Design thinking modifica experiência de aprendizado
Metodologia, que busca inovar na resolução de problemas, se baseia em empatia, colaboração e experimentação
por Patrícia Gomes 6 de fevereiro de 2013
Pedaços de papel coloridos espalhados pelas paredes, móveis com rodinhas e formatos flexíveis para comportar diferentes tipos de atividade; pessoas sentadas no chão, tentando fazer uma coisa, ainda sem nome, funcionar. Ambientes com tais características foram, aos poucos, se tornando mais e mais comuns em empresas pelo mundo que aderiam ao Design Thinking. Hoje, a metodologia tem extrapolado o universo corporativo e chega também a universidades e escolas, modificando a experiência de aprendizado. “O design thinking é uma provocação que gera ideias, traz curiosidades, que faz você ir atrás do conhecimento. É um novo processo de aprendizagem, é o aprender fazendo”, diz Ricardo Ruffo, cofundador da Escola de Design Thinking, que abre em São Paulo a sua primeira turma em março.
O termo Design Thinking, que começou a ser usado na década de 90, não tem uma tradução perfeita para o português. Em inglês, o verbo “to design” remete a projetar; já “thinking”, a pensamento. Na prática, o design thinking é uma forma de abordar e solucionar problemas a partir de propostas inovadoras, fora da caixa. E como problema é algo que acontece em todas as áreas do conhecimento e da vida, a metodologia pode ser usada em qualquer circunstância.
Apesar dessa flexibilidade de poder ser usado em diferentes situações, não é qualquer coisa que é design thinking, alerta Ruffo. “As pessoas acham que, para fazer design thinking, é só jogar uns post-its na parede. Nãããão”, diz ele, que usa em sua escola um processo que envolve oito etapas. A partir de um problema, pessoas de diferentes formações se reúnem, estudam o que está acontecendo, vão às ruas analisar o que outros pensam a respeito, chegam a um denominador comum, fazem um protótipo – “sujo, barato e rápido”, brinca Ruffo – para solucionar a questão e o testam. Em qualquer momento, elas podem refazer etapas anteriores na busca de um melhor resultado.
Transportando esse sistema para o ambiente escolar, o design thinking pode ser uma ferramenta usada para desenvolver habilidades em crianças de qualquer idade, em todas as disciplinas. Aliás, melhor ainda se envolver várias disciplinas ao mesmo tempo. Explica-se: um dos três pilares do design thinking é justamente o envolvimento de equipes multidisciplinares, o que pode ser verificado no cotidiano escolar a partir de uma atividade que envolva professores de diversas áreas e alunos de diferentes idades. Os outros dois pilares, que também têm utilidade clara em sala de aula, são os espaços flexíveis e a abordagem, que prima pelo diálogo para divergência e convergência de ideias.
E nisso acontece não só escolas. Na Universidade de Stanford, uma das responsáveis por fazer o movimento fervilhar em todo o mundo, um grupo se reuniu em 2005 e lançou a D-School. O espaço recebe alunos de todas as áreas da universidade para que eles discutam e encontrem soluções para os seus problemas a partir do design thinking. Hoje já há universidades com institutos ou departamentos dedicados ao tema em todo o mundo, especialmente EUA e Europa.
O design thinking tem aplicação muito clara nas salas de aula, acredita Ruffo, porque seus três valores em muito se conectam com algumas tendências da educação. Experimentação, colaboração e empatia, que ocorrem ao longo de todo o processo de resolução de problemas, também são habilidades requeridas no aprendizado baseado em projetos. “Não dá para aprender design thinking se não for por aprendizado baseado em projeto, o que é tendência em escolas do mundo todo”, diz Ruffo.