6 projetos vencedores do WISE Awards respondem a demandas educacionais urgentes
Conheça os projetos que atuam em diferentes países, incluindo o Brasil
por Vinícius de Oliveira 8 de setembro de 2021
Em 2021, os seis projetos vencedores do WISE Awards, premiação realizada pela Qatar Foundation, inovam por resolver questões educacionais urgentes e ainda mais necessárias em razão da pandemia da Covid-19.
Eles concentram a atuação para a melhoria do acesso à educação infantil, alfabetização e influenciam políticas públicas que incluem o currículo socioemocional. Além disso, a seleção desta edição do prêmio também destaca iniciativas que direcionam atenção para crianças e jovens vítimas de traumas de guerras.
Diante da necessidade urgente da tecnologia para manter crianças e jovens estudando, os projetos premiados usam a tecnologia para desenvolver habilidades digitais e encorajar a inclusão digital de meninas de comunidades marginalizadas. Cada um dos projetos listados abaixo recebe US$ 20 mil, além de oportunidades de apoio técnico e de divulgação em eventos.
- Currículo para Felicidade do Governo de Délhi (The Delhi Government’s Happiness Curriculum) – Índia
Parceiro: Dream a Dream
Contexto e problema
Como acontece em outros países, o sistema escolar indiano é bem tradicional e enfatiza o aprendizado mecânico e as notas altas em testes padronizados, como seleção para o ensino superior e as perspectivas de emprego. O impacto dessa pressão é evidente nas taxas alarmantes de suicídio de adolescentes (um a cada hora).
Além do estresse, mais de 115 milhões de crianças na Índia vêm de uma combinação de experiências adversas, como pobreza, violência doméstica, discriminação sociocultural e vulnerabilidades relacionadas à saúde física e mental. Como consequência, acabam não desenvolvendo comportamentos adequados à idade para resolver problemas de forma crítica, lidar com relacionamentos com sensibilidade ou gerenciar conflitos com tato.
Solução e impacto
Por meio de uma parceria com o governo de Délhi (capital da Índia), a organização Dream a Dream levou pela primeira vez conceitos de aprendizagem socioemocional para a vida aos currículos escolares. O Currículo de Felicidade aborda o bem-estar e a felicidade dos alunos com ênfase em atenção plena, autoconsciência, pensamento crítico, reflexão e outras habilidades.
Até o momento, foram impactados 800.000 estudantes, da educação infantil ao ensino fundamental 2, em 1.024 escolas. Professores dizem que os alunos hoje priorizam valores sobre o sucesso acadêmico, o que também reflete no planejamento das aulas e traz maior colaboração entre docentes. Outros estados já demonstram interesse pelo projeto, que pode chegar a cerca de 4 milhões de estudantes na Índia.
- Vamos todos aprender a ler (Aprendamos todos a leer) – Colômbia e Panamá
Responsável: Fundación Luker
Contexto e problema
Na América Latina, 51% dos alunos do ensino fundamental apresentam baixo desempenho em leitura. Na população de menor nível socioeconômico, esse número chega a 71%, enquanto a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 23%, de acordo com o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2018. Essa é uma grande desvantagem, pois a educação é o motor do desenvolvimento e a leitura é a principal base do aprendizado.
As principais causas desse fraco desempenho de leitura são a falta de métodos de ensino e de materiais de alfabetização adequado em escolas públicas e a inadequação de avaliações que permitam fazer as correções a tempo.
Solução e impacto
O programa consiste em um modelo abrangente e inovador de alfabetização para alunos do ensino fundamental, que adota estratégias digitais e presenciais, como:
1. Formação e apoio a professores em pedagogia, gestão de sala de aula e método fonético sintético.
2. Desenho e oferta de materiais didáticos divertidos para aprender a ler por meio de habilidades socioemocionais.
3. Tutoriais e materiais personalizados para crianças com dificuldades.
4. Sistema de avaliação oportuna e personalizada para identificar e nivelar os alunos com atrasos de aprendizagem.
Atualmente, o programa beneficia 703.277 crianças e professores de escolas públicas da Colômbia e do Panamá, sendo bem avaliado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e pela Universidade de Harvard, por meio de três avaliações experimentais. De acordo com especialistas, uma implementação adequada do programa por cinco anos aumentaria o desempenho de leitura em testes padronizados em 30%.
- onebillion – Reino Unido
Contexto e problema
Em países de baixa renda, 89% das crianças não conseguem ler um texto simples aos 10 anos de idade. Com um tablet de baixo custo, a onebillion desenvolve a leitura e numeracia em sua própria língua, mesmo quando não há suporte adicional de um educador ou familiar para apoiar a aprendizagem da criança.
Solução e impacto
O tablet Android onetab pode ser carregado por energia solar e tem como destaque um aplicativo baseado em tecnologia adaptativa, que proporciona sessões de aprendizagem personalizadas sem a necessidade de login. O equipamento é projetado para ser usado por várias crianças todos os dias, em campos de refugiados ou contextos remotos.
O onetab já está sendo usado por dezenas de milhares de crianças no Malaui, EUA, Canadá, Uganda, Serra Leoa e além. Para muitas dessas crianças, o onetab tem sido um recurso educacional fundamental durante o fechamento das escolas em razão da pandemia. Atualmente, o aplicativo está sendo traduzido para mais idiomas e a empresa espera começar os trabalhos em Serra Leoa, Nigéria e Líbano.
- Profuturo/Escolas Conectadas – 40 países
Responsáveis: Fundação Telefônica Vivo e Fundação “la Caixa”
O ProFuturo é um programa da Fundação Telefônica Vivo e da Fundação “la Caixa” que, dentre outras estratégias, estimula o ensino a distância para educadores. Desde 2015, o projeto promove a inclusão de educadores na cultura digital e incentiva o desenvolvimento de habilidades do século 21 nos alunos, por meio da prática de metodologias inovadoras de ensino.
A plataforma oferece cerca de 40 cursos gratuitos focados na troca de experiência entre educadores e na construção coletiva de conhecimento, com cursos mediados e autoformativos de diferentes cargas horárias e certificados por instituições de ensino superior reconhecidas pelo MEC (Ministério da Educação). O conteúdo contempla demandas do cenário educacional brasileiro e beneficia não só quem está na sala de aula, mas também os gestores enquanto agentes de transformação da educação.
Até o momento, o ProFuturo ajudou a melhorar a educação de 19,7 milhões de crianças e capacitou mais de 914.000 professores em 40 países. O ProFuturo busca se tornar uma referência global de transformação e inovação em educação e atingir 25 milhões de crianças até 2030.
- Taleemabad – Paquistão
Contexto e problema
O Paquistão tem o segundo maior número de crianças fora da escola no mundo (22,5 milhões) e entre as que vão à escola, muitas exibem níveis de aprendizagem inadequados, com 48% delas incapazes de ler um texto simples em sua língua nativa. Além disso, 66,8% não fazem a transição do ensino fundamental ao médio. Com o início da pandemia da Covid-19, a situação piorou.
Neste cenário, escolas privadas de baixo custo são responsáveis por oferecer educação a 40% de todos os alunos do ensino fundamental a um custo de US$ 2 a US$ 5 por mês.
Solução e impacto
Taleemabad (“cidade da educação”, em urdu) é uma série animada alinhada com o Currículo Nacional do Paquistão, que ensina inglês, urdu, matemática e ciências para crianças do fundamental 1. As histórias são transmitidas na televisão nacional e também estão disponíveis em aplicativo e em material didático para crianças.
Em outro modelo, escolas assumem o nome Taleemabad e todo o sistema de ensino, incluindo programa de formação de professores, aplicativo móvel, planos de aula e livros.
No futuro, a Taleemabad pretende criar um ecossistema educacional onde as crianças assistem Taleemabad na TV enquanto se arrumam para a escola, frequentam uma escola Taleemabad, voltam para casa, revisam uma atividade e a praticam no aplicativo Taleemabad.
- Escolas preparadas para lidar com o trauma (Trauma Informed Schools) – Turquia
Responsável: Maya Vakfı (Foundation)
Contexto e problema
Aproximadamente 3,6 milhões de refugiados sírios estão sob proteção temporária na Turquia, dos quais 1 milhão tem idade escolar. Como parte da política de integração local, as crianças sírias começaram gradualmente a fazer a transição dos Centros de Educação Temporária para as escolas públicas turcas em 2017. No entanto, houve obstáculos devido às experiências traumáticas das crianças refugiadas. Elas sofrem com migração forçada, traumas de guerra, violência entre pares dentro e ao redor da escola, discriminação, barreiras linguísticas. Outro problema advém das práticas generalizadas de casamento precoce e forçado, que representavam grandes desafios para sua integração inclusiva e pacífica no sistema de ensino público.
Solução e impacto
O programa Trauma Informed Schools (Escolas Preparadas para Lidar com o Trauma, em tradução livre) tem como objetivo transformar escolas turcas em um espaço seguro para crianças que sofrem de experiências traumáticas. A intervenção aplica uma abordagem integral, com foco na comunidade escolar. Por meio de treinamentos e oficinas com equipes educacionais e cuidadores, há uma melhor identificação dos problemas psicológicos das crianças e intervenções saudáveis são implementadas. Professores, conselheiros e famílias desenvolvem habilidades para apoiar o bem-estar socioemocional das crianças por meio de uma abordagem sensível ao trauma. Atividades artísticas em salas de aula ajudam os alunos a desenvolver habilidades de enfrentamento, melhorando o bem-estar psicossocial e reduzindo o bullying, criando um ambiente estável e compreensivo para todos.
Entre outubro de 2019 e setembro de 2020, o TIS alcançou diretamente 5.216 crianças (1.467 sírios, 2.749 turcos), 406 professores e 190 cuidadores nas províncias de Istambul e Sanliurfa por meio de atividades presenciais e online. Vídeos e materiais didáticos foram publicados no sistema de educação online do governo e usados por mais de 18 milhões de alunos e milhares de professores.