Um exército contra os diplomas tradicionais
Plataforma Degreed conta com parceiros de peso para registrar todas as oportunidades de aprendizado da vida
por Patrícia Gomes 7 de fevereiro de 2014
Um exército está sendo montado para lutar contra os diplomas tradicionais. Desse time já fazem parte a Microsoft Virtual Academy, a Khan Academy, o Coursera e uma série de outros sites que oferecem cursos on-line. Eles são capitaneados pela Degreed, uma plataforma que ajuda a catalogar todas as formas acesso a conhecimento que uma pessoa tem na vida. E dá nota para isso. A graduação em jornalismo na UERJ rende 3.682 pontos. Um curso de 6 horas no Coursera, 12. Livros somam a partir de 10 pontos e artigos de jornal e vídeos valem alguns décimos.
“Se você perguntar para alguém sobre sua educação, essa pessoa vai dizer em que universidade ele estudou. Não temos outras boas ferramentas para comunicar o restante do nosso aprendizado”, afirma David Blake, cofundador da Degreed, em entrevista ao Porvir. A plataforma foi lançada em janeiro passado e, com sua missão de “fugir da prisão” dos diplomas já levantou US$ 900 mil em doações e acaba completar o ciclo de três meses de aceleração da TechStars, aceleradora que tem 75 investidores e é uma das mais renomadas e disputadas do mundo da tecnologia – quase 2.000 startups chegam a disputar suas 11 vagas.
Blake, que com a Degreed já está na sua terceira startup de edtech, critica a ineficiência dos diplomas para mostrar o que um estudante ou funcionário realmente sabe. Para ele, na vida, as pessoas vivem muitas experiências de aprendizado fora das salas de aula universitárias. “Se os diplomas se tornaram uma moeda, esse mercado está sendo dominado por apenas um tipo de moeda. Com todas essas formas de aprender emergindo, isso se torna algo muito problemático. O diploma universitário é velho e binário”, diz o empreendedor, referindo-se à incapacidade de certificados oficiais de reportar, por exemplo, cursos completados por um aluno que abandonou a faculdade no último ano. “Se você desiste faltando uma disciplina para se formar, você não recebe 95% dos créditos da universidade. Você não recebe nada. E nada do que você estuda depois de se formar entra no diploma”, completa.
Baseada nos EUA, a startup surge em um momento de consolidação dos cursos on-line, a maioria gratuitos, voltados para o público universitário. “Os Moocs mudaram o tom da conversa. As universidades estão começando a entender que os estudantes e suas necessidades estão mudando. As instituições estão se fazendo perguntas muito difíceis sobre seu próprio futuro. Mas, dito isso, também acho que elas são estruturadas para avançar apenas muito lentamente”, afirma Blake. Apenas Coursera e EdX, para se ter uma idea, já têm juntos mais de 6 milhões de usuários e 130 instituições de ensino parceiras, com mais de 600 cursos oferecidos. Paralelamente à emergência dos Moocs, o país discute também o endividamento estudantil pelo alto custo de se cursar uma universidade e as altas taxas de abandono.
Segundo Blake, a Degreed é voltada a três tipos distintos de público. O primeiro é formado por empregadores, que passam a entender melhor os talentos da empresa. O segundo conta com recrutadores, que conseguem identificar candidatos com as habilidades de que precisa. O terceiro é o próprio usuário, que pode fazer da plataforma um meio de sistematizar seus conhecimentos, descobrir novas fontes de informação e estabelecer metas individuais de desenvolvimento.
A Degreed de dentro para fora
Criar um perfil na Degreed é grátis. Ao entrar no site, o estudante pode adicionar suas experiências de aprendizado formais e informais na categoria cursos e condecorações. Para acrescentar a universidade, é preciso que ela seja uma das 13.000 já cadastradas – existem dezenas de instituições brasileiras nessa lista. Ao inserir o curso, o próprio sistema traz a lista de disciplinas que o usuário cursou e dá uma nota para elas. Só é possível inserir cursos de universidades que tenham sido cadastradas. Na mesma categoria, é possível adicionar cursos on-line feitos em plataformas como Microsoft Virtual Academy, Coursera, EdX, Udacity e NovoEd.
A segunda categoria que o usuário deve preencher é o de conferências e eventos; a terceira, livros; e a quarta é formada por artigos e vídeos. O usuário pode anexar históricos e certificados que comprovem as informações que está prestando. No futuro, a equipe da Degreed vai oferecer um serviço de conferência de dados, para o qual vai cobrar uma taxa.
Além da área de preenchimento de perfil, o usuário tem também a oportunidade de acessar outras seções: aprendizado e caminhos. No aprendizado, a partir do perfil que vai montando, o sistema sugere cursos, livros, artigos e vídeos que possam interessá-lo. Em caminhos, o sistema oferece introdução a alguns temas – se você é um jornalista interessado por educação, poderá ser iniciado aos conceitos de design thinking e gamification, por exemplo.
A forma de cálculo dessa nota é um dos segredos do algoritmo de Blake. Mas, ao colocar cursos formais e informais e demais aprendizados na mesma régua, ele está passando uma mensagem: os diplomas não são mais suficientes. O exército já está em marcha.