4 riscos do uso incorreto da tecnologia nas escolas
Pesquisadora discute a ameaça à privacidade de dados dos alunos e a ética na relação entre escolas e empresas que fornecem equipamentos e sistemas
por Diane Ravitch, para o EdSurge
15 de janeiro de 2018
Em qualquer momento do dia, estou ligada ao meu celular, meu iPad ou meu computador. Como escritora, eu me converti cedo ao computador. Comecei a escrever em um TRS-80, em 1983, no maravilhoso software de edição de textos chamado WordPerfect, que desapareceu misteriosamente. Eu tinha dois TRS-80, porque um deles estava sempre no conserto. Eu amo o computador por muitas razões. Eu não precisava mais cobrir meus erros com corretivo; e não precisava mais redigitar um artigo inteiro por causa dos erros. Minha caligrafia é quase completamente ilegível. O computador é uma dádiva de Deus para um escritor e editor.
Eu tenho visto professores que usam tecnologia para inspirar investigação, pesquisa, criatividade e entusiasmar. Eu entendo o que é uma ferramenta poderosa.
Mas também está cheio de riscos, e a indústria da tecnologia não tem agido o suficiente para solucioná-los.
Veja os guias do Porvir e se aprofunde no assunto
– Personalização do ensino
– Tecnologia na Educação
Risco 1: Ameaça à privacidade dos estudantes
O risco um é a invasão da privacidade dos alunos, utilizando dados das empresas de tecnologia coletadas quando os estudantes estão online. A história de inBloom é um caso exemplar. Financiado em 2014 com US$ 100 milhões da Fundação Gates e da Carnegie Corporation, a InBloom pretende coletar enormes quantidades de dados de alunos pessoalmente identificáveis e usá-lo para “personalizar” a aprendizagem para cada aluno.
Os pais ficaram alarmados com o plano de colocar os dados de seus filhos na nuvem online e se mobilizaram em comunidades e estados para deter a inBloom. Eles não ficaram nem um pouco impressionados com as possibilidades de ensino orientado por dados como os empreendedores que promovem a InBloom. Os pais ganharam. Um estado após o outro nos EUA pularam fora e a inBloom entrou em colapso.
Embora a inBloom esteja morta, a ameaça para a privacidade dos alunos não é. Cada vez que um aluno faz digita algo, um algoritmo em algum lugar está coletando informações sobre ele. Os seus dados serão vendidos? O benefício para empreendedores e corporações é claro; o benefício para os alunos não é.
Risco 2: Proliferação de “aprendizagem personalizada”
A aprendizagem personalizada, ou “educação baseada em competências”, são ambos eufemismos para ensino adaptativo por computador. Novamente, uma rebelião dos pais está se formando, porque eles querem que seus filhos sejam ensinados por um ser humano e não por um computador. Eles temem que seus filhos sejam mecanizados, padronizados, submetidos ao ensino despersonalizado, e não à “aprendizagem personalizada”. Enquanto muitos empresários estão investindo em software para capturar essa indústria em expansão, ainda não há evidências sólidas de que os alunos aprendam mais ou melhor quando ensinados por um computador.
Risco 3: Uso extensivo de tecnologia para avaliação
A tecnologia é altamente compatível com provas padronizadas, o que encoraja a elaboração de questões padronizadas e de respostas padronizadas. Se o objetivo do aprendizado é ensinar a criatividade, a imaginação e a tomada de riscos, a avaliação deve encorajar os alunos a serem pensadores críticos, não aceitando o saber convencional e checando a resposta correta. Além disso, a capacidade dos computadores para avaliar as redações ainda está aquém do esperado e pode continuar assim. O professor Les Perelman no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA) demonstrou que os ensaios cujas notas foram dadas por computador podem obter altas pontuações com bobeiras que as máquinas não têm a “inteligência” para raciocinar ou entender o que mais importa na escrita.
Risco 4: Dinheiro em Edtech
A indústria de tecnologia usa seu dinheiro de forma duvidosa para vender seu produto. O mercado de tecnologia está crescendo, e uma grande indústria está pairando em torno das escolas, ansiosa por seus negócios. Em novembro de 2017, o New York Times denunciou uma série de práticas comerciais ilegais da indústria de tecnologia no condado de Baltimore. Foram revelados casos de suborno (o popular jabaculê), tráfico de influência e pagamento de encontros e jantares caros para funcionários das escolas, o que resultou em quase US$ 300 milhões de gastos em computadores que receberam avaliação baixa por avaliadores e logo ficaram obsoletos. Isso, em um distrito que negligenciou a manutenção básica de infraestrutura de alguns de seus edifícios.
O maior medo dos pais e professores é que a indústria tecnológica queira substituir professores por computadores. Eles temem que os líderes empresariais queiram reduzir custos ao substituir seres humanos caros por máquinas baratas, que nunca requerem cuidados de saúde ou uma previdência social. Eles acreditam que a educação requer interação humana. Eles preferem experiência, sabedoria, julgamento, sensibilidade, sensatez e compaixão dentro da sala de aula do que a frieza e a estática superioridade das máquinas.
Eu concordo com eles.
* Diane Ravitch é pesquisadora em educação na Universidade de Nova York e historiadora da educação. É fundadora e presidente da NPE (Network for Public Education) e autora do blog dianeravitch.net. Texto publicado originalmente no EdSurge e reproduzido mediante autorização






Os riscos do uso incorreto da tecnologia (não somente na sala de aula) não limitam-se a esses quatro, mas a reflexão é mais do que válida!
Eu acredito que a tecnologia (como tudo no mundo) pode nos ajudar ou nos arruinar! Não vejo problemas em um computador ou até mesmo um robô substituir o lugar de um professor (ou qualquer outro profissional) que trabalha, por si só, mecanicamente.
E principalmente, não vejo problemas em ser auxiliada por uma máquina… ela pode fazer o trabalho mecânico por mim e me deixar tempo o suficiente para que eu possa me diferenciar dela.
Veja como muitas salas de aula viraram salas de treinamento e repetição de questões do ENEM, de vestibulares e afins… um robot também pode fazer isso (e talvez até, com muito mais propriedade).
O que nos diferencia das máquinas é que o deve ser valorizado e trabalhado nas escolas. Sim, pois o profissional do futuro não é um robô e sim aquele que puder diferenciar deles!
Eu não tenho medo de ver os professores sendo substituidos por máquinas… eu tenho medo de que nós professores, não sejamos capazes de nos diferenciar delas!
Ao ler a matéria, concluí que os riscos apontados não são exclusivos e nem restringidos ao cenário da educação. A vida, imersa por tecnologia, nos lança a todos neste cenário. Pode-se falar o mesmo a respeito da utilização do smartphone e tablet a despeito da escola ou para a aprendizagem. Concordo que há propostas comerciais agressivas travestidas de educação à distância e com a narrativa de ser educação personalizada.
Estar online prevê o risco à privacidade. Afinal, estar online é expor-se em alguma medida (uns mais e outros menos). Andar na rua sem querer ser visto, é uma proeza para poucos (se é que isso realmente é possível). Não significa que eu seja favorável a políticas agressivas de coleta de dados (com pedido de autorização ou sorrateiramente por algoritmos).
Também não sejamos ingênuos em pensar que as gratuidades do ambiente digital não custam. O preço é pago com audiência e a possibilidade de perfilar volumes de dados com agilidade. Informação não é poder e este se apoia também sobre o dinheiro.
Entendo que há que se aprender tratar com a tecnologia (menos deslumbramento e mais perícia). Menos novidade pela novidade e mais sentido com aquilo para a qual se aplica. O bom e velho discernimento não cai de moda ainda que pareça ser um poscrito de nosso tempo.
É evidente que para aquele que modera a aprendizagem e o faz em tempos como os que vivemos não pode ignorar a tecnologia e, menos ainda, esconder-se dela atrás dos riscos que o ambiente digital nos expõe. É necessário discernir o lugar da tecnologia, educar para utilizá-la dentro e fora da escola.