Novas capacidades treinam para torneio de ensino técnico - PORVIR
Crédito: WorldSkills International

Inovações em Educação

Novas capacidades treinam para torneio de ensino técnico

Preparação da equipe brasileira da WorldSkills, que acontece pela 1ª vez no país, teve foco em competências para o século 21

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 14 de agosto de 2015

Imagine 1200 jovens distribuídos por 213 mil metros quadrados e competindo em 50 ocupações diferentes. Essa é a realidade da 43ª edição da WorldSkills Competition, o maior evento de educação profissional do mundo. Pela primeira vez realizado no Brasil, a competição acontece no Anhembi Parque, em São Paulo, que recebe 62 delegações de países dos cinco continentes, de quarta-feira (12) a sábado (15).

Uma iniciativa do SENAI, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da WorldSkills International, a prova acontece de dois em dois anos e, durante a mesma, alunos do ensino técnico competem em seis áreas diferentes, realizando tarefas semelhantes às que executariam no setor industrial ou de serviços. Ao todo, as 50 ocupações envolvem desde robótica e mecatrônica até jardinagem e paisagismo e florista. A equipe brasileira tem representantes em todas as competições, contando com 56 jovens de até 22 anos.

As competências para o século 21

Para essa edição, a preparação da equipe brasileira teve algumas novidades. A delegação  contou, pela primeira vez, com o auxílio de peritos internacionais para ajudar os instrutores na orientação dos jovens. As áreas trabalhadas foram aquelas que o Brasil ainda está em desenvolvimento, como construção civil, pintura automotiva e instalações elétricas.

Segundo o gerente-executivo de educação profissional e tecnológica do SENAI, Felipe Morgado, a capacitação dos instrutores brasileiros (que na competição têm o nome de experts) com profissionais de outros países foi importante para a montagem de um plano de treinamento bem estruturado e para a valorização do trabalho emocional com os alunos. Em edições anteriores, essa preparação era, em sua maioria, técnica. “Para esse ano, nós trabalhamos muito a motivação e o lado emocional dos competidores. Essas questões eram abordadas na véspera das provas, quando os jovens já estavam na concentração. Dessa vez, tivemos um time de psicólogos, que realizaram trabalhos com os competidores a fim de entender qual é o limite de cada um”.

cortadaworld3Crédito: Maria Victória Oliveira

 

Morgado defende ainda que o desenvolvimento das competências para o século 21 foi um dos norteadores do processo de treinamento. “Nós buscamos a resolução de problemas a todo tempo. A criatividade e a capacidade de planejamento também são muito importantes, já que as provas são surpresa”. Entretanto, ele afirma que nem tudo gira em torno da competição. “Essas competências não se referem a eventos, e sim a processo educacional. São capacidades que temos que desenvolver para a vida pessoal e profissional”.

Meninas ainda são minoria

Dos 56 competidores da delegação brasileira, apenas seis são meninas. Uma delas é Fabiana Bonacina, de 21 anos. Natural de Pompéia, uma cidade de 21 mil habitantes do interior de São Paulo, ela alega que escolheu a manufatura integrada por acaso. “Eu comecei a fazer o curso de mecânica de usinagem sem nem saber direito do que se tratava”, brinca. Ela usou a vontade de trabalhar para começar a estudar. “Eu tinha 14 anos e queria trabalhar de qualquer jeito. Como a minha cidade é muito pequena, só tinha esse curso na minha escola. E, fazendo as aulas, eu conseguiria um emprego na empresa de maquinário agrícola que domina a região”.

cortadaworld1Crédito: Maria Victória Oliveira

 

Depois de concluir sua formação, ela foi convidada a participar da etapa estadual na Olimpíada do Conhecimento, em 2013, quando conquistou a medalha de prata. No ano seguinte, participou da competição nacional, onde conquistou o ouro.

Mesmo sendo um setor pouco escolhido pelas meninas, ela diz que nunca sofreu preconceito ou pensou em desistir da área. “As pessoas só ficam surpresas e falam ‘Ah, você é a menina que opera a máquina? Que legal’”. Quando questionada sobre o trabalho de homens e mulheres, ela defende que não há diferenças. “Minha única limitação é pegar peso”.

Em algumas competições, como a de mecatrônica, a equipe da Arábia Saudita era a única formada por uma dupla de mulheres. Outros times, como o indiano e o do Reino Unido, também tinham competidoras.

cortadaworld2Crédito: Maria Victória Oliveira

 

Apesar disso, Tania Cristina Luciano e Danilo Yoneshige, professores de robótica do colégio Dante Alighieri, de São Paulo, defendem que há um crescimento do interesse feminino por áreas tecnológicas. “Hoje, a proporção é de 75% de meninos para 25% de meninas. Parece muita diferença, mas se pegarmos o histórico de 2001, a proporção chegava a 95% contra 5%”, comenta Yoneshige.

A escola faz um trabalho de conscientização das alunas, chamando-as para o curso extracurricular. “As alunas que fazem robótica trazem as amigas. Mas nós fazemos um trabalho de divulgação com vídeos delas nas aulas”, ressalta Tania. As competições relacionadas ao tema têm contribuído para aumentar o público feminino na área, mesmo que de forma tímida. “Os meninos passam a reconhecer a importância da habilidade, da calma, da tranquilidade e das dicas das meninas”.

Mudança de rumo

Uma das histórias curiosas da delegação brasileira é a de Alef Souza. Quando já estava no curso técnico de edificações no SENAI de Belo Horizonte, ele começou a cursar a faculdade de direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Quando questionado sobre a grande diferença entre as áreas, ele ressalta o quanto o paisagismo é importante em sua vida. “Essa área me cativou. É muito bonito como conseguimos encantar as pessoas através do jardim e como ele consegue traz paz de espírito”.

Quando ganhou a etapa nacional da Olimpíada do conhecimento em Jardinagem e Paisagismo, teve que escolher entre continuar a faculdade ou mudar para Brasília, a fim de treinar para a WorldSkills, na etapa internacional. “Eu optei por representar o Brasil na competição. E apesar de ser jubilado da faculdade, não me arrependo do que fiz”.

Quando a competição acabar, Alef alega que gostaria de iniciar a faculdade de Arquitetura e urbanismo. “Eu gosto muito do direito também, mas fazer as duas faculdades ao mesmo tempo é muito difícil. Ainda estou bem dividido”, comenta.

Segundo um dos treinadores da equipe brasileira, Anderson Scalassara, a vantagem dos cursos técnicos é a possibilidade de experimentação. “Os jovens têm muitas dúvidas sobre que profissão seguir, o que é normal. Os cursos técnicos permitem essa experimentação. Se o estudante fizer um curso com 14 anos e perceber que não gostou da área, pode mudar sem problemas. O aluno formado ganha o piso salarial sem ter ensino superior. A partir desse salário, poderá investir em uma faculdade”.


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competências para o século 21, educação mão na massa, ensino técnico, robótica, tecnologia

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