O filho do Bill Gates e o seu na mesma classe
Na terceira da matéria da série Semana Khan, o Porvir destaca o acesso ao ensino de qualidade que as videoaulas trouxeram
por Patrícia Gomes 16 de janeiro de 2013
Um dos pontos que o pessoal da Khan Academy gosta de enfatizar sobre por que vêm impactando a educação mundial gira em torno de uma palavrinha: acesso. Isso mesmo, acesso a aulas de matemática, física, história, química ou uma gama crescente de outros assuntos; acesso a exercícios e suas respostas; e acesso a uma comunidade de pessoas com interesses afins. “Nós acreditamos que todo mundo deveria ter direito a ter acesso [olha a palavra aí] a uma sala de aula global gratuita”, dizem eles, repetidamente, em seu site. Isso quer dizer tanto levar aulas de matemática para regiões rurais de países subdesenvolvidos onde não há professores, quanto permitir que um bilionário e você façam parte da mesma sala de aula virtual. “O filho do Bill Gates pode ter a mesma aula de cálculo que qualquer brasileiro”, disse Salman Khan, na semana passada.
Os números, todos superlativos, mostram que Khan tem, de fato, começado a construir uma sala de aula global. Desde que os vídeos começaram a ser postados no YouTube, em 2006, as aulas – majoritariamente gravadas pelo próprio Khan – já foram assistidas mais de 200 milhões de vezes. Apenas em dezembro, foram 4,6 milhões de visitantes únicos. Mais de 2 milhões de exercícios são feitos diariamente. Os vídeos têm entre 10 e 20 minutos e são gravados em inglês. “A tecnologia hoje pode transformar a educação, tornando-a mais acessível e individualizada. Estamos tentando desenvolver as ferramentas e as fontes de informação que todo aluno merece”, disse a equipe no balanço do mês passado.
Para chegar a todo esse contingente, a Khan Academy estimula pessoas a traduzirem as aulas, o que já foi feito para 16 línguas, inclusive grego, mandarim, farsi (falada no Irã) e suaíli (em países africanos). Um chamado especial no site pede que voluntários traduzam as aulas, entre outros idiomas, para o gujarati (uma das línguas oficiais indianas), hebraico, húngaro e italiano. “O objetivo inicial é traduzir os principais vídeos da Khan Academy para dez dos idiomas mais falados pelos usuários [dentre os quais o português]. Primeiro, estamos trabalhando para tornar o conteúdo disponível; em longo prazo, esperamos também traduzir os exercícios e o painel de controle”, afirmaram.
Se a Khan Academy está fazendo o possível para que a barreira línguística não impeça o avanço da sala de aula global que tanto defendem, outro ponto poderia ser um problema: acesso à internet, que só chega a 35% da população mundial. Poderia. No fim do ano passado, um ex-estagiário da Khan Academy, por conta própria, criou a Khan Lite, um programa off-line que permite a utilização dos vídeos em ambientes sem conexão com a web. O modelo ainda está em teste, mas já há a perspectiva de que, além de chegar a populações desconectadas em regiões do mundo com baixa infraestrutura tecnológica, ele poderá ser usado em presídios e outros locais em que a internet não é permitida por questões de segurança.
Com tamanho potencial de alcance, as aulas do Khan já despertaram o interesse de inúmeros investidores, que propõem que o site se torne uma empresa voltada para o lucro. Mas não é isso que Salman Khan quer. “Tudo na Khan Academy é completamente gratuito e nosso plano é permanecer assim”, diz a equipe, no site. Também pela plataforma, Khan explica a sua decisão de mantê-la como uma iniciativa sem fins lucrativos: “Quando eu tiver 80 anos, quero sentir que eu ajudei bilhões de alunos ao redor do mundo a terem acesso a uma sala de aula global. Soa muito melhor que começar um negócio que educa uma parte do mundo desenvolvido que pode pagar US$ 19,95 por mês e eventualmente vender isso para alguma editora. Eu já tenho uma esposa linda, um filho hilário, dois hondas e uma casa decente. O que mais um homem pode querer?”, pergunta o fundador da Khan Academy.
Ele esteve nesta quarta-feira (16) em Brasília e, pela manhã, participou de um seminário sobre educação digital no Ministério da Educação. Na ocasião, o educador defendeu uma reestruturação do ensino. Já o ministro Aloisio Mercadante anunciou, para o primeiro semestre deste ano, a criação de uma universidade livre, em que professores de instituições federais de ensino superior poderão compartilhar cursos, seminários e palestras. Khan encontrou-se também com a presidenta Dilma Rousseff, que lhe convidou para participar da criação de material pedagógico para o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Nesta quinta (17), Khan participa de encontro fechado em São Paulo promovido pela Fundação Lemann e transmitido via hangout. O Porvir acompanha de perto.
Este post foi atualizado às 21h50 de 16 de janeiro de 2013.