Tecnologia é mais que um verniz na educação
Debate na Bett Brasil Educar defende adoção de novas práticas que coloquem o aluno como produtor de informação
por Vinícius de Oliveira 21 de maio de 2015
O uso de dispositivos eletrônicos na educação precisa ir além do mero “verniz tecnológico” aplicado sobre velhas práticas em sala de aula. Essa foi uma das ideias levantadas no debate “Como a tecnologia pode contribuir para renovar a educação?”, realizado nesta quinta-feira (21), durante a Bett Brasil Educar, evento sobre educação que vai até o próximo sábado, em São Paulo.
Segundo Klaus Schlünzen Junior, professor livre-docente em informática e educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), é necessário adaptar as práticas ao cenário de mudanças. “Nós temos de certa forma um verniz tecnológico sobre velhas práticas”. O representante da Unesp acredita que umas das soluções a serem adotadas é a criação de uma cultura de inovação dentro da sala de aula, que atualmente é formada por jovens altamente digitais mas que ainda usam mal a tecnologia. “O que precisa ser entendido por professores é que existe uma necessidade enorme de passar por uma lógica de distribuição para uma outra comunicação e interação, que muda o foco do trabalho”, explica.
Rafael Parente, PhD em educação pela Universidade de Nova York e ex-subsecretário de educação municipal do Rio de Janeiro avalia que o modelo escolar não funciona mais como um todo e que as tecnologias só evidenciam as deficiências. E enumera alguns motivos: “As redes de ensino não funcionam porque não há aprendizagem. Por quê? As crianças e adultos estão desmotivados porque o que acontece dentro da escola busca formar pessoas passivas”.
Isso ocorre, segundo ele, em razão da filosofia do “fica quieto, senta, copia” presente em muitas escolas. Parente aposta em que um ambiente escolar mais interessante precisa levar em conta a personalização para atender os mais diferentes gostos. “Não adianta insistir em um modelo em que se acha que todas as pessoas vão aprender as mesmas coisas nos mesmos tempos e das mesmas formas”.
Wolgram Marialva, pesquisador da Escola do Futuro/USP, vê como caminho para impulsionar a mudança de modelo educativo o acesso facilitado às comunidades de prática. “Elas já trazem o olhar da gestão ao ajudar o professor a superar suas dificuldades com soluções já experimentadas”. O pesquisador usa um argumento reiterado em outros encontros do evento: nesses ambientes (como os do Google e da Microsoft), a construção do conhecimento feito de professor para professor. “Tudo é feito por adesão: quem está ali é porque está afim de contribuir”, conclui.
Seguindo o mesmo raciocínio, Mila Gonçalves, gerente de informação da Fundação Telefônica, ressalta que a nova escola precisa garantir que alunos adquiram as chamadas competências do século 21: empreendorismo, colaboração, comunicação, análise crítica, dentre outras. A gestora demonstrou ferramentas e comunidades gratuitas para professores, alunos e governos: a plataforma Escolas Rurais Conectadas, para formação de educadores do campo, a Escola Digital, um site de objetos digitais, o jogo Plinks, com conteúdos de português e matemática e, por último, o Programaê, que ensina a programar. “Ou a gente expõe nossas crianças à linguagem de programação, ou vamos continuar sendo sempre um país consumidor de tecnologia”.