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Quem tem medo de feedback?

Saiba como criar um ambiente de confiança que favoreça avaliações sinceras, voltadas para o crescimento dos estudantes e demais integrantes da equipe escolar

Parceria com Avenues

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 11 de outubro de 2023

Quando professores buscam melhorar o trabalho em sala de aula, uma das estratégias mais utilizadas envolve oferecer ou receber feedback – tanto para um colega de profissão quanto para avaliar o desempenho de um estudante. O termo em inglês está presente no dia a dia da educação e pode ser traduzido como retorno avaliativo. 

Em teoria, o feedback segue uma lógica: alguém observa a didática em sala de aula e opina com a intenção de melhorar esse processo. Com isso, educadores são capazes de aprimorar aspectos específicos de sua prática até atingir um nível de excelência. No entanto, a depender das convicções pessoais e do tom da conversa, tal estratégia pode enfrentar rejeição ou não ter o efeito desejado.

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Uma outra tradução possível de feedback tem a ver com crítica, que pode ou não ser positiva. Para algumas pessoas, ouvir essa palavra sem ponderar suas nuances já aciona um alerta. Isso acontece em qualquer cultura, sob influência de fatores pessoais, clima da organização ou mesmo situacionais. Por exemplo, algumas culturas são mais diretas ao fornecer feedback (avaliação ou crítica) negativo, enquanto outras adotam uma abordagem mais indireta ou suave.

Para entender como gestores escolares e professores podem achar o tom certo em sessões de feedback (sem gerar medo) e adaptar essa prática em momentos de formação ou mesmo em situações de sala de aula, o Porvir conversou com Erica Chapman e David Dunbar, fundadora e colaborador, respectivamente, da consultoria DKDK Project, dos Estados Unidos.

Conferência NSTI (New School of Thought Institute) da Avenues The World School
Entre os dias 19 e 21 de outubro, Erica Chapman e David Dunbar participam da 3ª edição da Conferência NSTI (New School of Thought Institute) da Avenues The World School, em São Paulo (SP). Voltada a educadores da educação infantil ao ensino médio, a programação oferece formação para práticas centradas nos estudantes e projetos conectados ao mundo real. As inscrições estão abertas e podem ser realizadas neste link

Como cultivar uma cultura de feedback

Criar uma cultura de avaliação baseada em feedback pode colocar educadores diante de resistências, muitas vezes baseadas em nuances nem sempre percebidas. Erica afirma que, na relação entre professor e estudante, é importante focar no trabalho, não no indivíduo. Isso é alcançado quando, além de apontar o que está certo ou errado, o educador oferece estratégias para melhorar o trabalho em questão.

Se sempre são estimulados a realizar tarefas com respostas fechadas, com certo ou errado, como estudantes podem entender a melhor maneira de colaborar com colegas? Para criar esse tipo de referência positiva, David sugere que, ao planejar suas aulas, professores precisam incentivar a colaboração criativa, criando situações nas quais estudantes devem trabalhar juntos e praticar a interação e o feedback mútuo. E insiste: não é no discurso, mas sim na prática, que estudantes vão saber como se portar e contribuir com colegas.

“Você tem que planejar uma experiência de aprendizagem na qual eles tenham a real sensação de trabalhar em grupo, mas na maior parte das escolas, cada um faz seu próprio trabalho.” 

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Feedback e tomada de decisões

Quando a estratégia de feedback passa a ser adotada em sessões de desenvolvimento profissional de professores, o cuidado precisa estar em não deixar o ambiente carregado por um sentimento de rivalidade entre a gestão e os integrantes da equipe pedagógica. 

A partir de sua experiência em escolas públicas e privadas nos Estados Unidos, Erica observa que é frequente os professores não quererem receber feedback. “Quando se trata de algo muito pontual, pode surgir uma cultura de ‘nós contra eles'”, mencionou, referindo-se à relação entre a gestão ou a pessoa vista como avaliadora e o professor.

Em escolas que vivem uma cultura de colaboração mais intensa, descreve Erica, não apenas colegas do mesmo departamento são convidados a contribuir, mas também estudantes e demais integrantes da comunidade escolar. “O objetivo é mostrar que todos estão aprendendo, crescendo e melhorando, pois cada aula e cada estudante necessita de algo diferente.” 

Mesmo em escolas que vivenciam uma gestão democrática, segundo ela, é importante ter uma estrutura voltada para o crescimento. “É frustrante quando as ideias ficam dando voltas e não está claro como a decisão está sendo tomada. Em tais casos, vale esclarecer desde o início quem toma a decisão e em quais momentos há espaço para contribuições, que devem ser recebidas de forma genuína”, explica. Em muitos casos, lideranças realizam reuniões após já terem decidido previamente sobre o assunto em pauta, uma estratégia que no fim pode resultar em menos colaboração e frustrações. 

Ensino e aprendizagem

Como são profissionais que ocupam um duplo papel, tanto de agentes quanto o de objeto das mudanças, professores inicialmente resistentes tendem a olhar com mais cuidado para a aprendizagem com o passar do tempo. “Existe o modelo hierárquico no qual as decisões são de cima para baixo, em que o professor ensina e a criança aprende. Porém, quando é adotado um modelo diferente, no qual o professor é visto mais como um ecologista ou um designer ambiental, é possível criar um ambiente adequado para o aluno florescer”, diz Erica.

Nesse contexto, David considera que diferentes “alavancas” podem ser acionadas, apesar de eventuais travas, como o tamanho das turmas. O objetivo aqui é fazer professores enxergarem o que podem fazer. E ao se sentirem no papel de “designers ambientais” ou “ecologistas” em sala de aula (alusão a um profissional que projeta o ambiente a sua volta), naturalmente vão buscar a sugestão de pares para compartilhar ideias e experiências.

Pressão e competição de famílias

Quando as escolas conseguem superar modelos tradicionais de avaliação e vivenciam um ambiente de colaboração consistente, outra parte do processo educacional, a família, pode pressionar pelo conservadorismo das notas e provas tradicionais.

Nesses casos, segundo David, o melhor a fazer é apostar em estratégias como o portfólio, que vai sendo construído ao longo de todo o ano, evitando que, nos meses finais, haja uma cobrança desproporcional por parte de familiares. “Posso responder a partir do ponto de vista de um professor. Por exemplo, estudar história é algo que vai além de aprender datas e precisa envolver a compreensão das habilidades de um historiador. Isso pode compor o portfólio que o estudante elabora ao longo de todo o ano”, afirma. 

Dessa forma, segundo o educador do DKDK, o fim do ano letivo não reservará surpresas para ninguém, e é por isso que o papel do professor hoje é de alguém que precisa articular intensamente habilidades, e não mais se resumir à entrega de conteúdo.

Inscreva-se para a conferência New School of Thought Institute da Avenues São Paulo
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aprendizagem baseada em projetos, avaliação, socioemocionais, tecnologia

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