Professor de artes cria redação de jornal na sala de aula
Diego Cuesta usou horário na grade para desenvolver projeto que transforma alunos do fundamental 2 em repórteres e incentiva trabalho colaborativo
por Diego Cuesta da Silva 24 de agosto de 2016
A inovação começa quando temos coragem para sair de nossas zonas de conforto e decidimos encarar as dificuldades que uma situação inusitada pode trazer. Como sou professor de artes, queria trabalhar com uma linguagem diferente da plástica. A escola em que eu trabalho oferece aos professores um “canto”, um horário de aula, que nós chamamos de Proposta Integrada, que sai um pouquinho do currículo.
Por isso, decidi que iria trabalhar jornalismo com os alunos, transformando a sala de aula em uma verdadeira redação de jornal. O “Viva Jornal” une alunos do sexto e sétimo ano do ensino fundamental.
Em um primeiro momento, percebi que os alunos conheciam bem pouco o funcionamento de um jornal. Eu apresentei a Folha de S. Paulo e expliquei que esse tipo de publicação tem divisões, que são os cadernos de política, cultura, esportes, entre outros.
Depois disso, eles se agruparam de acordo com o interesse pelas editorias e formaram diversas “redações” pela sala. A diferença é que as reportagens a serem produzidas falariam do universo da escola. Em economia, por exemplo, eles falaram sobre o preço dos alimentos na cantina.
Os alunos decidiam o assunto, montavam uma pequena pauta com o que iam perguntar aos entrevistados pela escola e saíam com o celular para gravar o áudio da entrevista. O celular foi uma ferramenta de trabalho muito importante, porque serviu como um gravador.
Depois, eles voltavam pra sala e tinham três aulas para produzir a reportagem. No final dessas quatro semanas, cada editoria tinha uma reportagem pronta para ser apresentada. O ciclo se repetia mais uma vez e os alunos tinham a chance de criar uma segunda notícia. Ao final de oito semanas, os grupos eram trocados e começava tudo de novo. Inicialmente, a ideia era que essas matérias fossem veiculadas de forma impressa. Mas, por uma questão de custo, nós acabamos publicando no blog da escola.
As produções dos textos aconteceram na sala de aula, nos laptops da escola. A instituição trabalha com um laboratório móvel de informática. Ou seja, quando um professor precisa usar os equipamentos, ele faz um pedido e as máquinas são levadas até a classe. Nesse contexto, o posicionamento dos alunos na sala muda completamente. Já não é mais aquela coisa enfileirada.
O ponto que mais chamou a minha atenção no trabalho foi o envolvimento dos alunos. Na sala de aula, jovens de 11, 12 ou 13 anos tendem a ser um pouco agitados. Mas eu percebi que, como não era um conteúdo que eles tinham que absorver – muito pelo contrário, eles tinham que produzir um conhecimento –, eles se organizaram superbem. Quando o problema foi passado para que eles resolvessem, todos foram ótimos. Além disso, questões como indisciplina, dispersão ou até sono não aconteceram. Eles ficaram extremamente interessados no que estavam fazendo. A possibilidade do aluno escolher o que ele vai fazer muda tudo.
Diego Cuesta da Silva
Mestre em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo. Licenciado em História pela mesma universidade e licenciado em Artes Visuais pela Universidade Metropolitana de Santos-SP. Arte-educador há 12 anos, com atuação em museus e instituições culturais. Atualmente ministra aulas de Artes Visuais e História no ensino fundamental 2 da rede particular.