Estudo avalia uso de mídia no ensino do Rio de Janeiro - PORVIR
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Inovações em Educação

Estudo avalia uso de mídia no ensino do Rio de Janeiro

Maioria das escolas de ensino fundamental promove a análise de filmes, fotos e textos jornalísticos, mas poucas dão chance para os alunos produzirem seus próprios conteúdos

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 24 de março de 2016

Uma pesquisa com 911 escolas de ensino fundamental do Rio de Janeiro (RJ) mostrou que 9 em cada 10 têm atividades pedagógicas relacionadas com mídias, como cinema, filmes, imagens e vídeos. Entretanto, elas ficam concentradas apenas na análise, e a produção, que ajuda na formação de alunos mais autônomos, ao permitir que tomem iniciativa no processo de aprendizagem, ainda é um ponto a ser desenvolvido na maior rede municipal da América Latina. Só 20% têm essa prática numa frequência considerada boa.

O trabalho chamado “Projetos de mídia-educação nas escolas da rede pública municipal do Rio de Janeiro e aprendizagem escolar” foi realizado em 2015 pelo Instituto Desiderata em parceria com o Grupo de Pesquisa Educação e Mídia, da PUC-Rio, e a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foram usados nesta primeira fase, quantitativa, questionários respondidos por 911 escolas que ajudaram a fazer um panorama dos projetos e práticas desenvolvidos nas áreas de análise de produtos midiáticos, produção e uso de tecnologias na prática pedagógica. Essas dimensões, com acréscimo do item infraestrutura, ajudaram a compor um indicador batizado de MidiEdu, que ajudará a desenhar políticas públicas que ajudem a ampliar o uso de tais práticas.

Infraestrutura

Apesar de quase a totalidade das escolas possuírem datashows (99,2%), impressoras (98,6%), computadores (98,2%), TVs (97,6%) e DVDs (96%), isso não significa que as unidades de ensino estejam bem-equipadas. Pesquisadores citam que a relação do número de estudantes por aparelho é muito baixa, especialmente porque cada escola possui em média 301 estudantes. “Ao olhar a fundo, 36% das escolas têm menos de 10 computadores e, pensando no tamanho delas, é muito pouco”, diz Joana Milliet, gerente de educação do Instituto Desiderata e coordenadora da pesquisa.

Até por conta disso, é sugerido que gestores pensem em estratégias que incorporem o uso de dispositivos móveis de professores e estudantes às práticas pedagógicas, com a condição de que estejam conectados a uma rede de internet de boa qualidade. Aqui mora outro problema. Como mostrou o Guia Temático Tecnologia na Educação do Porvir, a conexão das escolas é baixa, instável e na maioria das vezes está restrita ao ambiente administrativo. “Quando você pergunta [ao diretor] se a escola possui, quase 100% dizem que sim, mas para 73% ela é ruim ou péssima e isso dificulta muito”, diz a representante do Desiderata.

Atividades
O levantamento também mostra que 80% das escolas têm como prática consolidada a análise de filmes e vídeos (1ª posição – 90,6%), fotografias/imagens (2ª posição – 81,1%) e textos jornalísticos (3ª posição – 80,8%). Entre as hipóteses levantadas pelos pesquisadores para a proximidade entre a escola e o cinema está a presença de programas como cineclubes e encontros realizados por parceiros. No caso do material jornalístico, é apontada a facilidade com que professores conseguem ter acesso a esses conteúdos, o que afeta diretamente o dia a dia da escola.

Mesmo com internet deficiente na escola, a análise do uso de redes sociais aparece na quarta posição, até por conta da popularidade desses recursos digitais entre os jovens e da necessidade de discutir temas como bullying e bullying virtual. Ela ocupa a quarta posição entre as mais efetivas, com 69,3%, logo à frente do estudo de confiabilidade de fontes de informação na internet, quinto, com 63,8%.

Os questionários, entretanto, mostraram que a análise de conteúdos publicitários é pouco difundida e deve ser mais bem trabalhada. Pesquisadores veem que esse tema como importante para que as crianças sejam preparadas a reagir criticamente aos anúncios dirigidos a elas.

Outra dimensão avaliada, a produção de mídia (escrita, audiovisual, sonora, eletrônica) é mínima. Só 38% produzem material escrito (jornais, histórias em quadrinhos ou revistas) e, em linha com os problemas de infraestrutura, 64% nunca realizam produção de vídeo, foto, rádio ou publicidade. Além disso, 54% não fazem atividades de produção de internet (blogs, sites, páginas em redes sociais).

“A gente acha que tem a ver com a falta de intimidade dos professores com a tecnologia e com a falta de formação”, diz Julia Milliet. Da mesma maneira que mostrou a Série Formação de Professores do Porvir, a pesquisa levanta a hipótese de que falta de contato com novas metodologias na formação inicial faz com que pesquisadores apontem que professores não sintam-se suficientemente seguros para implementar tais práticas com suas turmas.

Índice MidiaEdu

O índice criado para a pesquisa aponta que escolas com infraestrutura adequada e com professores aptos e seguros para orientar os alunos são aquelas que mais usam mídias em suas aulas. Também foi detectado que a maioria das escolas fundamental 2 com altos indicadores de síntese MidiaEdu tem um IDERIO (Índice de Desenvolvimento da Educação do município do Rio de Janeiro) médio acima da média de outras integrantes da rede. A representante do Desiderata prefere, no entanto, não traçar ligação direta entre o uso de mídias na educação e desempenho. “Não podemos dizer que a nota é mais alta porque [a escola] tem atividade de mídia-educação. Mas há uma maior motivação [dos estudantes] para aprender”, diz.

A segunda etapa da pesquisa, qualitativa, acontece neste ano e vai direcionar a atenção para a observação e a abordagem das práticas dentro das escolas.


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dispositivos móveis, educação mão na massa, educomunicação, ensino fundamental, formação continuada, formação inicial, pesquisas, tecnologia

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