que eles nunca tiveram antes. Professores que tinham, no começo do semestre, 30, 50 ou até 100 estranhos chegando a sua aula, agora têm um conhecimento prévio de todos eles. O professor pode saber que, na terceira semana, quando estiverem estudando um conteúdo específico, os alunos daquela determinada turma vão ter dificuldades. Com isso, ele pode se preparar e construir esse conhecimento com os alunos até lá. Essas ferramentas já existem e podem ser mais ou menos aproveitadas pelos professores. Há lugares em que a paltaforma é usada como dever de casa, outros na escola e os livros tradicionais em casa, outras que misturam tudo isso. Depende da escola.

Além disso, quando a versão retail [voltada para o varejo, para pessoas comprarem individualmente] abrir no ano que vem, qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo vai poder inserir conteúdo gratuito na plataforma. E uma vez que ele está lá, fica disponível para qualquer pessoa, de graça. Achamos que essa é uma grande novidade.

Como vocês incentivam os trabalhos em grupo e a interação aluno-aluno?
De novo, depende muito dos professores e da escola. Temos uma ferramenta de grupo, em que o professor consegue visualizar agrupamentos de estudantes por nível de habilidade em um determinado conteúdo. Com isso, ele pode determinar a atividade de cada um dos grupos. Ele pode optar por passar mais tempo com um grupo de alunos com mais dificuldade e menos com o grupo que consegue realizar projetos mais complexos.

E como os pais podem usar as plataformas adaptativas com os estudantes?
Os pais vão poder ter informação sobre seus filhos e o que sabem. Eles sabem como e com o que ajudar seus filhos no dever de casa de hoje. Ele pode saber, por exemplo, que sua filha é melhor em matemática do que ela acha que é, e que a dificuldade dela é falta de confiança. Ou ainda que seu filho aprende melhor ciências visualizando as ideias e que ele só consegue se concentrar por 20 minutos, depois disso o rendimento dele cai.

Os mapas de conhecimento trabalham transdisciplinariedade. Como isso funciona para o aluno?
Nós percebemos quando um aluno não entende um conhecimento de ciências porque ele não entendeu um conceito de matemática. A plataforma sabe qual é o conteúdo de matemática que precisa oferecer para aluno, naquele momento, para que ele continue aprendendo ciências. É possível misturar várias disciplinas com esse olhar. Se há algum conteúdo no seu dever de casa hoje que você ainda não tem bem desenvolvido, nós sabemos disso e podemos agregrar esse conteúdo ao seu plano de aprendizado antes de entrar para o conteúdo mais denso. Antecipamos a possibilidade de o aluno falhar, sem que ele imagine que estamos fazendo isso. E fazemos isso transdisciplinarmente. Hoje já temos todas as disciplinas na plataforma, com exceção de línguas estrangeiras. Estamos aportando um grande volume de humanidades neste ano.

crédito Divulgação / Porvir

 

Como fica o engajamento dos alunos?
Achamos que eles estão engajados e vão ficar cada vez mais. O sistema de educação vem de um formato único, que serve para todo mundo. Uma produção em escala, como nas fábricas, com custo mais baixo para chegar a um maior número de pessoas. Isso foi importante para levar acesso. A loucura é que estamos pedindo para alunos diferentes se adaptarem a um único sistema. Mas quando temos um sistema se adaptando para cada aluno, podemos otimizar o engajamento. Esse estudante, por exemplo, aprende mais profundamente se ele usa 78% de texto e 22% multimídia. Podemos calcular o pacote ideal para cada um.

Qual costuma ser o formato que eles mais usam?
O texto é a forma mais rápida para aprender, mas não é engajador para todo mundo. Ou melhor: ele não é engajador se você faz só isso o tempo todo. É como enjoar da minha comida favorita, porque como todos os dias. Por isso, colocar um pouco de vídeo no meio de texto ajuda a engajar mais. Sabemos, por exemplo, que games são menos engajadores do que vídeos, você demora mais para aprender alguma coisa com eles. Por outro lado, se você tem estudantes que não se interessam pelo conteúdo e que não aprendem, usar games pode ser uma forma de resgatá-los. Atrair a atenção do aluno por tempo sufiente para que ele aprenda o básico e comece a exigir mais conteúdo para aprender mais e então não será tão resistente ao texto.

Como vocês usam os dados desse 1 milhão e possíveis 10, 20 mihões de usuários?
Quanto mais estudantes tivermos, mais poderoso o sistema fica. Para cada conceito que você vai aprender, podemos analisar como todos os estudantes que temos na plataforma, de qualquer país, idade etc. , aprenderam esse conteúdo. De todas as essas pessoas, quem são as mais parecidas com você? Quem são as que aprendem ou preferem estudar da mesma forma que você? Quais os vídeos, textos, games eles preferem? Sabemos disso e conseguimos sugerir o que funcionou melhor para esse grupo que se parece com você. Provavelmente esse será o melhor caminho para você também. E quanto mais pessoas, mais combinamos os dados e escolhemos a estratégia que quantitativamente prova que esse será o melhor caminho para você.

Algumas pessoas dizem que a Knewton, no futuro, vai poder dizer se as pessoas vão passar nos SATs e eles até que os exames não precisariam existir. É isso mesmo?
Não é a nossa meta substituir os testes padronizados como SATs, mas podemos dizer com antecedência o seu resultado na prova com bastante precisão. Não vamos substituí-los porque um teste desses envolve outras questões como segurança, autentificação de identidade por exemplo. Mas sim, vamos prever o seu desempenho.

Como você vê a escola ideal no futuro?
Cerca de 55% das crianças do mundo terminam a educação primária [equivalente ao ensino fundamental, no sitema brasileiro] e só 22% terminam a educação secundária [equivalente ao ensino médio]. São números baixos e chocantes. Mas nós nos acostumamos a eles. Hoje sabemos que, na era da tecnologia, podemos fazer bem melhor que isso e de forma rápida. Isso significa que as crianças que não têm escola, em regiões muito pobres, ou crianças que têm escola, mas não têm as aulas, têm um mundo de opções com o acesso on-line. Isso é transformador. Mas, para a maioria das crianças, a escola física vai continuar existindo e elas vão oferecer aulas presenciais e on-line também. E claro, vamos continuar medindo o quanto os alunos estão aprendendo com precisão e como eles podem aprender melhor. Teremos também mais conteúdos entregues de formas diferentes, escolas diferentes etc. O livro impresso didático, esse sim, vai embora muito rapidamente.

E o Brasil, quais são as suas expectativas?
Fomos procurados por mais de dez diferentes grupos brasileiros que têm interesse em traduzir a plataforma da Knewton. E, claro, temos muito interesse. Sabemos que o Brasil é lider em educação on-line, com grande atividade na rede. Fora dos Estados Unidos, o Brasil está no mesmo patamar que a Coreia do Sul.


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avaliação, big data, knewton, personalização, plataformas adaptativas, transdisciplinaridade, transformar

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