5 recomendações para uma aula inclusiva

A educação inclusiva na perspectiva da educação especial exige que os docentes estejam cada vez mais preparados para construir aulas que envolvam e englobem todas as pessoas. Não se trata unicamente de incluir mudanças estruturais – como rampas de acesso –, mas sim de um conjunto de ações atitudinais que fazem com que estudantes com deficiência possam vivenciar a escola de maneira mais rica e menos excludente. 

Ter formação na área faz toda a diferença no momento de preparar e conduzir as aulas. Para cada aspecto da rotina escolar, quanto maior o repertório de abordagens inclusivas, mais fácil será repensar a maneira de ensinar. Metodologias, uso de tecnologia e organização do espaço, por exemplo, são fatores importantes de serem pensados à luz da inclusão. 

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Autora do curso “Introdução à Educação Inclusiva: Caminhos para a Equidade”, da plataforma  Escolas Conectadas, Fernanda Chagas Schneider, que também é professora da rede municipal de ensino de Porto Alegre, conversou com o Porvir para relacionar algumas recomendações que podem garantir uma aula inclusiva. 

Confira!

Metodologias 

Em muitos casos, quando educadores estão trabalhando com alunos que são público-alvo da educação especial, é comum que a atitude seja a de tratá-los como “café com leite” ou de pensar atividades partindo dos diagnósticos de cada um, o que não contribui com a inclusão. 

“O professor precisa estar atento ao que o aluno apresenta como potência, e não focar naquilo que ele não faz”, diz Fernanda. 

Direcionar a atenção para as habilidades dos estudantes é fundamental para garantir sua inclusão. “Um professor que tem um aluno com deficiência em sala de aula não precisa de um laudo ou visão médica para estabelecer uma relação com aquela criança, ele precisa estabelecer um vínculo com ela e, assim, identificar o que ela tem de potente”, afirma. 

Tecnologias digitais 

Existem atualmente diversas plataformas e ferramentas que usam de tecnologia digital que podem ser trabalhadas a favor da inclusão. Desde que mediadas corretamente, esses suportes são importantes no apoio ao planejamento de uma aula mais inclusiva. 

É possível utilizar as tecnologias digitais tanto como instrumento pedagógico quanto como meio de acesso, ressalta Fernanda. Não se trata, porém, de usar a tecnologia pela tecnologia. Ao aderir a esta postura, corre-se o risco de estabelecer uma relação de entretenimento e não de aprendizagem. 

“Temos alguns perfis de pessoas que se valem da tecnologia [como maneira de se incluir] – e há uma profusão de aplicativos e ferramentas que podem ser acessadas gratuitamente para que elas consigam interagir com o mundo”, destaca. 

A tecnologia como aliada ao meio inclusivo é também uma conquista do campo de pesquisa que se dedica à acessibilidade. Atualmente, há um vasto material de pesquisa – e de produtos – com esse objetivo. 

“O professor às vezes pesquisa na internet o que existe sobre as necessidades daquele aluno e já encontra respostas significativas muito rapidamente”, comenta Fernanda

As tecnologias digitais são, também, uma maneira de trabalhar a adaptação. “Nós temos o Desenho Universal para a Aprendizagem, que preconiza: se a pessoa está desenvolvendo um produto, é preciso ter em mente que diferentes pessoas vão interagir com ele”, lembra  Fernanda. Em outras palavras, é pensar de maneira mais ampla o acesso a essas ferramentas desde o início.

Espaços físicos 

Os ambientes e as formas como os espaços estão organizados possuem influência direta em como cada pessoa se relaciona com eles. Por exemplo, se em uma sala de aula há somente elementos que remetem à cultura europeia ou norte-americana, dificilmente pessoas indígenas ou asiáticas irão se reconhecer naquele ambiente. 

“Colocar referenciais étnicos – sejam eles africanos, indígenas – vai contribuir para o acolhimento de crianças que se identificam com essas etnias”, exemplifica.

Ao transportar essa mesma noção para as crianças com deficiência, o pressuposto se repete. “A criança entender que aquele espaço em que está foi pensado também para ela é o básico. Mas podemos fazer algo a mais, como colocar nos muros e nas paredes das escolas placas que facilitem o trânsito delas na escola”, sugere a especialista. 

São raros os ambientes que trazem materiais visuais que apresentam formatos diversos, como braille ou outros idiomas. Além disso, ela destaca que representar a criança com deficiência da mesma maneira como outras crianças aparecem é uma forma de incluir, acolher e gerar pertencimento. 

A maneira como a mobília fica disposta na sala também contribui para incluir ou excluir. As mesas enfileiradas, por exemplo, não auxiliam muito nesse processo: algo simples que precisa ser revisto. 

O que é Educação Inclusiva? Qual a forma mais adequada para se referir ao público-alvo da Educação Especial? Como promover a inclusão em sala de aula?

O Escolas Conectadas promove, entre os dias 19/9 e 31/12, a formação “Introdução à Educação Inclusiva: Caminhos para a Equidade”.  Totalmente gratuito e autoformativo, o curso vai abordar conceitos e práticas que ajudarão o professor a pensar estratégias para tornar o ambiente escolar mais acessível.  Entre os temas apresentados na formação, estão: Desenho Universal para a Aprendizagem, dimensões da acessibilidade, tecnologias assistivas, visão relacional sobre deficiência entre outros.  Com carga horária de 10h, a formação também concede certificado de participação.  Clique aqui para fazer sua inscrição

Relações interpessoais 

A escola é um espaço de trocas. Não somente de conhecimento, mas sobretudo de relações. Além do que se aprende nas aulas de biologia, física ou literatura, há espaço para que a comunidade escolar construa vínculos afetivos, aspecto também importante para o aprendizado.

“Precisamos entender que na inclusão, em suma, não basta que a gente vincule as crianças aos processos educativos, ela deve passar a fazer parte daquele ambiente, e os colegas são atores importantes nisso”, reflete Fernanda. 

Nesse sentido, é papel do professor encontrar um equilíbrio entre o momento de intervir nas relações entre os alunos e quando se deve deixar que eles participem e se organizem livremente. 

Em alguns casos, crianças com deficiência geralmente estão acompanhadas de monitores ou profissionais de apoio, que apesar de contribuir para a vida escolar delas, por serem adultos, também funcionam como barreiras para alguns fluxos. 

“Em geral, crianças não se aproximam de um adulto para falar o que falariam entre si. Então, quando há esse mediador, ele também vai bloquear ações que aconteceriam se ele não estivesse ali”, afirma. 

Materiais didáticos 

O tipo de conteúdo e a maneira como ele será transmitido à turma depende de um planejamento detalhado, que leve em consideração, desde o princípio, o viés de inclusão. 

Materiais didáticos padronizados, por si só, já estão na contramão de uma educação que se propõe a observar os interesses dos alunos, observa a especialista. Ao mesmo tempo, adaptar o conteúdo para crianças com deficiência não é o ideal.

“A gente precisa construir o conteúdo com a turma e reconhecer que cada aluno vai se relacionar com esse material de uma forma diferente, apresentando uma construção muito particular em cima disso”, destaca. 

Ela também destaca que, para alunos com ou sem deficiência, os materiais didáticos que são padronizados acabam não sendo positivos para a aprendizagem. Isso porque eles podem não representar a diversidade de interesses que existem em uma mesma sala de aula. 

Neste caso, a tecnologia pode ser útil para a construção dos conteúdos menos engessados, que contribuem com a diversidade de ideias e de estudantes presentes na escola. 

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