Ouro para mulheres negras nas Olímpiadas e onde mais elas quiserem - PORVIR
Alexandre Loureiro/COB

Inovações em Educação

Ouro para mulheres negras nas Olímpiadas e onde mais elas quiserem

Nossas atletas inspiram o mundo, mas a falta de investimento em esporte e educação ainda ameaça sonhos no Brasil

por Daniel Bento Teixeira ilustração relógio 23 de agosto de 2024

A campeã olímpica Rebeca Andrade iniciou a carreira após ser descoberta em um projeto social em Guarulhos, cidade paulista onde nasceu. A judoca Bia Souza, também medalhista nas Olimpíadas, é sargento do Exército e se dedica à paixão pelo esporte paralelamente ao trabalho. As histórias de mulheres inspiradoras – mulheres de ouro – viralizaram durante as Olimpíadas de Paris 2024, na qual o Brasil conquistou 20 medalhas, sendo 12 por mulheres e, muitas delas, negras.


Apesar disso, não é preciso observar muito para notar uma realidade ainda desafiadora para o país: a insuficiência de investimento no potencial de crianças, adolescentes e jovens atletas de famílias de baixa renda. A estruturação do esporte é fundamental e deve acontecer de forma correlata à educação. Muitos projetos no mundo, tanto em termos de políticas públicas, como de investimento social privado, aliam educação e esporte. A iniciativa teria grande potencial e impacto no Brasil, porém, por mais que haja avanços recentes na política de apoio a atletas, faltam iniciativas mais amplas e ambiciosas. 

É necessário pavimentar o caminho. E ele precisa promover o esporte e a educação antirracista. O esporte é um lugar de interação e aprendizado mútuo, quebrando preconceitos por meio da própria vivência. Quando eu digo sobre passar do letramento antirracista para a fluência e da fluência para a vivência, penso que temos no esporte uma possibilidade concreta de fazer isso acontecer. As Olimpíadas são inspiradoras para essas oportunidades. 

Nas periferias, o futebol prevalece cada vez menos. Se antes era preciso somente um campinho aberto, uma bola de meia ou de capotão para que as crianças se envolvessem em torno do esporte, hoje até isso está mais restrito diante da especulação imobiliária que concorre com os chamados campos de várzea e espaços que poderiam ser destinados à prática esportiva. Com isso, até mesmo no futebol observamos crescente elitização. O futebol começa a acontecer na grama sintética e vai se retirando das associações esportivas de bairro. 

O mesmo acontece com muitos outros esportes quando não há política estruturada para a promoção da prática, que contribui com a quebra de preconceitos de forma orgânica. 

A Bolsa Atleta ocupa um lugar importante relacionado à questão financeira em certa medida. Muitos esportistas falaram sobre isso, mas ainda assim é preciso ampliar a política e conectá-la de forma estrutural com a educação. Vários países, como os Estados Unidos, têm a escola como lócus de investimento no esporte. Os resultados são proporcionalmente bons. É esse tipo de estrutura que precisa ser ampliada e complementar a ideia de Bolsa Atleta. Evidentemente, é necessário ter orçamento para que isso aconteça, porém observamos gastos públicos maiores em projetos menos benéficos para a população. 

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Considerando o alto número de medalhas conquistadas por mulheres, sendo muitas delas mulheres negras, é fundamental reafirmar o lugar do “se ver possível”. Essa é a marca – o lugar do espelho, a partir de figuras de referência. Durante os jogos, vimos Rebeca Andrade ser ovacionada e admirada por uma figura como a atleta norte-americana Simone Biles, entre outras. Vimos a atriz Viola Davis exaltar a atleta brasileira pelo ouro no solo da ginástica. Tais cenas dizem para as meninas negras que é possível encontrar sucesso em suas escolhas – não somente no esporte, mas em muitas escolhas na vida. Esse é o lugar de se ver possível que transcende o esporte. 


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educação antirracista, olimpíadas

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