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Diário de Inovações

Professora relaciona arquitetura e tecnologia para estudar pensadores

Alunos de Letras foram estimulados a pesquisarem sobre pensadores e filósofos e criaram QR Codes para espalhar conhecimento no prédio da universidade

por Jordana Thadei ilustração relógio 29 de junho de 2016

Eu sempre tive muita vontade de trabalhar com QR Code, aquele código de barras que, ao ser escaneado por meio de aparelhos celulares com câmera fotográfica passa a ser um pequeno texto ou um link. É algo que está cada vez mais presente na vida, seja em eventos culturais ou até em pontos turísticos no Rio Janeiro, onde o QR é gravado na pedra portuguesa! Só que, paralelamente a isso, eu percebia que muitas pessoas não sabem o que é aquele quadradinho preto e branco. Por isso, fiquei muito feliz por poder usar essa ferramenta em um projeto com meus alunos de Letras, desenvolvido nesse primeiro semestre.

Aqui no Instituto Singularidades, que oferece cursos de graduação de letras, pedagogia e matemática, cada sala tem o nome de um importante estudioso da educação, seja um pesquisador ou um filósofo. Todo mundo acha o prédio muito interessante, porque ele foge dos padrões de uma instituição de ensino superior. É colorido, tem áreas de interação diferentes, até a própria disposição da sala de aula. Mas eu sempre me questionava se os alunos notam que lá fora também existe um diálogo com toda essa arquitetura.

qr code 2

Acreditava que era um pouco incoerente a gente estudar a disciplina de Teorias de Aprendizagem dentro da sala de aula e não dar bola para quem está nomeando as portas lá fora. É importante entender por que essa instituição optou por colocar esses nomes nas portas e o que isso diz sobre a proposta de trabalho desta escola. Na verdade, trata-se de um currículo oculto, embutido na proposta curricular.

Comecei a perguntar e descobri que muitos dos alunos do primeiro semestre nem tinha se tocado de quais nomes eram. Então, falei pra eles saírem e pesquisarem, anotarem os nomes e verificarem quais pensadores não conhecem mas gostariam de conhecer. Cada um escolheu um e foi pesquisar um pouco da biografia e da sua contribuição para a educação. Também estimulei que eles dessem ideias de como poderíamos divulgar esse estudo.

Por trás da criação do QR Code, existe um trabalho muito interessante relacionado ao texto. Não dá pra gerar um código com um texto enorme, porque ninguém tem paciência de ler no celular

Na verdade, eu não sugeri o QR Code. A proposta veio de um aluno, que tinha usado essa ferramenta no mesmo dia da discussão. Nós começamos a falar sobre isso e a turma se calou. Quando perguntei se todos sabiam o que era a ferramenta, vários se olharam e um deles criou coragem e falou: ‘eu não sei’, seguido por vários outros que também desconheciam o código e não tinham o aplicativo no celular.

qr code maior

Por trás da criação do QR Code, existe um trabalho muito interessante relacionado ao texto. Não dá pra gerar um código com um texto enorme, porque ninguém tem paciência de ler no celular. Ao perguntar para os alunos até que ponto eles conseguiriam ler, começamos a realizar todo um processo de produção e sintetização do conteúdo.

Primeiro, colocamos as ideias no papel, independente de tamanho, para depois de aprender técnicas de resumo e selecionar o que é relevante e o que não é para cada situação, de forma a manter a atenção do leitor. Eu ajudei aqueles que tinham dificuldade para resumir, e depois falei para eles ajudarem os colegas. Alguns alunos não conseguiram sair do papel de ajudado para o papel de ajudante. Mas tudo bem, cada um está no seu ritmo, e no próximo semestre os papeis ainda podem se inverter. O meu foco não era trabalhar resumo, mas como estamos usando a linguagem, não poderia perder essa oportunidade de trabalhar essa questão também.

Alguns alunos não conseguiram sair do papel de ajudado para o papel de ajudante. Mas tudo bem, cada um está no seu ritmo, e no próximo semestre os papeis ainda podem se inverter

Depois que eles criaram o código, perguntaram: “é só isso, professora?”, surpresos com a facilidade. O grande diferencial do projeto foi o aluno perceber a serviço de que a tecnologia pode estar. Não é apenas essa atividade específica que vai ter uma relevância, porque eu poderia perfeitamente ter feito um texto e pregado ali na porta. Mas se existe uma tecnologia que me permite além de ler o que tá na porta, manter informações em meu dispositivo, eu posso inclusive expandir o uso dessa ferramenta para outras coisas. Hoje, eles já estão usando o QR Code em outras disciplinas. Essa atividade foi um passo para um trabalho processual que a gente faz aqui dentro de incentivar os alunos a usar mais tecnologia.

Além disso, o projeto também engajou os alunos para nomearem três salas do prédio que ainda não foram batizadas. Algumas alunas perceberam que só três mulheres dão nome a salas, enquanto existe “uma galera” de homens. Atualmente, os estudantes estão pesquisando nomes de mulheres importantes na educação para depois realizar uma votação em todo o prédio.


Jordana Thadei

Graduada em Pedagogia, especialista em Ensino de Línguas Mediado por Computadores pela UFMG e mestre em Linguística Aplicada pela PUC-SP, tem ampla experiência em avaliação e produção de materiais didáticos, tendo publicação tanto no ensino fundamental I, quando no fundamental II.

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ensino superior, formação inicial, gênero, tecnologia

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