Estudo mostra que dever de casa não melhora notas
Pesquisa liderada pela Universidade de Indiana indica, porém, que tais atividades influenciam em desempenho nos vestibulares
por Redação 8 de fevereiro de 2013
Na eleição presidencial francesa, ele esteve na pauta. Houve quem gostasse da novidade, houve quem desaprovasse a hipótese da abolição do dever de casa, levantada pelo então candidato e hoje presidente François Hollande. Nesse momento de revisão de métodos de educação que o mundo vem experimentando, não só a França, mas também a academia tem se questionado se o bom e velho dever de casa é, de fato, tão bom assim. Um estudo liderado por um pesquisador da Universidade de Indiana mostra pouca correlação entre o tempo gasto com dever de casa e notas altas na escola nas disciplinas de ciência e matemática. Por outro lado, indica uma relação estreita entre dedicação ao trabalho de casa e provas padronizadas, como vestibulares e exames do governo.
A pesquisa “Quando o trabalho de casa vale o tempo gasto com ele?” (livre tradução para “When Is Homework Worth the Time?” foi feita por Adam Maltese, professor na Universidade de Indiana, com coautoria de Robert H. Tai, da Universidade de Virgínia, e Xitao Fan, da Universidade de Macau e publicada em novembro passado. Nela, os especialistas examinaram dados de mais de 18 mil alunos de ensino médio a partir de dados de 1990 e 2002 disponíveis no National Center for Education Statistics. “Nossos resultados sugerem que o trabalho de casa não está sendo tão bem usado da forma como poderia”, disse Maltese ao jornal da Universidade de Indiana.
Os autores afirmam ainda que outros fatores, como participação em classe e presença, podem diminuir a associação do trabalho de casa a uma performance melhor nas notas. De acordo com Maltese, o trabalho de casa é mais eficiente em desenvolver as habilidades necessárias para treinar para os testes do que para reter o conteúdo da aula. “Se os estudantes estão gastando mais tempo no dever de casa, eles estão entrando em contato com os tipos de questão e os procedimentos necessários para responder a questões não muito diferentes dos testes padronizados”, afirmou.
Maltese, no entanto, deixa claro: “Nós não estamos tentando dizer que todo os deveres de casa são ruins”. A sua intenção, afirma, é chamar a atenção para o fato de que o trabalho de casa deve ser um momento de reflexão, muito mais do que de repetição. “O nosso argumento é que a preocupação deveria ser mais com a qualidade do que com a quantidade. Em matemática, em vez de fazer os mesmos tipos de problemas várias vezes, talvez fosse interessante colocar os alunos para analisar novos tipos de problemas ou dados. Em ciências, talvez os estudantes devessem fazer resumos sobre os conceitos em vez de apenas lerem um capítulo e responderem a uma questão no final.”
Colega de Maltese, Tai considera que os dados da pesquisa apontam para a necessidade de o trabalho de casa ser mais propositivo. “O objetivo deveria ser entendido tanto pelos professores quanto pelos alunos (…) No ambiente atual de educação, com atividades tomando tempo das crianças dentro e fora da escola, cada trabalho de casa deve ser direcionado e ter seu objetivo claro”, disse Tal. “Com trabalho de casa, mais não significa ser melhor”, completou.
Nas conclusões, os autores alertam também para a necessidade de haver mais pesquisas sobre o formato e função das tarefas de casa para que as escolas públicas melhorem em ciência, tecnologia e matemática.
Com informações da Research IU Bloomington