Livros e planos de aula para comemorar o Carnaval o ano todo

Um ditado popular diz que o ano no Brasil só começa depois do Carnaval, tamanha a importância dessa data para a cultura nacional. Embora o feriado e a folia de rua durem oficialmente apenas alguns dias, sua influência se estende muito além desse período. E o aprendizado sobre a maior festa do país pode ser explorado na sala de aula ao longo de todo o ano. 

No Brasil, o Carnaval teve início com o “entrudo”, uma brincadeira trazida pelos portugueses, na qual as pessoas jogavam água, farinha e tinta umas nas outras. Com o tempo, a festa foi influenciada pela cultura africana e, no século 20, incorporou alguns elementos dos Carnavais de outros países, como a Itália, com suas mascaradas. A partir dos anos 1930, o samba se consolidou como o ritmo do Carnaval, substituindo as marchinhas populares. 

“O Carnaval é fundamental para a educação porque dialoga com a história, a sociologia, a filosofia e a arte. Ele tem essa transversalidade que atravessa diferentes áreas do conhecimento, como a geografia, pois está diretamente ligado ao território e à forma como ele é vivido”, explica o historiador Luiz Antonio Simas em entrevista ao Porvir. Além disso, o Carnaval permite explorar a língua portuguesa e a literatura, utilizando sambas-enredo para ensinar interpretação de texto, construção narrativa e expressão cultural. 

Esse potencial educativo também se reflete na literatura infantojuvenil, que aborda o Carnaval de diversas formas. Livros para crianças e adolescentes exploram a festa por meio de histórias lúdicas, trazendo personagens que vivenciam a magia dos desfiles, dos blocos de rua e das tradições regionais. 

Especialistas em literatura infantil, como a pesquisadora Juliana Pádua, vice-líder do GEPLIJ (Grupo de Estudos e Pesquisas em Literatura Infantil e Juvenil), e a escritora e ilustradora Gisele Federizzi, selecionaram cinco obras que retratam a história e os detalhes da folia, acompanhadas de sugestões pedagógicas para cada uma delas. Confira:

Aula de samba: a história do Brasil em grandes sambas-enredo

Maria Lucia Rangel e Tino Freitas, com ilustrações de Ziraldo
Editora: Edições de Janeiro

Os filhos de Martinho da Vila costumavam levantavar suspeitas entre seus professores: os três tinham desempenho muito acima da média nas aulas de História. “Culpa dos sambas-enredo”, conta Martinho Filho: foi por meio das letras das escolas de samba cariocas que os irmãos conheceram tão bem a História do Brasil. Ele é o idealizador deste livro ilustrado por Ziraldo, que também virou CD em 2007.

Plano de aula:

A proposta é conversar com os leitores sobre como os sambas-enredo dialogam com a história do nosso país. A partir da leitura deste livro ricamente ilustrado, estimular um olhar sensível e crítico a respeito das letras das músicas que embalaram as escolas de samba nas principais avenidas carnavalescas do Brasil. 

Nesse exercício analítico de viés literário e histórico, os leitores são instigados a contar a relação que possuem com a folia: Há Carnaval em sua cidade? Acompanham as transmissões dos blocos em São Paulo e/ou no Rio de Janeiro? 

Como desdobramento, eles podem brincar com os refrões, fazendo paródias que dialogam com o momento atual, bem como investigarem outros sambas-enredo que a família conhece. 

Nessa dinâmica, toda a comunidade (amigos, vizinhos, pais , tios, avós etc.) é convocada a relembrar canções memoráveis e assim discutir como aspectos políticos, culturais, artísticos, sócio-econômicos, entre outros, são mobilizados na composição das letras e das melodias.

Aula de Carnaval e outros poemas

Ricardo Azevedo
Editora Ática

Nos poemas e ilustrações deste livro, a alegria do Carnaval vai além do feriado e invade o cotidiano. Ela inspira sonhos e ritmos, como nas aulas de viola, cavaquinho e pandeiro. Até o som do despertador ganha vida e se transforma numa animada marchinha.

Plano de aula:

Depois da leitura marcada por ritmos diversos, propor aos leitores que escolham — entre os poemas, as trovas e as adivinhas — o texto que mais gostaram para um mini sarau. 

Com base nessa experiência que brinca com a vocalização das palavras, sugerir a eles que expandam a folia dos sentidos, criando releituras em diferentes gêneros e linguagens (poesias visuais, histórias em quadrinhos, paródias musicadas, charges, podcasts, cartas, manifestos, coreografias, infográficos, vídeos-minutos etc.). 

A proposta é explorar não só a performance leitora, mas também a imaginação criadora. Como ponto de partida, sugere-se uma serpentina de versos autorais.

Histórias encantadas de pequenos sambistas

Cristiano Gouveia, com ilustrações de Tatiana Móes
Editora Pallas

Esta obra apresenta quatro contos de ficção inspirados no encontro de dois mundos: os contos populares e a obra musical de Clementina de Jesus, Chiquinha Gonzaga, Cartola e Adoniran Barbosa. O autor é Cris Gouveia, músico, contador de histórias e responsável pelos cordéis que homenagearam os vencedores da primeira edição do Prêmio Professor Porvir.

Plano de aula: 

A partir da leitura-provocação deste livro que mistura ficção com obra musical, perguntar aos leitores se eles conhecem sambistas da atualidade. 

Para começar o levantamento, sugerir a criação de uma playlist colaborativa com músicas-ícone. Em seguida, à moda dos confetes, sortear papéis coloridos com nomes de grandes personalidades da história do samba (Clementina de Jesus, Chiquinha Gonzaga, Cartola, Ary Barroso, Adoniran Barbosa, Noel Rosa, entre outros) e com temas para uma conversa entre os sambistas. 

Os leitores, em grupos, irão colocar em diálogo os músicos sorteados, criando histórias dos seus encontros a partir das pautas de conversa. O que será que Chiquinha Gonzaga vai dizer para Adoniran Barbosa sobre economia? Será que juntos farão um samba carnavalesco, que mistura “Ó abre alas” e “Saudosa maloca?”.

Fevereiro

Carol Fernandes
Editora Caixote

No mês de fevereiro, a rotina de um menino baiano se transforma. Sua casa recebe os preparativos para o desfile de um dos blocos mais tradicionais da Bahia, o Filhos de Gandhy. O livro é dedicado a Gilberto Gil, figura inseparável da história contemporânea do Filhos de Gandhy e ícone da cultura brasileira.

Plano de aula:

Este livro ilustrado convida os leitores a acompanharem as transformações que se dão na casa de uma criança no mês de fevereiro, quando saí, nas ruas de Salvador, um dos mais importantes blocos carnavalescos: o afoxé Filhos de Gandhy.

Por meio de experiências sensoriais e cinestésicas (cheiros, sabores, movimentos, texturas etc.), os leitores são provocados a refletirem sobre os rituais (sagrados ou não) que envolvem a folia. Como forma de disparar a apreciação estética e o alargamento do olhar sobre o desfile de Carnaval, sugere-se lançar algumas perguntas:

• Quais blocos são conhecidos (ou você, ao menos, já ouviu falar)? 
• Como os nomes desses grupos refletem uma identidade brincante? 
• Quem já participou de algum cortejo pelas ruas da cidade e quais são as preparações necessárias? 
• Quais nomes poderiam ser dados para um bloco festeiro inspirado em obras literárias brasileiras? 
• Qual personagem iria influenciar a criação de uma fantasia ou de um abadá totalmente autoral?

Além da possibilidade de um desfile, propor aos leitores a produção de uma espécie de calendário do advento, onde cada janelinha, bolsão, caixeta ou envelope, em contagem regressiva para o Carnaval (7 dias), traz uma surpresa ligada às memórias (vivências), às histórias (curiosidades) e aos preparativos (canções clássicas, fantasias criativas, confetes biodegradáveis, kits de sobrevivência, entre outros) de uma das festas mais populares do Brasil.

Os Ibeijis e o Carnaval

Helena Theodoro, com ilustrações de Luciana Justiniani Hees
Editora Pallas

O termo “Ibeji” origina-se de duas palavras yorubá: “ibi”, que significa nascimento, e “eji”, que significa dois. Neste livro, uma avó revela aos seus netos gêmeos, Neinho e Lalá, a profunda conexão deles com o Carnaval. Cheios de curiosidade, os gêmeos embarcam em uma jornada para descobrir a história da festa e entender as raízes negras que formam a base da cultura brasileira.

Plano de aula:

Depois da leitura em voz alta, para valorizar o tom de contação de história, fazer uma lista colaborativa com os leitores, na qual são registrados os elementos do Carnaval que misturam folia e religiosidade afro-brasileira. 

Após a identificação da presença dos orixás nessa que é uma das grandes manifestações culturais do país, estimular a confecção de máscaras e de fantasias, buscando formas de expressar por meio de cores, texturas, babados, estampas (adinkras), adornos (conchas, espelhos, palhas etc.), entre outros, as narrativas míticas de tradição oral.

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