Para 93% dos professores, defasagem na aprendizagem é principal problema deixado pela pandemia
Dados da TIC Educação 2021 mostram, ainda, que baixa conectividade e ausência de formação dos professores para o uso das tecnologias são barreiras a serem superadas
por Ana Luísa D'Maschio 12 de julho de 2022
Referência nacional sobre acesso à tecnologia e comportamentos online de educadores e estudantes, a pesquisa TIC Educação 2021, divulgada nesta terça-feira (12), comprovou que as dificuldades encontradas no segundo ano da pandemia se mantiveram as mesmas do primeiro ano de distanciamento social. Entre elas, a ausência de dispositivos e internet na casa dos alunos, o aumento da carga horária de trabalho dos docentes e a falta de estrutura para que os pais pudessem apoiar seus filhos nas atividades escolares.
Conduzida pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), os dados foram coletados por telefone com 1.865 professores em meio ao retorno escolar, entre setembro de 2021 e abril de 2022. Entre os entrevistados, 91%, tanto de escolas urbanas quanto rurais, já estavam atuando em regime híbrido (com aulas remotas e presenciais).
Ao contrário de uma educação a distância planejada, com formação e recursos adequados disponíveis, a comunidade escolar atravessou a educação remota emergencial. E o principal meio de comunicação nesse cenário nas escolas públicas, mesmo em 2021, foi o WhatsApp, usado por 95% dos professores, frente a 76% dos educadores de escolas particulares. O material impresso também foi um dos caminhos para manter as atividades escolares, utilizado por 96% dos professores municipais e 89% dos professores estaduais.
“No levantamento realizado em 2020 com gestores escolares, uma proporção similar desses educadores destacou o problema da falta de dispositivos e de conectividade. Embora tenham sido implementadas políticas públicas de apoio aos estudantes e professores, o que podemos observar é que no segundo ano de pandemia dificuldades semelhantes continuaram a ser identificadas, agora pelos professores”, diz Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br/NIC.br.
Educação rural
A zona rural é a grande novidade da pesquisa, que avaliou o cenário tecnológico das escolas do campo pela primeira vez. E os números são mais críticos do que nas regiões urbanas: 92% dos educadores que atuam na área rural dizem que a falta de equipamentos e conexão foi o maior desafio para manter as aulas durante a pandemia (frente a 84% dos educadores das grandes cidades).
A falta de habilidade para ensinar por meio da tecnologia é apontada por 76% dos professores rurais e 66% dos docentes de áreas urbanas, sendo que 36% dos professores do campo afirmaram não ter recebido qualquer apoio para realizar atividades remotas ou híbridas.
“As escolas rurais ainda têm uma questão a mais em relação à conectividade. Em algumas regiões onde estão localizadas as escolas, não há acesso à internet de boa qualidade ou mesmo não há acesso à internet. A oferta de planos de banda larga e de conexão nessas regiões é mais limitada. Então, de fato, nas escolas rurais, nós temos uma situação mais crítica em relação ao uso das tecnologias”, afirma Daniela Costa, coordenadora da pesquisa.
Assista ao lançamento do estudo:
Retorno presencial
Mesmo na volta à escola, uma porcentagem alta de professores mostra a necessidade de ampliação do número de computadores por aluno (82% dos respondentes dizem que o número insuficiente dificulta muito o trabalho), bem como a melhora da conexão de internet (para apoiar o trabalho de 72% dos educadores municipais e 73% dos estaduais). Ao todo, os docentes ainda usam computadores portáteis (58%) ou celular (62%) para apoiar as atividades em sala de aula.
Conectividade e formação dos professores para o uso das tecnologias digitais são os principais problemas retratados. Mais de 818 mil professores não passaram por qualquer formação nos 12 meses que antecederam a pesquisa. Para quem estudou, a autoformação foi um caminho encontrado: 86% disseram aprender sozinhos, outros 80% com o apoio da família e amigos.
“Se observarmos todos os indicadores, sempre temos porcentagens bastante altas para o uso de vídeos: seja os professores gravando para disponibilizá-los aos estudantes, seja os professores utilizando vídeos e tutoriais online para aprender sobre como utilizar esse recurso”, destaca a coordenadora, com os números da pesquisa: nove entre dez educadores recorreram a vídeos ou tutoriais online para o autoaprendizado.
Para 93% dos professores, a defasagem na aprendizagem dos estudantes é o principal problema deixado pela pandemia. Uma das estratégias, apontada por 58% dos entrevistados, são as aulas de recuperação, presenciais ou remotas, com o uso de tecnologias digitais. Nesse aspecto, os ambientes ou plataformas digitais de aprendizagem são uma alternativa, já usada por 71% das escolas urbanas e 55% das escolas rurais.
O aumento da carga de trabalho dos educadores (85%) e as dificuldades no atendimento a alunos com deficiência (76%) foram temas citados por boa parte dos docentes. “Os dados revelam proporção alta em realização de atividades com o apoio das tecnologias digitais. Em contrapartida, os docentes entendem que é necessário aprimorar a conectividade nas escolas e ampliar as estratégias de formação, para que possam adotar efetivamente ferramentas tecnológicas nos processos de ensino e de aprendizagem”, conclui Alexandre.