‘O abraço também é uma forma de tecnologia’ - PORVIR

Inovações em Educação

‘O abraço também é uma forma de tecnologia’

Tiago Mattos, cofundador da Perestroika, escola livre de criatividade, leva empatia para a Singularity University, na Nasa

por Patrícia Gomes ilustração relógio 27 de julho de 2012

De olhos vendados e em uma palestra de não mais do que cinco minutos, o brasileiro Tiago Mattos, 32, causou comoção em um grupo de empreendedores do mundo inteiro ao propor que a busca por um mundo melhor se apoiasse em uma tecnologia simples, gratuita e escalável, mas que as pessoas não têm dado muito importância: o abraço.

“Para resolver problemas globais, o abraço é uma tecnologia única e poderosa porque nos faz entender a realidade dos outros”, afirmou Tiago, diante de uma plateia formada por alunos e professores da Singularity University, a chamada “universidade do futuro”. A apresentação do brasileiro fez parte de um exercício proposto aos 80 estudantes participantes do curso de verão da instituição, que ocorre na Nasa. Eles deveriam falar sobre um tema pelo qual fossem pessoalmente apaixonados e fazerem uma relação com as tecnologias exponenciais de hoje.

Tecnologia do abraçocrédito Divulgação

Para Tiago, as pessoas estão acostumadas a associar a tecnologia a computadores e robôs, mas agir com empatia diante de um problema também é uma forma de resolvê-lo. “Talvez seja a hora de começarmos a ver beijos, carinhos e abraços como tecnologias emocionais. Ou seja: o conhecimento de técnicas emocionais que nos ajudam a resolver um problema ou atingir um objetivo”, afirmou.

Em entrevista ao Porvir, o jovem defendeu que as tecnologias emocionais e a empatia devem ser usados para facilitar o processo educativo. “Tanto pais quanto professores não devem se colocar sempre num patamar diferente, distante. Às vezes, temos que nos colocar no mesmo nível para criar uma conexão verdadeira.”

Tiago é cofundador da Perestroika, uma escola de cursos livres que oferece aulas em diversas áreas, desde comunicação e futebol, até gastronomia, moda e pôquer. Com comunidades em Porto Alegre, Rio e São Paulo, a Perestroika, nas palavras de Tiago, ensina criatividade, propõe um modelo de educação mais livre e líquido e prova que todo mundo gosta de estudar. “A maioria das escolas têm bons professores e conteúdo, mas não sabe como engajar o aluno. As aulas ficam chatas. Nossa metodologia transforma a aula numa experiência”, diz.

A seguir, assista ao vídeo e veja entrevista.

 

Por que o abraço é uma tecnologia emocional?

Encontrei a seguinte definição no dicionário: “tecnologia é o conhecimento de técnicas para resolver um problema ou atingir um objetivo”. Se essa definição está correta, abraços são tecnologias. Como sempre pensamos em tecnologias ligadas a robôs, chips e computadores, talvez seja a hora de começarmos a ver beijos, carinhos e abraços como tecnologias emocionais. Ou seja: o conhecimento de técnicas emocionais que nos ajudam a resolver um problema ou atingir um objetivo.

Para você, os mercados já têm essa percepção de que as tecnologias não devem ser apenas aquelas construídas em laboratórios?

Certamente não. Muitos países ainda não possuem a cultura do abraço, e não percebem como isso pode ser importante na resolução de problemas.

Como foi que você pensou em fazer uma apresentação sobre o abraço em um contexto em que as pessoas são muito ligadas no conceito tradicional de tecnologia?

Tanto pais quanto professores não devem se colocar sempre num patamar diferente, distante. Às vezes, temos que nos colocar no mesmo nível para criar uma conexão verdadeira

Eu estou vivendo um confinamento aqui na Nasa. Estou participando de um programa de dez semanas na Singularity University, com outros 79 alunos das mais diferentes partes do mundo. No Brasil, adoro abraçar meus amigos, minha família, minha namorada. Aqui, não apenas pela falta de intimidade, mas pela diferença de culturas, há uma barreira emocional. Daí veio o insight. Comecei a espalhar uma cultura do abraço aqui dentro. Está funcionando.

Como o conceito de empatia se relaciona com as suas ideias?

Quando vamos ajudar alguém, normalmente temos pena. Usamos a pena como combustível. Mas quando isso acontece, nos colocamos num patamar superior. Olhamos para o outro de cima para baixo. Como se conectar assim? A melhor forma de se conectar com alguém é através de uma relação de igual para igual. Aí entra a empatia: se colocar no mesmo patamar do outro, e, aí sim, tentar ajudá-lo. Crescer junto.

É possível usar as tecnologias emocionais e a empatia para educar ou melhorar a educação?

Certamente. Tanto pais quanto professores não devem se colocar sempre num patamar diferente, distante. Às vezes, temos que nos colocar no mesmo nível para criar uma conexão verdadeira. Entendo o conceito de autoridade, mas não acho que eles sejam excludentes. O respeito não se impõe, se conquista.


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singularity, socioemocionais

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