UNESCO: Professor é crucial na mudança tecnológica
Documento lançado nesta terça busca fomentar políticas para melhorar o acesso das escolas e as competências de docentes
por Vinícius de Oliveira 25 de novembro de 2014
Jovens de hoje já dominam celulares, computadores e tablets com facilidade e têm acesso a novas tecnologias, o que faz com que tenham grandes expectativas em relação às mudanças na educação que recebem. No entanto, essa transformação exige investimentos muitas vezes na casa dos milhões de reais, que precisam ser cuidadosamente estruturados.
Para ajudar no desenvolvimento de políticas públicas que respondam a essas questões e melhorem o acesso das escolas e as competências dos docentes, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) divulgou nesta terça-feira (26), durante um seminário em parceria com a Fundação Santillana, o documento “Tecnologias para a Transformação da Educação: Experiências de Sucesso e Expectativas”. O texto tem como objetivo analisar o impacto das mudanças na América Latina, identificar fatores de sucesso e traçar recomendações para políticos, gestores e professores. A elaboração do documento se concentra na escola, destacando o papel de cada ator (diretor, professor e aluno) como determinante do sucesso ou fracasso das iniciativas, além de mostrar como a tecnologia possibilita mudanças pedagógicas capazes de impulsionar o rendimento acadêmico.
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O documento deixa claro desde o início que a simples compra de computadores e tablets de última geração ou a instalação de conexão à internet de banda larga nunca serão suficientes para replicar exemplos como o ensino de ciências a partir da ciência forense (algo que já ocorre no Brasil) ou a programação para Arduino em um grande número de escolas ou salas de aula. Nem tampouco conduzirão automaticamente ao surgimento de novos e inovadores desenhos de aprendizagem. Segundo o texto, o desafio é garantir que essa tecnologia seja utilizada de modo eficaz para melhorar como e o que os estudantes aprendem.
Em entrevista ao Porvir, Francesc Pedró García, diretor de política educativa da UNESCO, afirmou que é evidente que a tecnologia pode resgatar o interesse dos estudantes, pois “permite aprender de forma diferente e muito mais agradável”. O representante da UNESCO, no entanto, defende uma mudança de foco nos planos educacionais nacionais que preveem a distribuição de hardware, como computadores ou tablets. “Em vez de um laptop por aluno, estamos falando em um laptop por professor. A maioria das famílias já equipa seus filhos, e os recursos públicos devem ser destinados àqueles que não têm, não para todos. As iniciativas de universalização serão superadas com o tempo, e os países desenvolvidos já estão deixando isso de lado”, afirma.
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Apesar de não existirem políticas que afirmem que para “aumento do orçamento escolar destinado à tecnologia, a aprendizagem do estudante melhorará em y%”, a UNESCO aposta em sete componentes que aparecem reiteradamente como fatores decisivos para o sucesso na aplicação da tecnologia para promover a mudança pedagógica:
- Promover a aprendizagem ativa, interativa e cooperativa;
- Oferecer uma maior personalização da aprendizagem;
- Reformar o currículo para que tenha um enfoque baseado em competências;
- Avaliar a aprendizagem de forma consistente com os objetivos;
- Adotar uma abordagem sistêmica na gestão da mudança pedagógica;
- Desenvolver uma liderança pedagógica robusta;
- Apoiar os professores.
Pedró também defende que o uso de tecnologia não pode ser tratado como uma solução mágica para resolver problemas. A discussão deve começar com a análise dos tipos de soluções necessárias e, entre elas, podem surgir as baseadas em tecnologia. “Deve-se começar considerando qual apoio o docente recebe e quais dificuldades enfrenta. Dados importantes sobre a América Latina mostram que os professores brasileiros são os que mais gastam tempo para colocar ordem na classe antes de começar a aula. São dez minutos por aula que, ao final de um ano, representam muito tempo”, diz. “Programas de grande escala que se tornam imposições de uma nova agenda que não tem conexão com o professor não servem para nada”, completa.
Entre as conclusões do estudo, a UNESCO destaca que a aposta em dispositivos digitais como substitutos dos professores não produziu resultados significativos na melhoria da aprendizagem. Por outro lado, o uso mais interativo e proativo da tecnologia, como resultado de uma mediação de recursos organizada pelo professor e com seu apoio direto, tem permitido que os estudantes progridam de maneira notável em sua aprendizagem. Diante disso, surgem uma série de recomendações, entre elas: garantir banda larga para não frustrar estudantes com dificuldades na busca de conteúdos; criar ambientes de estudo personalizados e híbridos; permitir o uso do dispositivo pessoal do aluno e, mais uma vez, assegurar o apoio constante e adequado ao professor.
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