‘Se não tiver projeto de vida, terá projeto de morte’
Para especialista em psicologia educacional, é fundamental que jovens sejam estimulados a inovar, a empreender e a criar
por Fernanda Kalena 11 de março de 2014
Vivemos hoje um mundo com poucas referências sobre o que fazer e como viver, com muitas incertezas: empresas abrem, se fundem, fecham com uma velocidade muito grande. O cenário para o jovem formar um projeto de vida é nebuloso, sem um norte claro, afirma o especialista em psicologia educacional Leo Fraiman. Para ele, ajudar os jovens a desenvolver um projeto de vida é fundamental para que eles tenham um futuro promissor. E, diante desse mundo competitivo, a solução é instigar o jovem a sair de sua zona de conforto e aprender com o mundo. “Se os adolescentes não tiverem um estímulo de inovar, criar e empreender, se os jovens não tiverem um projeto de vida, vão ter um projeto de morte, com gravidez precoce, depressão, apatia, consumo de drogas e obesidade”, alerta Fraiman.
Segundo o especialista, durante a adolescência o consumo de álcool uma vez por semana já afeta o desenvolvimento do córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pelas funções intelectuais superiores, como tomada de decisão, raciocínio, resolução de problemas e capacidade de abstração de conceitos e lógica. “No meu consultório, atendo a um número cada vez maior de adolescentes que têm acesso a tudo, mas que não querem nada com nada e estão estragando a vida com o consumo elevado de drogas e álcool. Eles sentem a vida sem sentido”, conta o psicoterapeuta.
Para ele, esse sentimento de vazio é reforçado cotidianamente pelas notícias de violência e tragédia que estão cada vez mais frequentes na internet e televisão, o que aumenta a necessidade de dar amparo àqueles que ainda estão se formando enquanto indivíduos. “É preciso desenvolver um trabalho sistemático, motivador e bem organizado com os jovens para inspirá-los. O projeto de vida para a maioria das pessoas não vem vocacionado desde criança, tem que ser descoberto”. Para isso, segundo Fraiman, é preciso expor os jovens a novas ideias, novas culturas, para afastá-los da sua própria realidade e ampliar seus repertórios culturais e sociais. “Se o cérebro não for provocado, o jovem não cria sinapses sobre o que de fato é o mundo. Ele passa sua vida vivendo em um carro blindado”, completa.
Nesse contexto, o envolvimento dos pais e da escola é fundamental para a construção desse projeto de vida. “Na prática, o papel da escola hoje é contribuir em duas dimensões: transmitir o conhecimento, sem o qual os alunos não entram em uma boa universidade, e também estimular esse estudante, provocar o cérebro e ensina-lo a pensar, pois ele vai encarar um mundo em constante mudança. Estamos hoje formando jovens para ocupações que ainda nem existem”, afirma o especialista.
Em relação ao papel dos pais, Fraiman defende que ele tem que ser complementar ao trabalho da escola. “Os valores têm que vir de casa para ser reforçados na escola. Os pais precisam ajudar o filho a ser o melhor que ele pode ser, ajudar o jovem a chegar na melhor versão de si mesmo. Encaminhar para o mundo uma pessoa íntegra e preparada”.
Além de embasar, os pais também têm que acompanhar o processo de aprendizagem e reforçar o treino de limites, de ensinar a esperar e obedecer regras. “Adolescente folgado, adulto desempregado. Ninguém tolera essa postura no mercado de trabalho. Pessoas assim, provavelmente, foram vítimas de famílias e escolas que não exigiram delas um comportamento diferente. O pai tem que colaborar com o limite que a escola dá, não existe resultado positivo sem parceria com a instituição de ensino”, conclui.
Leo Fraiman participa entre os dias 14 e 16 de março do G.A.T.E., evento de educação promovido pelo STB que vai reunir especialistas e mais de 70 instituições internacionais de ensino em São Paulo.