Global Teacher Prize 2019 tem dois professores brasileiros entre os 50 finalistas
Conheça os projetos de Débora Garofalo e Jayse Ferreira, professores de escolas públicas que seguem na disputa pelo prêmio de melhor professor do mundo
por Vinícius de Oliveira 13 de dezembro de 2018
Dois professores brasileiros, Débora Garofalo, de São Paulo (SP), e Jayse Ferreira, de Itambé (PE), estão entre os 50 finalistas do prêmio Global Teacher Prize 2019, organizado pela ONG britânica Varkey Foundation. Em sua 5ª edição, o prêmio conhecido como “Nobel da Educação” garante ao vencedor US$ 1 milhão. O nome do melhor professor do ano será anunciado no Fórum Global de Educação e Habilidades, em Dubai (Emirados Árabes Unidos), no dia 24 de março de 2019.
Vencedores em edições anteriores:
2018: Professora de arte britânica fica com o troféu e cobra mais espaço para arte no currículo
2017: Canadense transforma a vida de estudantes de uma comunidade marcada por casos de suicídio
Os dois professores brasileiros foram selecionados entre mais de 10 mil candidatos de 179 países do mundo. Em comum, ambos são vencedores do último Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo MEC (Ministério da Educação), lecionam em escolas públicas e levam mais que o conteúdo acadêmico para suas aulas. As atividades lideradas por Débora e Jayse são baseadas em projetos, conectadas à comunidade e oferecem momentos para os alunos se expressarem e assumirem o papel de protagonistas de seu aprendizado. E outro ponto importante: ambos já tiveram relatos publicados na seção Diário de Inovações do Porvir, que reúne professores de todos os cantos do país.
“Ver o meu nome entre os 50 finalistas é muito importante para o reconhecimento do trabalho de todos os professores do país. A gente vê muita notícia de professor que apanhou, Escola Sem Partido…enfim, coisas que depreciam nossa profissão. Eu fico feliz que minha voz seja ouvida”, disse Jayse ao Porvir, um ex-aluno de escola pública que considera “obrigação” de atuar como professor em um mesmo ambiente.
“O conteúdo é secundário. A primeira coisa que faço em sala de aula é descobrir a potencialidade do aluno e trazê-lo para construir comigo seu conhecimento. Na chamada, eu pergunto o que cada um gosta de fazer (cantar, dançar, desenhar, etc..) e anoto ao lado de seus nomes. Em vez de só ver problemas, prefiro trabalhar com as qualidades. Por isso, os alunos são mais participativos e não faltam às aulas”, completa.
Estudo: Prestígio do professor e desempenho do aluno caminham juntos
Ao comentar sua indicação, a professora Débora também lembrou de seus colegas que diariamente estão em sala de aula. “Estar entre os 50 finalistas do mundo representa uma luta diária de milhões de professores(as) brasileiros(as) que diariamente transformam suas salas de aulas. Isso aumenta a minha responsabilidade como docente porque sou a primeira professora brasileira a estar entre os finalistas do país. Ao mesmo tempo, coloca a escola em pública em evidência ao mostrar que é possível alcançar excelência e equidade”, disse.
Para a professora, além de tirar 1 tonelada de lixo eletrônico das ruas, o projeto Robótica com Sucata fez os alunos vivenciarem na prática a aprendizagem, utilizando o conhecimento das diversas áreas do conhecimento como geografia, história, ciências, língua portuguesa e matemática. “O projeto traz em sua essência uma educação pautada além da sala de aula, integrando a escola e a comunidade ao trabalhar com sustentabilidade, programação e robótica.
Leia abaixo mais detalhes sobre os finalistas:
Débora Garofalo
Formada em letras e pedagogia com pós-graduação em língua portuguesa, Débora leciona matérias de tecnologia e robótica na EMEF Almirante Ary Parreiras. Em suas aulas com estudantes de 6 a 14 anos, a ideia é fomentar o protagonismo do aluno a partir da aprendizagem criativa, das experiências e conhecimentos prévios dos alunos e do uso reflexivo das tecnologias.
Uma amostra deste trabalho pode ser encontrada no relato que a professora Débora Garófalo enviou ao Porvir em 2016 e foi publicado na seção Diário de Inovações. “Quando assumi a sala de informática, os alunos só queriam jogar, mas com o passar do tempo, mostrei pra eles que o laboratório tem outras finalidades, e que o computador não é um instrumento final, mas faz parte do processo”, contou a professora.
Seu projeto de robótica começou driblando a falta de kits com materiais de sucata, como garrafas, tampinhas e canudos servem como ferramentas para construir carrinhos e brinquedos automatizados. Mais de uma tonelada de material eletrônico já foi usada nas aulas de Débora.
O projeto de Débora acumula uma série de reconhecimentos recentes. No último mês de novembro, ela foi vencedora do Prêmio Professores do Brasil e, além disso, a metodologia criada por ela foi incluída nas diretrizes de formação adotadas pelo CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira) e serve como referência para outros professores interessados em educação mão na massa. Débora também foi finalista de Aprendizagem Criativa da Fundação Lemann/MIT Media Lab e do Prêmio Claudia na categoria políticas públicas.
Para disseminar a prática em outras escolas, ela já realizou formações no Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Foz do Iguaçu (PR), Salvador (BA), Recife (PE) e Manaus (AM).
Jayse Ferreira
O professor Jayse Ferreira é formado em educação artística e possui pós-graduação em psicopedagogia. É professor há 10 anos e já comandou turmas de ensino fundamental 2, ensino médio e EJA. Atualmente leciona educação artística na Escola de Referência em Ensino Médio Frei Orlando, em Itambé (PE). Em 2014, foi vencedor da categoria ensino médio do Prêmio Professores do Brasil com o projeto “Eu sou uma obra de arte: etnias do mundo”, que trabalha a valorização das diversas etnias dos alunos por meio de fotografias.
O trabalho começou a partir de uma conversa informal com os estudantes, que tinham dificuldade para se enquadrar no quesito raça ao responder o questionário socioeconômico do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Na internet, descobriu o livro de fotografias “Face a face, uma jornada por povos do mundo”, de Alejandro Szanto de Toledo (publicação independente), que retratava costumes de povos dos cinco continentes. Os alunos repararam como seus traços eram semelhantes aos daqueles povos. O professor, então, os convidou a buscar na escola traços de outras etnias.
Na parte prática do projeto, cada aluno foi devidamente caracterizado e fotografado segundo a etnia com que mais se assemelhava – havia a ruiva “escocesa”, o negro da Namíbia, etc. As atividades e o trabalho de autoconhecimento com os alunos desfez a ideia de que uma raça é mais importante ou mais interessante que a outra. Ao final do projeto, a escola registrou diminuição da evasão escolar e os alunos obtiveram acolhimento e respeito independentemente de suas características físicas.
Jayse também teve um outro projeto, sobre cultura pop, publicado pelo Porvir. Para ampliar conhecimento artístico, estudantes produziram curtas-metragens baseados em livros ou jogos que gostavam, tais como Harry Potter, Percy Jackson, Minecraft e LOL (League of Legends). Alguns desses vídeos chegaram a mais de 20.000 acessos no YouTube.