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Um caçador de talentos especiais

Thorkill Sonne diz que algumas funções em TI são mais bem executadas por autistas; sua meta é alocar 1 milhão no mercado

por Patrícia Gomes ilustração relógio 15 de fevereiro de 2013

Thorkill Sonne é um caçador de talentos. Sua missão é encontrar, treinar e apresentar ao mercado as melhores pessoas para preencher vagas que nem sempre encontram candidatos à altura. São especificamente funções na área de tecnologia da informação que demandam profissionais com um grande poder de concentração e muita atenção aos detalhes. Na busca por esse perfil e mobilizado por um drama pessoal, Sonne se deu conta de que um grupo normalmente relegado às margens do mercado de trabalho – e, às vezes, até da sociedade – era capaz de desempenhar essas atividades melhor do que ninguém: as pessoas com autismo. Ali, no que a maioria das pessoas via desvantagem, Sonne percebeu uma oportunidade justa de crescimento e quer alocar 1 milhão de profissionais no mercado de trabalho.

“Se alguém tem algum tipo de desordem, como autismo, as pessoas simplesmente não esperam nada dela. Mas ela pode ser muito mais esperta do que se pensa. Nós ajudamos pessoas, empresas e governos a pensar a partir dessa perspectiva”, diz Sonne, fundador da Specialisterne (especialista em dinamarquês), uma empresa da área de TI que avalia, capacita e forma consultores com autismo, oferecendo-lhes a oportunidades de ter uma vida produtiva. Entre as atividades que os “especialistas” de Sonne são capacitados a fazer estão desde a manipulação de dados, o teste da funcionalidade de aplicativos, até a programação e a construção de algoritmos. Parte disso ocorre, frisa ele, porque muitos autistas têm capacidades profissionais únicas. “Muitas vezes, eles têm uma memória excelente, uma ótima habilidade de perceber padrões e uma incrível capacidade de encontrar alegria ao desempenhar funções que a maior parte das pessoas acharia chato”, enumera Sonne.

crédito beeboys / Fotolia.com

A ideia de fundar a Specialisterne teve princípio em uma observação profissional. Sonne sempre se incomodou com a falta de mão de obra especializada que a empresa onde trabalhava – e viria a se tornar a sua primeira cliente – enfrentava rotineiramente. Mas foi uma razão pessoal que fez Sonne perceber quem seriam as pessoas ideais para preencher essa lacuna. Aos dois anos de idade, seu filho Lars, hoje adolescente, foi diagnosticado com autismo. Até então, Sonne e sua mulher nunca tinham tido contato com o assunto. “Primeiro, não sabíamos o que fazer. Depois, começamos a ler livros, conhecer pessoas”, conta ele. Com o tempo, foram percebendo que Lars tinha uma memória fora do comum e que, entre crianças e jovens autistas, muitos tinham capacidades que poderiam ser aproveitadas no mercado de trabalho, se bem trabalhadas. Estava aí a chave da mudança. Sonne pediu demissão, hipotecou a casa, elaborou uma metodologia de trabalho e fundou a Specialisterne.

“Nós não ensinamos a eles como ‘se comportar bem’. Eles não precisam se adaptar às regras normais de um ambiente de trabalho”, afirma Sonne. Seus “especialistas” não são obrigados a serem bons em atividades que vão contra a sua natureza, mas apenas desempenhar bem determinadas funções para as quais têm destreza, o que lhes garante sustentabilidade no emprego. “Eles não precisam aprender a se adaptar às regras normais de ambientes de trabalho, como ser bom em trabalho de equipe, ser empático, lidar bem com o estresse ou ser flexível. Essas não são características normais em pessoas com o autismo”, diz a empresa em seu site. Por isso, parte do trabalho da Specialisterne é também preparar a empresa para receber seus especialistas em sua equipe.

Meta ousada

Quase uma década depois do início de sua atuação, Sonne não tem mais apenas uma empresa na Dinamarca. Ele já atua em países como Noruega, Áustria e Estados Unidos. Mais recentemente, além do trabalho direto com as pessoas com autismo, ele lançou a Fundação Specialist People cujo objetivo é falar para pessoas, organizações e governos sobre o assunto e para fazer seu modelo replicável pelo mundo. “Faz parte da nossa estratégia ter o nosso modelo copiado. A gente gosta quando isso acontece”, diz ele.

Com toda essa rede de apoios, Sonne determinou uma meta ousada: colocar 1 milhão de pessoas com no mercado de trabalho. Para chegar a esse número, Sonne fez uma conta simples. Não há pesquisas inteiramente confiáveis, mas calcula-se que, no mundo, cerca de 68 milhões de pessoas tenham autismo e outras tantas tenham sido diagnosticadas com desordens similares. Todos eles são “especialistas” em potencial. “Ao colocar essas pessoas no mercado de trabalho de maneira sustentável, criamos esperança para milhares de pessoas. Vemos famílias felizes, pessoas com autismo aparentemente tendo uma boa vida. É para isso que trabalhamos”, afirma Sonne.


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carreira, inclusão, tecnologia

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