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Inovações em Educação

Jovens criam manifesto por melhorias na educação

Mapa do Buraco reúne os principais gargalos e desafios do ensino público no Brasil; documento é um convite para a mobilização social

por Marina Lopes ilustração relógio 28 de agosto de 2014

Quem disse que o setor público é o único responsável pela qualidade do ensino no país? Acreditando que a população tem um peso fundamental para cobrar melhorias na área, um grupo de dez jovens brasileiros, a maioria deles com passagem por Harvard, nos EUA, criou um manifesto que aponta os principais gargalos e desafios da educação pública no Brasil. Intitulado de Mapa do Buraco, o documento busca mobilizar a discussão sobre a qualidade da educação em diversos setores da sociedade.

Elaborado a partir de entrevistas com mais de cem lideranças nacionais, entre eles o empresário Jorge Paulo Lemann e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o documento aborda temas como a carreira docente,  currículo, déficit educacional, gestão e investimento. Segundo o relatório, embora o país tenha avançado para universalização do ensino fundamental e médio nas últimas décadas, os resultados de avaliações educacionais ainda apontam para a falta de equidade e qualidade na educação pública brasileira.

Distante de propor diretrizes ou planos de longo prazo, o manifesto busca tratar o tema como uma necessidade urgente. “As pessoas tendem a pensar na educação como um problema de longo prazo. Não é para amanhã. É para agora. O documento mostra essa urgência e a população tem um papel absoluto para promover essa mudança”, defendeu a Lígia Stocche, 24, estudante de engenharia de materiais na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e uma das integrantes fundadoras do movimento.

De acordo com ela, que já estudou em Harvard e no MIT, o manifesto parte exatamente dessa necessidade de conscientizar a sociedade de que os problemas e desafios da educação são uma responsabilidade de todos. No documento, o setor público, a sociedade civil, os professores e representantes de ONGs, fundações e centros de pesquisa são apontados como os principais agentes de mudança, exemplificando e delimitando a atuação de cada um. “Se você entende a sua responsabilidade nisso, você faz alguma coisa. A partir do momento que população cobra, faz e pede, [o assunto] se torna algo mais discutido”, defendeu Stocche.

Desenvolvido de forma apartidária, o documento também pretende pautar as discussões políticas e eleitorais. Após mobilizar a população sobre a importância do tema, os jovens idealizadores devem entregar o manifesto para candidatos à presidência e aos governos estaduais.  “A gente tem a esperança que pessoas das mais distintas posições [políticas] e opiniões venham abraçar a causa.”

Resistências e caminhos

Um dos aspectos mencionados no Mapa do Buraco é importância de atrair o jovem para a escola. Segundo o documento, “o modelo atual apresenta um currículo sobrecarregado e pouco atrativo.” Diante desse cenário, a resistência a mudanças é um dos caminhos que deve ser superado pela educação brasileira. O documento ressalta a necessidade de trabalhar com um modelo de escola que atenda as necessidades do século 21, levando em consideração as transformações tecnológicas e a forma como as pessoas estão se apropriando das informações e da educação.

“A partir do momento que o jovem vê a educação como um caminho, ele já se sente mais motivado. A gente precisa mostrar que educação é um caminho que pode levar ele muito longe. O ensino médio costuma ter uma evasão muito alta porque os jovens não enxergam [a escola] como um caminho para levar a outros lugares.”

Cases de sucesso

Para mostrar que é possível promover mudanças na educação pública brasileira, o relatório traz o exemplos de escolas e municípios que conseguiram melhorar os resultados de aprendizado entre os seus alunos. Um dos casos citados é o Programa Escolas do Amanhã, criado pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que utiliza um novo modelo de gestão de parcerias para integrar a comunidade e o cotidiano como uma extensão do espaço escolar. No total, a iniciativa abrange 155 escolas de ensino fundamental que estão localizadas em áreas recém-pacificadas da cidade.

Outro exemplo apresentado é o do Programa Alfabetização na Idade Certa, implantado no município de Sobral, no Ceará, e expandido para todo o estado em 2007. Quando a iniciativa assumiu âmbito estadual, em 2007,  32% de alunos cearenses no 2o ano do ensino fundamental não tinham sido alfabetizados. Após cinco anos, com o oferecimento de materiais pedagógicos e o investimento na formação de professores, a porcentagem de alunos não alfabetizados caiu para 2.1%. “Muita gente nem sabe que existem casos de sucesso na educação pública brasileira”, destacou Lígia Stocche.

Para acompanhar as discussões sobre o tema, os jovens lançaram uma página no Facebook, onde divulgam informações e vídeos com depoimentos de entrevistados consultados para a composição do relatório.


TAGS

competências para o século 21, ensino fundamental, ensino médio, ensino superior

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