Escola aproxima crianças e adolescentes da programação
MadCode oferece aulas de tecnologia criativa, incluindo programação, robótica e empreendedorismo
por Marina Lopes 29 de janeiro de 2015
Em um mundo repleto de tecnologia, dominar ao menos uma linguagem de programação está se tornando habilidade tão importante quanto aprender uma nova língua. Prova disso é que países como a Inglaterra já adotaram no seu currículo primário matérias para ensinar às crianças a linguagem falada pelo computador. No Brasil, a tendência ganha força com o surgimento de escolas especializadas. Entre elas, está a MadCode, com sede localizada na região dos Jardins, zona oeste de São Paulo. Com foco no público infanto-juvenil, o espaço também oferece aulas de robótica e empreendedorismo.
O projeto de montar um espaço dedicado ao ensino de tecnologia criativa foi ideia de três dos quatro sócios da empresa que também são pais. Liderados pelo empresário Daniel Cleffi, executivo com passagem pelo setor de educação da Microsoft, eles procuravam por maneiras de estimular a capacidade de raciocínio e lógica dos seus filhos. Entre pesquisas, a programação apareceu como uma boa alternativa. “Era isso que a gente queria para eles, mas talvez isso fosse mais do que apenas um ensino para os nossos filhos”, recorda.
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Inaugurada em outubro do ano passado, a escola também já conta com uma outra unidade no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. A MadCode oferece aulas para crianças e adolescentes, de 4 a 17 anos, em cursos classificados por faixa etária. Enquanto os mais novos participam de oficinas que trabalham tecnologia criativa com jogos e atividades lúdicas, os mais velhos contam com opções como programação, robótica, construção de aplicativos, construção de games e empreendedorismo (a partir dos 14 anos). O investimento varia entre R$ 350 e R$ 500, dependendo do curso escolhido e da faixa etária.
Um método por trás dos códigos
Todas as atividades são estruturadas em torno da motivação e o interesse de cada um. A MadCode trabalha com a metodologia do aprendizado baseado em desafios, que estimula o aluno a ter uma grande ideia e encontrar caminhos para colocar o seu projeto em prática. O método, conhecido em inglês como Challenge-based Learning (CBL), é utilizado pela equipe de educação da Apple e tem raízes no trabalho do filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey. Durante uma aula, que é dividida em fases, a criança ou o adolescente deve levantar questões sobre o seu projeto, identificar o desafio e propor soluções para resolvê-lo. “A grande ideia é o que o aluno quer fazer no final desse ciclo”, conta Cleffi, exemplificando que isso pode ser a criação de um jogo ou um aplicativo.
“Não é um curso de programação que morre nele mesmo. Existe um estímulo de pensamento inovador, resoluções de problemas, empreendedorismo e uma série de questões”, defende o doutor em pedagogia e mestre em psicologia Ricardo Schers, diretor pedagógico da MadCode. Segundo ele, a partir do domínio da nova linguagem o aluno amplia a sua visão de mundo, estabelecendo condições de criar e agir para gerar transformações.
A escola se propõe a ter um papel de alfabetização digital, conforme apontou o fundador Daniel Cleffi. A ideia é mostrar para as crianças o que existe por trás da tecnologia e como aprender dominá-la, independente se vão seguir uma carreira técnica na área. “A escola básica alfabetiza no português, em uma segunda língua e, talvez, até em uma terceira. Mas, hoje em dia, ser alfabetizado digitalmente é tão importante quanto aprender uma língua.”
Após participar de um módulo de programação durante as férias, Gabriel Souza, 13, diz olhar para os jogos de uma outra forma. “Passei a dar mais valor para eles depois que vi o trabalho que dá programar”, conta o garoto, que desenvolveu quatro jogos durante o curso. Segundo ele, o interesse pela programação surgiu quando assistiu a um vídeo na internet sobre a Hora do Código – movimento global que estimula interessados de diversos países a aprenderem conceitos e a lógica da programação (leia mais Porvir). Sua motivação em aprender também contagiou o irmão mais novo Guilherme Souza, 10. Para o menino, a parte mais legal do curso foi perceber que poderia desenvolver o seu próprio jogo. “Eu vi que programação é como se fosse um trabalho e uma diversão também”, define.
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Aliás, essa união entre trabalho e diversão pode ser observada na interação dos estudantes com as aulas. Em um canto, um garoto coloca as mãos no queixo, enquanto pensa em uma solução para completar a sua atividade. Do outro lado da sala, uma menina e um menino interagem para completar o jogo que estão produzindo juntos. Na turma dos pequenos, dois meninos dão gargalhadas e quebram a cabeça para fazer o “robozinho” do seu jogo chegar até o local desejado.
Na hora de programar o próprio jogo, Marco Antônio Peixoto, 11, diz que é bom contar com ideias de colegas. “Às vezes você não tem uma ideia boa e seu amigo dá uma sugestão. Aí surge uma ideia ótima”, conta o menino, de forma empolgada. Para o diretor pedagógico Ricardo Schers, a cooperação é um ponto interessante que pode ser observado no curso. Segundo ele, é comum que os alunos troquem experiências e contem com os colegas para testar as suas criações.
Aprender desde cedo
“Nós não estamos aqui para produzir gênios. Não temos essa fixação de produzir Zuckerbergs e Gates, mas acreditamos que esse estímulo pode ajudar a revelar talentos”, defende Cleffi, fazendo alusão aos grandes protagonistas da tecnologia de Facebook e Microsoft, respectivamente, que ingressaram desde cedo no universo dos códigos.
Para o matemático Fábio Hirano, professor de robótica educacional e diretor técnico da MadCode, a lógica da programação e da robótica é um aprendizado que pode estar ao alcance de todos. Em 2014, Hirano treinou a equipe brasileira que ganhou medalhas nas Olimpíadas de Robótica no Japão. No entanto, deixou a competição de lado para investir na difusão do conhecimento. “Não quero me especializar em dar aulas para um gênio. Eu quero que todo mundo possa aprender robótica e programação.”
Quando um aluno aprende a programar, ele desenvolve habilidades que o ajudam a pensar de forma estrutura, conforme explicou o matemático. Segundo ele, esse tipo de raciocínio é muito semelhante ao método científico. “Em um país como o nosso que, infelizmente, tem um déficit absurdo no desenvolvimento das ciências, ensinar as crianças desde cedo é a chave para a gente conseguir evoluir.”
E para apostar em ideias inovadoras que podem surgir com os projetos desenvolvidos pelos alunos, a MadCode irá investir na criação de uma incubadora. A ideia é que além do curso de empreendedorismo, os adolescentes poderão contar com uma estrutura para colocar as suas ideias em prática, recebendo suporte para o seu negócio nos setores financeiro, jurídico, comercial e de marketing. Além disso, a escola também diz ter fechado um acordo para que seus alunos tenham a possibilidade de fazer um intercâmbio em uma instituição no Vale do Silício, na Califórnia (EUA).