Inovar o ensino uma engenharia inovadora
Em parceria com a USP, Porvir publica série de reportagens sobre desafios do ensino de engenharia e soluções para revolucioná-lo
por Tatiana Klix
27 de junho de 2014
Entre 2000 e 2011, o número de cursos de engenharia oferecidos no Brasil aumentou 250%, de 697 para 2.506 graduações, e o de alunos matriculados passou de 180.497 para 596.416, um salto de 230%. Esse crescimento acompanha a evolução da engenharia como um todo no país: há uma demanda crescente por engenheiros no mercado de trabalho, um maior número de interessados na profissão, mais vagas e, consequentemente, mais engenheiros. Aos poucos, ainda que o número de graduados por habitantes seja inferior ao das nações mais industrializadas do mundo, a expansão das graduações e dos cursos de pós amenizam o risco de um apagão generalizado de mão de obra na área, mas nem por isso elimina todos os desafios da formação de engenheiros.
Entre os estudantes que entram na faculdade, ainda é baixo o percentual dos que efetivamente conseguem se formar – das pessoas que ingressaram em 2007 em graduações de engenharia, só 39% concluíram o curso no tempo previsto, em 2011. Muitos outros demoram mais do que cinco anos para concluir a graduação, e outros tantos param pelo caminho: em 2012, a taxa de evasão foi de 25,35%.
Há disparidades de desempenho no ensino público e privado e uma grande diferença de gênero entre estudantes e formados – nas áreas de engenharia mecânica e metalúrgica, por exemplo, somente 9,3% das matrículas são de mulheres.
Quando chegam ao fim da graduação, os novos engenheiros também estão pouco preparados para colaborar em processos de inovação e exercer funções práticas na indústria, que costuma investir em treinamentos para qualificar profissionais. Além disso, seja por não estar capacitada, seja porque encontra melhores oportunidades ou até porque não gosta da profissão, a maioria acaba migrando para outras áreas e apenas 54% trabalha como engenheiro de fato.
Para entender melhor esses dilemas e apontar exemplos de iniciativas que têm conseguido trazer propostas a esses desafios, o Porvir publica a partir de hoje, em parceria com a Escola Politécnica da USP, a série de reportagens e artigos opinativos “O futuro do ensino da engenharia”. Os textos vão apresentar alguns conceitos que norteiam debates entre o mundo do trabalho e a academia, além de novas soluções testadas em universidades brasileiras e de outros países para formar engenheiros inovadores e com capacidade para enfrentar as demandas do mercado em transformação constante.
Nas matérias produzidas pela equipe do Porvir e nos artigos escritos por professores da Escola Politécnica da USP serão abordados desde maneiras de incentivar o aprendizado de ciências já no ensino básico, prática necessária para atrair mais alunos aos cursos de engenharia, até soluções metodológicas baseadas em projetos e práticas interdisciplinares que formam um profissional que tenha – além de boa capacidade técnica – habilidades transversais, como liderança, espírito de equipe, empreendedorismo e condições de aprender a resolver novos problemas por toda a vida. Os textos que compõem a série serão identificados por um selo. Acompanhe e participe.







Esse é um enorme desafio, com algumas questões ainda sem resposta:
a) Como a qualidade da educação prévia (Ensino Básico e Médio) dos ingressantes está afetando a relação entre ingressantes e concluintes?
b) Porque 46% dos engenheiros formados vão atuar em outras áreas e como reduzir essa taxa?
c) Como preparar os professores para esses novos cursos de engenharia?
Excelente matéria. Concordo plenamente com o ponto 3, que trata de formar profissionais menos teóricos. Compartilho um exemplo que utilizei em sala de aula para proporcionar isso aos alunos dos cursos de Engenharia de Produção e Gestão da Produção Industrial: https://www.youtube.com/watch?v=CWZfmhDXyL0
Entendo que se as engenharias se aproximassem mais ao mundo real, com atividades práticas, sistemicamente, os demais pontos melhorariam.
Meu filho está cursando o IV semestre de Engenharia Mecânica, preciso de algumas dicas/ temas para ele desenvolver o seu TCC.
Aguardo ansiosa,
As Universidades devem atuar mais pro-ativamente com a comunidade, órgãos públicos e instituições no intuito de promover um desenvolvimento mais estratégico e planejado e assim aproveitando para preparar os futuros profissionais para o mercado de trabalho, não só na teoria mas também na prática.
Como engenheiro digo que se a teoria é válida e aplicada corretamente não há margem para erro, o engenheiro trabalha freqüentemente com Leis Física e Matemáticas e não teorias e quando com teorias, são teorias que podem não condizer com a realidade, mas aproximam com uma diferença conhecida. Vejo muitos “engenheiros” em nosso país que não conseguem representar um fenômeno físico de maneira adequada, sendo que desse modo como estudá-lo? Sempre fui muito introvertido, ruim com relacionamentos interpessoais, porém essa introversão talvez tenha aprimorado minha capacidade de abstração, nunca me dei bem em entrevistas de emprego, porém quando tive a chance de medir conhecimentos, disputar uma vaga pelo que sei de física e matemática e não por conta de minhas habilidades sociais, através de concurso público fui o primeiro no primeiro concurso que prestei e consegui ultrapassar meus colegas sociáveis em remuneração. Com a experiência adquirida na oportunidade aprimorei meus conhecimentos “teóricos” e passei a ver o quanto nossos “engenheiros” são ótimos gestores, são bons em gerenciar pessoal, mas quando o assunto é ciências exatas o estado atual de desenvolvimento tecnológico de nossas indústrias diz tudo. Não é a toa que nossos projetos mais desafiadores estão nas mãos de estrangeiros, creio que ao engenheiro habilidades como gestão e relacionamento interpessoal só podem torná-lo um profissional melhor, porém acho que nossa sociedade (Brasil) tem obsessão pelas habilidades sociais em demérito das habilidades com ciências exatas, o mercado de trabalho exclui o socialmente desajeitado sem avaliar se sua habilidade em raciocínio lógico pode ser fazer a diferença. Penso que para vagas como projetista, peritos e especialistas técnicos deva-se dar mais chances a pessoas introvertidas ou com poucas habilidades sociais, o que não pode é ser anti-social, sem criatividade. Mas enfim, não vou me estender, pois no Brasil sei que sou voto vencido e devido à cultura local não há muita esperança de que isso mude.
Parabéns Ederson pelos seus comentários, vc não está sozinho. Abç