“Todos podem empreender e devem abraçar essa tarefa”
Pioneiro no ensino de empreendedorismo, Fernando Dolabela diz que empreender é transformar sonhos em realidade
por Redação 18 de abril de 2013
Criador dos maiores programas de ensino de empreendedorismo do país, Fernando Dolabela acredita que empreender é transformar sonhos em realidade. No ensino superior, Dolabela implantou a metodologia Oficina do Empreendedor em mais de 400 instituições, capacitando cerca de 5 mil professores. Nas escolas públicas, a Pedagogia Empreendedora (educação empreendedora para a educação infantil, ensino fundamental e médio) é aplicada em redes de mais de 140 cidades.“Eu preparo crianças para serem empreendedoras naquilo que quiserem. Não tem sentido estimular crianças, nem ninguém, a abrir empresas. Elas são convidadas a transformar seus sonhos em realidade. E a partir daí surgem as ideias”, diz o professor, pioneiro no ensino de empreendedorismo no Brasil.
Para ele, o empreendedorismo é o principal instrumento de transformação social e erradicação da miséria. “Permite a transição do assistencialismo para a sustentabilidade e pode dar um passo adiante no Bolsa Família”, diz Dolabela. Empreendedorismo é algo que nasce dentro das pessoas e não exige talento, nem habilidades cognitivas, mas sim paixão: “todos nós podemos empreender e devemos abraçar essa tarefa”.
Consultor e professor da Fundação Dom Cabral, da CNI-IEL Nacional, do CNPq, da AED (Agência de Educação para o Desenvolvimento) e de diversas universidades, o ex-professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é também autor de livros sobre empreendedorismo e dos softwares MakeMoney e Minha Empresa de elaboração de plano de negócios. Leia a entrevista que o professor concedeu ao Porvir por telefone de Minas Gerais, onde vive:
Como você define empreendedorismo?
Empreendedorismo trata da transformação de sonhos, desejos e conhecimento em riqueza para a população. O empreendedor é a pessoa que transforma conhecimento em riqueza em qualquer área como, por exemplo, quem transforma uma partitura em música. Alguém que gera valor para a sociedade. Essa é a definição ética. Em termos de exploração acadêmica e pesquisa o tema é recente, por isso parece ser algo novo, mas os empreendedores sempre existiram, desde o início da civilização. Eles só não aprendiam isso na escola.
Qual é a importância de ensinarmos o empreendedorismo na educação básica e no ensino superior?
Porque ele é absolutamente central. É o único instrumento que funciona para combater a miséria, para o desenvolvimento e crescimento social. A riqueza é gerada por empreendedores. Não há crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) sem empreendedores. A sociedade brasileira não se deu conta ainda de que empreendedorismo é algo universal. Não é acessório, nem específico. Não é algo que precisa de um talento específico, todos nós podemos empreender e devemos abraçar essa tarefa.
Como trabalhar empreendedorismo nas escolas e ir além da criação de empresas?
Existem várias metodologias. Estamos falando de um conteúdo que não é universal, ele traz as idiossincrasias de quem cria a metodologia. Eu preparo crianças para serem empreendedoras naquilo que quiserem. Não tem sentido estimular crianças, nem ninguém, a abrir empresas. Elas são convidadas a transformar seus sonhos em realidade. E a partir daí surgem as ideias. Estamos falando de um campo muito específico. O empreendedorismo nasce dentro da pessoa. Não é um tema cognitivo. É um processo guiado pela emoção; é paixão, é vida. Poucas metodologias abordam o tema dessa forma. Os teóricos (a maioria que eu conheço) acham que empreendedorismo é algo que existe como existe marketing, finanças, jornalismo. E não é. Ele existe a partir de um desejo e do conjunto de saberes e experiências de uma pessoa.
Os jovens que estão no ensino superior sabem empreender ou isso é algo novo para eles?
É novo, porque empreendedorismo é um conteúdo cultural. É uma forma de pensar de uma família, de uma comunidade, de uma cidade, de um país. É um jeitão de ver a vida. E o Brasil historicamente estimulou a relação de trabalho no formato “patrão e empregado”, comando e controle. Os jovens respiram isso e querem um emprego ou passar em um concurso público. O Brasil estimula que as pessoas busquem o serviço público não porque é algo nobre, mas pelos benefícios. Nós não criamos uma cultura empreendedora.
O Brasil é um país empreendedor? Quais impactos que o comportamento e a falta de uma cultura empreendedora podem ter na economia?
Estamos falando no único instrumento que permite a transição do assistencialismo para a sustentabilidade e que pode dar um passo adiante no Bolsa Família e provocar justiça social sustentável. Quem gera riqueza é o empreendedor. Evoluímos, mas numa quantidade e intensidade muito aquém de países como Coréia, Israel, Finlândia – sem falar nos tradicionais. Ainda não temos massa crítica suficiente para transportar o nosso país para a alta tecnologia. Ainda estamos em uma economia baseada em roça e mina. Há avanços, mas não no ritmo que nos interessa.
Sua visão sobre o empreendedorismo é de que ele deve ter um caráter de desenvolvimento social, combate à miséria, sendo uma ferramenta de geração e distribuição de renda?
Minha proposta é de sustentabilidade. Todo o meu trabalho é voltado para as classes pobres saírem dessa condição.Trabalho com a base da pirâmide. Acredito que o empreendedorismo pode eliminar a miséria e que só tem sentido se for desenvolvido em grandes quantidades. A sociedade tem que fazer uma mudança cultural, uma transição para ser empreendedora.