Novo plano de tecnologia oferece mais opções e exige colaboração
Atualização da rede de internet e aquisição de computadores vai exigir plano que leva em conta visão sobre a importância da tecnologia, formação de equipes, recursos digitais e da infraestrutura
por Vinícius de Oliveira 31 de janeiro de 2018
Sai a política do pacote fechado e único para todas as escolas e ganha espaço um modelo mais flexível e adaptado às necessidades dos alunos. Se de um lado tenta atender a uma antiga demanda, por outro cobra esforço e maior de colaboração da gestão pública. É isso o que está previsto no desenho do plano Educação Conectada anunciado pelo governo federal no final de 2017 e que começa a ter os primeiros desdobramentos. Para entender como diferentes setores dos governos estão se movimentando para avançar em relação ao PBLE (Plano Banda Larga nas Escolas), que em 2018 completa 10 anos de vida, o Porvir conversou com representantes do MEC (Ministério da Educação), do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), organização que foi parceira técnica na elaboração do plano.
De acordo com a nova política de tecnologia, as ações dos diversos níveis da administração pública precisam levar em conta quatro dimensões, aliás, as mesmas que constam na seção infraestrutura do guia Tecnologia na Educação publicado pelo Porvir em 2016, também com apoio do CIEB. São elas: visão, formação, recursos educacionais digitais e infraestrutura (clique para acessar o guia). Com elas em mente, gestores estaduais, municipais e escolares devem rodar um diagnóstico dentro de suas redes para avaliar o uso da tecnologia e criar um plano de inovação.
– Veja lista de perguntas e respostas sobre o plano Educação Conectada
– Conheça o guia Tecnologia na Educação do Porvir
Segundo Renilda Peres de Lima, diretora de apoio às redes de educação básica do MEC, no relatório devem ser descritas todas as ações que serão desenvolvidas para inserir alunos, professores e gestores no ambiente de cultura digital. “O plano precisa responder como o gestor, o professor ou a escola desejam ampliar o acesso tanto do aluno quanto do professor a recursos e práticas inovadoras”, diz.
Em 2016, o CIEB rodou em 14 estados e no Distrito Federal uma versão semelhante à ferramenta de diagnóstico que será adotada dentro do Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do MEC descobriu que infraestrutura é o principal gargalo (somente 3% das escolas contam com computadores dentro de todas as salas de aula) e a formação limita o uso da tecnologia durante as aulas (69% dos professores utilizam tecnologia apenas para preparar as aulas ou fazer apresentações).
Para redes que por iniciativa própria decidiram contratar um serviço mais rápido que os 2 Mbps oferecidos pelo PBLE e renovar os computadores em uso nas escolas, a diretora do MEC afirma que a intenção não é sobrepor, mas sim coordenar ações. “Tivemos um ano de discussão e maturação das propostas já existentes nos entes federados (estados e municípios) para aproveitar as políticas locais e levar assistência técnica e financeira para que a política de tecnologia seja colocada em prática com sustentabilidade”, diz Renilda. Essa parceria, segundo ela, é importante especialmente para a esfera municipal. “Existem muitos municípios com quadro reduzido de funcionários, escolas de difícil acesso e poucos recursos técnicos e financeiros, o que resulta em dificuldades para desenhar uma política local”, avalia.
Ao longo de 2018, o governo federal prevê investir R$ 255,5 milhões na atualização da infraestrutura e da conexão das escolas, o que inclui a ampliação da rede terrestre de banda larga, serviços de conectividade, infraestrutura de wi-fi, compra de dispositivos e aquisição de um satélite que vai levar internet de no mínimo 10 Mbps a escolas da zona rural.
Formação de professores e gestores
Como detectado pelo CIEB, a formação é um ponto crítico dentro da estrutura de tecnologia escolar e, pela proposta do Educação Conectada, serão criadas estruturas de articulação e coordenação dentro das redes para planejar e implementar com os gestores e professores as quatro dimensões previstas no plano. “O MEC está preparando um curso online em parceria com o CIEB para formar os articuladores e coordenadores. O sistema foi desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás e já está indo para o ar para que os articuladores comecem os trabalhos nas próximas semanas”, diz Mairum Andrade, superintendente de inovação do CIEB. De acordo com as regras do programa, deve haver pelo menos um articulador local por ente federativo.
Segundo o MEC, cursos específicos para professores ainda estão em fase de desenvolvimento por universidades públicas. Na formação inicial, os currículos para o uso pedagógico da tecnologia terão obrigatoriamente que conversar com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Enquanto isso, na formação continuada, a formação online deve ter trilhas alinhadas à BNCC e também cursos específicos sobre práticas mediadas por tecnologia ou voltadas outros recursos educacionais, como robótica.
Novos equipamentos
Desenvolver novas metodologias para diversificar o ensino vai exigir um novo esforço para renovar os equipamentos presentes nas escolas. Se na década passada a política foi pautada pelo acesso, agora, segundo Andrei Elias Amaral, assessor da diretoria de tecnologia do FNDE, a intenção é adquirir máquinas mais robustas, que tenham maior expectativa de vida, garantia ampliada e permitam o uso de simuladores e tarefas que vão além da simples pesquisa na internet – e não apenas em laboratórios, pois deve ser estimulado o uso de carrinhos de recarga que chegam com tablets e notebooks até a sala de aula.
Outra novidade é a abertura de uma frente para que seja possível aproveitar o dispositivo dos alunos (celulares, tablets ou computadores), com o devido monitoramento do acesso.
“Com um registro do aluno, usuário e senha, mesmo que o aluno use um dispositivo próprio, será possível rastrear o que ele está acessando. Antes, o FNDE recebia denúncias (de mau uso) e não havia como atender. Hoje, isso é obrigatório por conta do Marco Civil da Internet”, diz Amaral.
Para que isso seja possível, o antigo roteador que em muitas escolas fica perto da porta de entrada, precisará dar lugar a equipamentos mais completos. “É um salto qualitativo que é essencial. Estamos pensando em firewall, controle de acesso, filtro de conteúdo, com métricas para ver se a internet que chega corresponde a que foi contratada”, explica.
Uma audiência pública com as especificações aprovadas por um comitê de tecnologia do FNDE deve ser lançada em março. Por conta do período eleitoral e das regras que impedem novas contratações a partir do meio do ano, o representante do FNDE preferiu não antecipar a abertura de novos editais.