Mexer em lama e em minhocas rende prêmio a escolas
Brincadeiras tradicionais são resgatadas por instituições de educação infantil e consideradas parte importante do aprendizado
por Vagner de Alencar 30 de abril de 2012
Crianças de até 6 anos e professores brincam juntos em uma caixa de lama e tomam banho de mangueira na escola municipal Professora Gláucia de Melo Santos Pontes, em Itapeva. A quase 300 km dali, em Embu das Artes, alunos sobem em árvores e mexem com minhocas na terra do Jardim Waldorf Espaço Bem Viver. Com práticas simples, que valorizam no currículo uma forma de brincar tradicional, essas duas escolas paulistas de educação infantil foram as grandes vencedoras do prêmio Programa pelo Direito de Ser Criança, concedido pela Unilever.
Em sua quarta edição, o evento premiou outras 18 escolas de todo o país com os selos Aqui se Brinca e Aqui se Aprende, numa seleção com outras 724 candidatas. Os jurados elegeram as instituições que mais se destacaram em fazer do livre brincar um momento de aprendizagem.
“Hoje, as escolas têm pouco espaço para que as crianças brinquem. Embora as pessoas tendam a ver a brincadeira como um lugar à parte, é justamente nesses momentos que acontece boa parte do processo de ensino-aprendizagem”, afirma Marcos Ferreira Santos, professor de Educação da USP (Universidade de São Paulo) e membro da Aliança pela Infância. O alerta de Santos é mais uma voz na discussão sobre a importância de se resgatar a prática de brincadeiras simples na era dos tablets (veja mais aqui).
“É na primeira infância que se prepara o ser humano. Quanto antes você trabalha com a natureza, mais cedo você desperta na criança esse respeito pelo ambiente”, afirma Maria Cecília Bonna, diretora da escola de Embu das Artes, que tem até um minizoológico, com ovelhas, galinhas e outros bichos, com os quais as crianças têm contato.
Para Bonna, é preciso que as crianças sejam crianças e que lhes seja dada a oportunidade de fugir da estrutura tradicional em que o aluno só consegue aprender se sentado numa carteira. “Hoje a gente tem um mundo com muitas ideias, mas poucas pessoas põem a mão na massa. Mostramos para eles que é preciso fazer! Os meninos fazem o pão, cuidam da horta, reciclam, fazem a compostagem”, afirma a diretora.
Democracia infantil
Na escola de Itapeva, a quebra desse paradigma começou há sete anos, quando os professores optaram por adotar uma nova metodologia curricular preocupada em fazer de cada espaço da escola um locus de aprendizagem. Na Professora Gláucia de Melo Santos Pontes, são os alunos de 2 e 6 anos que administram o rodízio dos espaços e escolhem onde querem e do que querem brincar.
Para a diretora da escola, Maria Angélica Oliveira, a prática do brincar é uma construção muito significativa também para o adulto. “Ele tem de se transformar, modificar relações e a sua integração com as crianças”, diz. Por isso, a coordenadora Claudinéia Fraletti convida os pais para conhecer a rotina e a metodologia da escola. “Eles ficam receosos, então a gente procura acolher esse sentimento, e, a partir daí, também acolhê-los”, diz a coordenadora.