Vínculo com alunos em redes sociais ajuda professora a manter atividades na quarentena - PORVIR
Crédito: Arquivo pessoal

Diário de Inovações

Vínculo com alunos em redes sociais ajuda professora a manter atividades na quarentena

Ter uma página no Facebook para divulgação de trabalhos e acolher os alunos foi a estratégia de Márcia Bacic para manter engajamento mesmo durante o fechamento da escola

por Marcia Cristina Bacic ilustração relógio 22 de abril de 2020

Sou professora de ciências, biologia e química do ensino fundamental 2 e médio. Desde quando começou o processo de suspensão das aulas, foi tudo muito novo. Houve a recomendação do governo do estado de São Paulo para que as escolas interrompessem suas atividades gradualmente e nós perdemos o contato com os alunos.

A escola é um referencial para grande parte das crianças e adolescentes. Quebrar a rotina dessa forma não é legal. Quando vamos entrar de férias, por exemplo, tem uma preparação porque você já sabe que aquele período está chegando. Então para o relacionamento que vínhamos construindo com os estudantes, é melhor tentar manter o vínculo.

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Na minha experiência com educação a distância – já fui tutora de EAD na escola de formação de professores para os cursos de currículo e prática docente de biologia –, aprendi que simplesmente dar um “oi” ou se colocar à disposição para conversar faz com que os alunos participem mais e, assim, haja menos desistência.

Eu já tinha esse contato com alguns alunos pelas redes sociais, e isso facilitou que conseguisse atingir as pessoas nesse período de recesso. Nas atividades em sala de aula, costumo tirar foto dos trabalhos e até dos cadernos quando lições estão caprichadas e posto em uma página que tenho no Facebook com os alunos. Eles veem suas produções, marcam os colegas e cobram que eu poste, pois se sentem valorizados por aquilo que produzem.

Para o ensino médio, criei salas de aula virtuais no Google Classroom, que é ótimo para ter um ambiente virtual de aprendizagem onde posso disponibilizar atividades, colocar nota e dar feedback (retorno avaliativo) para os alunos, além de usar o Google formulários para questões objetivas de treino de vestibular.

Tenho encontrado certa resistência entre as famílias porque leva um tempo para pais e alunos aderirem à ideia. Alguns vem me perguntar porque eu inventei algo “tão difícil”. Nesses casos, eu faço um passo a passo e, quando conseguem entrar na plataforma, percebem que é algo mais organizado e fácil de trabalhar.

No ensino fundamental, apesar de não ter recebido diretrizes para enviar atividades, já tinha passado trabalhos que os estudantes deveriam entregar durante a quarentena, como a construção de uma maquete de máquina simples. Fiquei pensando que aquilo ocuparia espaço nas casas e iria desbotar. Então aproveitei meu contato nas redes sociais e solicitei que, quem já tivessem feito, tirasse uma foto ao lado da maquete – para me certificar de que não estavam pegando fotos da internet – e me mandasse.

Nesse momento, estou focando em atividades que eles podem fazer aproveitando o que têm dentro de casa, sem precisar sair para comprar nada. Para o oitavo ano, pedi que desenhassem a planta de casa, distribuindo aparelhos elétricos e tomadas para que possamos trabalhar eletricidade e consumo de energia.

Crédito: Arquivo Pessoal

Esses mecanismos que as tecnologias oferecem são muito ricos. É algo que dentro de sala de aula não dava para fazer, porque eu trabalho em uma região pobre, onde não há acesso universal a computadores e tablets na escola. Ainda não temos solução para aqueles que não têm acesso a internet. O estado ofereceu um aplicativo que usa os dados apenas na hora do login, só que não são todos os alunos que têm celulares ou tablets para acessar. Aqui no interior e em regiões de zona rural, o sinal de telefonia não chega em alguns locais.

Mas, mesmo que sejam enviados materiais impressos, será que o aluno vai conseguir aprender sem a mediação do professor? Eu pego o exemplo daqui de casa. Tenho um filho no ensino médio que precisava fazer uma atividade de progressão aritmética. Eu estudei o assunto na escola e estou em um estrato da sociedade que têm ensino superior, mas mesmo assim foi difícil ajudá-lo.


Marcia Cristina Bacic

Graduada em ciências biológicas, mestre e especialista ensino de ciências pela Universidade de São Paulo (USP), e professora da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo nas disciplinas de biologia, química e ciências em Jacupiranga, no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo.

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coronavírus, educação mão na massa, ensino fundamental, ensino médio, tecnologia

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