Trabalho socioemocional em sala de aula melhora comportamento dos alunos
Pesquisa feita pela UFRJ com 9,6 mil estudantes revela avanço nos níveis de autocontrole, empatia e perseverança após participação em programa socioemocional
por Marina Lopes / Vinícius de Oliveira 3 de setembro de 2018
Uma pesquisa realizada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), encomendada pelo Programa Semente, que leva conteúdo socioemocional para escolas, aponta que alunos de ensino fundamental 2 que tiveram contato com essa metodologia tiveram um aumento de 6,7% na melhora do comportamento.
Direcionado a alunos do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, o Programa Semente oferece materiais didáticos e realiza formação de professores para estimular o desenvolvimento socioemocional dos alunos. Com a opção de desenvolver atividades no período regular ou no contraturno, todas as aulas são baseadas em cinco domínios fundamentais: sociabilidade, autoconhecimento, autocontrole, empatia e tomada de decisões.
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O programa teve início em outubro de 2016, quando o psiquiatra Celso Lopes de Souza e o linguista Eduardo Calbucci constataram que a falta de preparado para lidar com as emoções era um dos maiores desafios enfrentados pelos professores em sala de aula. Juntos, eles desenvolveram uma metodologia baseada em referências internacionais do Casel (Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning), que estuda o desenvolvimento dessas habilidades na educação básica.
Para analisar o impacto dessa metodologia no comportamento dos alunos, um estudo em larga escala foi feito no início de 2017 contou com a participação de cerca de 9,6 mil estudantes distribuídos em escolas nas cinco regiões do país que tiveram acesso a uma plataforma online, na qual responderam a um questionário com 45 perguntas. No final daquele ano letivo, o grupo respondeu ao mesmo questionário.
No questionário, foram adotadas perguntas relacionadas ao momento de vida dos alunos que deveriam ser avaliadas em uma escala de 1 a 4 (“nada parecido comigo” a “totalmente parecido comigo”), tais como “Eu costumo desistir diante da primeira dificuldade”, “Fico feliz com a felicidade de outras pessoas”, Consigo controlar meus medos percebendo que posso estar exagerando as consequências de algumas situações”, dentre outras.
A análise de cada item permitiu identificar que o impacto foi de 2,3% (empatia cognitiva emocional) até 13,9% (autocontrole). O autoconhecimento (13,5%) e as habilidades sociais (7,2%) completam o pódio com os maiores níveis de melhora.
“Decidimos começar pelo ensino fundamental 2 porque esta etapa é uma janela de oportunidade. Primeiro, por conta das transformações pelas quais os alunos estão passando. O aluno chega no 6º ano e é praticamente uma criança e sai com 14, 15 anos quase que como um adulto”, diz Eduardo Calbucci, diretor do Programa Semente.
Além do resultado positivo para o desenvolvimento das habilidades, segundo Calbucci o estudo é importante para derrubar mitos. “A gente achou durante muito tempo que esse tipo de habilidade era inata. Isso está provado por inúmeras pesquisas e a nossa também confirma é que elas são possíveis de serem aprendidas da mesma forma que aprendemos matemática, física ou química”, comenta.
A análise dos dados também mostrou que independente da faixa etária do aluno e de seu estágio inicial, as habilidades são passíveis de serem trabalhadas e melhoradas. Outro mito que caiu por terra foi a diferença entre gêneros. De acordo com Calbucci, em alguns casos, eles alcança resultados iniciais mais altos, mas no final, o resultado se equivalia.
“A única diferença foi em empatia. As meninas partiram de uma nota inicial muito mais alta e terminaram com nota ainda maior. Eles também evoluíram, mas a nota delas foi melhor. Não sabemos o motivo, mas deve haver uma ligação com os processos de socialização que incentivam as meninas a lidar com emoções de uma maneira diferente dos meninos. Por enquanto, essa é só uma hipótese. Mesmo assim, os dois grupos evoluíram, o que é o mais importante”, analisa.
Competências Gerais da BNCC
O desenvolvimento de competências e habilidades está presente na Base Nacional Comum Curricular. Para saber mais sobre este assunto, o Porvir preparou um infográfico para explicar as 10 Competências Gerais descritas no capítulo introdutório do texto oficial. Também oferecemos um documento publicado pelo Movimento pela Base e pelo Center for Curriculum Redesign para apoiar redes, escolas e professores a compreender as dimensões das Competências Gerais e como elas progridem ao longo da educação básica.