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Universidade renuncia infraestrutura – e tudo bem

No Projeto Minerva, a ideia é que os alunos usufruam dos recursos que as cidades têm de melhor para oferecer

por Fernanda Kalena ilustração relógio 17 de março de 2014

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A pretensa universidade dos sonhos vai ser bastante diferente das tradicionais. Não vai ter biblioteca, centro esportivo, museu, academia, nem dezenas de cafeterias espalhadas pelo campus. E ainda vai ter um custo bem mais acessível do que as faculdades de elite norte-americanas. Para viabilizar isso, Ben Nelson, CEO do Projeto Minerva, diz que a universidade vai utilizar os ótimos recursos disponíveis nas cidades por onde seus alunos vão passar e, com isso, reduzir custos, sem perder a qualidade. O projeto é uma nova proposta de ensino superior que vai reunir jovens talentosos do mundo todo para estudar juntos e de forma itinerante em várias cidades do globo durante quatro anos.

“Investir em instalações e demandar que os alunos paguem por elas é completamente desnecessário”, argumenta Nelson. Para ele, os alunos pagam por infraestruturas que muitas vezes não utilizam e também arcam com toda uma gama pesquisas acadêmicas que não veem os benefícios ou resultados. “No lugar de tudo isso, o que as universidades deveriam fazer é aproveitar o mundo ao redor delas, não replicar o que já existe”, completa.

Segundo o economista, grandes museus e bibliotecas, tanto de universidades quanto de cidades, devem ser aproveitados por toda a comunidade, não havendo necessidade de cada instituição ter o seu, gastar com esses investimentos e repassar os custos para os estudantes que pagam valores que classifica de exorbitantes. “Faz mais sentido aproveitar o que já está por aí. Se não forem oferecidas todas essas coisas, o preço da universidade cai drasticamente, o que aumenta o acesso a educação superior. O Minerva vai ter acesso aos melhores museus do mundo e às melhores bibliotecas, mas não vamos pagar para tê-los, pois eles já existem”, completa.

Segundo Nelson, esse é um dos principais gargalos do ensino superior – nos EUA, onde a maior parte do ensino superior é privado e as melhores universidades cobram anuidade de cerca de US$ 60 mil, o endividamento estudantil é um assunto de Estado. Mas, para ele, o motivo pelo qual o modelo de universidade atual não funciona muito bem também se deve a outros dois fatores: a falta de perspectiva pedagógica e a necessidade de um currículo mais bem estruturado.

O especialista afirma que as instituições de ensino superior gastam hoje grande parte do tempo disseminando informação, ensinando estudantes conhecimentos básicos, em cursos de nível introdutório, e que as tecnologias estão crescendo com força para mudar isso. “O fato é que hoje todas as tecnologias de ensino adaptativo e os Moocs se tornaram maneiras melhores de as pessoas aprenderem informações básicas e com uma ótima relação custo-benefício”, argumenta. Para ele, as universidades vão ter que repensar o modelo de aprendizado, adotando algo que seja mais interativo e ativo, como seminários – momentos em que grupos menores de estudantes têm as discussões fomentadas pelo professor, ao invés de aulas expositivas tradicionais. “São nesses formatos que a pedagogia da universidade vai sobreviver, com seminários, oficinas e exercícios experimentais.”

Em relação ao currículo, segundo o fundador do Minerva, os Estados Unidos enfrentam dificuldades diferentes de outros países por possuírem uma estrutura diferente do resto do mundo em suas instituições de nível superior. Nas universidades americanas, o aluno não escolhe desde seu primeiro ano o que vai estudar. Ele pode fazer aulas em diversos departamentos e depois se especializar em uma determinada área.

“O problema no modelo americano é que ele tem grupos randômicos de aulas, pois cada um escolhe o que mais lhe interessa. Mas o ponto de ter essa liberdade não pode ser somente a exposição a coisas diferentes, teria que ser aprender a pensar as habilidades fundamentais básicas em diferentes perspectivas e assim aplicá-las em diferentes assuntos. Para isso, é preciso proporcionar um currículo mais estruturado e com um propósito mais claro”, explica Nelson.

Segundo ele, a proposta do Minerva traz uma resposta a esse problema, já que a universidade terá um ano inicial em que os alunos assistirão às mesmas aulas e só depois é que escolherão caminhos diferentes. “Vamos ensinar os alunos a pensar criticamente, como se comunicar efetivamente, como criar. E as aulas nos anos seguintes vão se basear nestes mesmos conceitos”. Essa é a solução para Nelson: “As universidades americanas precisam prover uma educação de base mais estruturada e não apenas um menu de cursos. Para as instituições fora dos Estados Unidos, o caminho é a adoção dessa educação de base, integrando outros campos de atuação com cada curso”.

Primeira turma
A primeira turma do Projeto Minerva começa no segundo semestre desse ano e terá de 15 a 20 alunos, que ainda estão sendo selecionados. Eles farão os quatro anos de curso sem custos, pois terão o compromisso de ajudar a aprimorar o programa. Depois do primeiro ano, no qual todos terão as mesmas aulas, os estudantes poderão escolher entre quatro cursos: ciências da computação, ciências sociais, artes e humanidades e ciências naturais.


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aprendizagem baseada em projetos, ensino híbrido, ensino superior, minerva, transformar, uso do território

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