Khan Academy vai chegar a mais brasileiros
Parceria com Fundação Lemann e aproximação com o governo federal devem facilitar acesso a videoaulas de Salman Khan
por Redação 18 de janeiro de 2013
Se o Brasil já era um dos países que mais acessa a Khan Academy no mundo, depois da passagem de Salman Khan por aqui, a tendência agora é que esse fluxo aumente. E essa expectativa não é a toa. Primeiro, o governo tentou uma aproximação com o educador americano propondo que ele participasse de iniciativas federais e prometendo usar mais suas aulas na rede pública. Na sequência, a Fundação Lemann fechou uma parceria global que deve permitir que mais vídeos sejam traduzidos e que o conteúdo seja adaptado para a realidade brasileira. Além disso, o educador ainda carimba seu passaporte de volta para os Estados Unidos deixando uma semente plantada: a educação não pode ser como antes e será preciso reavaliar o espaço físico das escolas, os processos de certificação e avaliação. Grandes mudanças estão por vir, ele garante.
“Os problemas dos EUA e do Brasil são muito parecidos. Mas lá, não há tanta fome de mudança como estou vendo aqui. Em dez anos, espero que o Brasil seja um caso a ser estudado”, disse Khan, que revelou os planos para a sua plataforma. “Estamos começando muito seriamente a trabalhar com a internacionalização e a regionalização do conteúdo. Temos as duas melhores pessoas do mundo nisso conosco”, disse ele. Apesar de que, “no fim das contas, matemática é matemática”, como brincou o educador, a Khan Academy propõe uma adaptação para que suas ferramentas se aproximem dos mais diferentes currículos nacionais.
Neste ponto, com a ajuda da Fundação Lemann, o trabalho para o conteúdo brasileiro está começando. Até agora, a Lemann já traduziu 400 vídeos para o português e a previsão é que, nos próximos meses, esse número chegue a 1.000. A parceria, que deve durar cinco anos, não só vai acelerar o processo de tradução, mas também vai trabalhar na adaptação dos currículos para realidades nacionais, brasileira e de outros países. “Vamos beneficiar o Brasil e outros lugares do mundo”, disse Denis Mizne, diretor-executivo da fundação ao anunciar o acordo.
Além dessa expansão, outra perspectiva com a qual Khan vem trabalhando é a de melhorar suas ferramentas de avaliação. Por enquanto, além dos vídeos (se você quiser saber mais como são as aulas, confira o infográfico que o Porvir produziu), a plataforma tem também exercícios de matemática. A intenção é que eles consigam avançar para outras disciplinas, com o desafio de incluir também questões de humanas – área em que Khan começou a se aventurar mais recentemente.
Sementes plantadas
A discussão de como adaptar as ferramentas que vem desenvolvendo a necessidades atuais do ensino permeia toda a fala de Khan. Para ele, os processos educativos devem se tornar cada vez mais personalizados e atentos às capacidades individuais. Por isso, entre as mudanças que defende para o futuro da educação está o fim das salas divididas por série e das aulas organizadas por disciplinas. “Por que não ter, no lugar de um professor falando para 30 alunos, sete professores interagindo com 200 alunos num salão onde cada aluno aprende no seu ritmo?” Apesar de polêmica, a proposta do educador não é futurista: Khan se refere a salas de aula que já existem pelo mundo e que estão sendo apontadas como tendência por outros especialistas como é o caso da escola Campos Salles, de Heliópolis, já apresentada pelo Porvir.
Khan ousa ainda provocar discussões sobre os diplomas e o caro ensino superior americano. Para ele, o diploma deve perder a importância, já que “diz pouco a respeito das reais competências de uma pessoa”. O ideal, diz ele, seria criar avaliações específicas para diferentes habilidades que certificassem se a pessoa sabe programar ou se é um bom comunicador, por exemplo. “Quando vamos contratar uma pessoa, geralmente escolhemos aquela que tem uma boa universidade no currículo, mas isso não garante que ela tenha determinadas habilidades que você procura. Escolhemos um aluno de Harvard porque é Harvard, não necessariamente porque ele é melhor, o que aumenta a desigualdade.”
Com essas certificações por competências, sugere Khan, seria possível diminuir a desigualdade de acesso. “Um aluno de Harvard ou uma pessoa que aprendeu on-line ou na vida teriam a chance de obter a mesma certificação. O que, provavelmente, também diminuiria os altos custos das grandes universidades que estariam competindo com outras formas de aprendizado gratuitas.”