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Inovações em Educação

Pensar diferente resolve problemas

Na abertura do SXSWEdu, nos EUA, professora com autismo defende que não se deve rotular as crianças, mas estimulá-las a se desenvolverem no que são boas

por Tatiana Klix ilustração relógio 8 de março de 2016

Temple Grandin é professora de zoologia da Universidade de Colorado, tem mais de 10 livros e centenas de artigos publicados. Realizou pesquisas sobre comportamento animal e desenvolveu equipamentos e instalações para a pecuária. Sua vida também já foi tema de um filme, deu dezenas de entrevistas e foi responsável nesta segunda-feira (7) pela palestra de abertura do SXSWEdu, em Austin, nos Estados Unidos.

Mas quando era criança, acharam que ela era “retardada”, segundo contou a uma plateia de cerca de 5 mil pessoas, entre professores, empreendedores, gestores educacionais, investidores e profissionais de organizações não-governamentais que vibraram com seu depoimento, o primeiro em um evento sobre educação de quatro dias que tem 400 sessões na programação com mais de 1.000 palestrantes.

Diagnosticada com autismo na década de 50, ela começou a falar apenas quando tinha quatro anos, sempre teve dificuldade com álgebra no colégio e sofria bullying na adolescência porque costumava repetir frases o tempo todo. Hoje, é considerada a profissional mais bem sucedida e famosa nos EUA com a doença. “Se o autismo é algo importante na minha vida é bom que vocês saibam que metade do gado desse país é abrigado em currais que eu inventei”, fez questão de contar.

IMG-20160308-WA0011Crédito: Tatiana Klix / Porvir

Temple explica sua competência para trabalhar e desenvolver instalações para animais a partir da forma como o seu cérebro funciona. “Eu penso visualmente. Só penso a partir de fotos. Sem elas, não penso nada”, contou, ao introduzir o tema da sua palestra Helping Different Kinds of Minds Solve Problems (Ajudando Diferentes Tipos de Mentes a Resolver Problemas, em livre tradução). “Quem é um pensador visual observa detalhes, assim como os animais”, acrescentou a professora.

Segundo discorreu, existem diferentes formas de pensar: a visual, da própria palestrante, que observa o mundo a partir de associações, mas tem dificuldade em álgebra; a espacial, que enxerga padrões, o que facilita o aprendizado de matemática e programação e dificulta o de leitura; a verbal, que entende o mundo através da linguagem e muitas vezes não consegue se expressar desenhando; e a auditiva, que tem uma percepção visual fragmentada.

“Quando aprendi que o pensamento visual era diferente do pensamento verbal, entendi que diferentes tipos de cérebros resolvem problemas distintos”, afirmou. Para Temple, as crianças estão sendo classificadas e rotuladas, ora como autistas, ora como portadoras de alguma síndrome ou de transtorno de déficit de atenção. “Precisamos focar no que elas são boas e proporcionar que elas desenvolvam isso”, defende.

Quando aprendi que o pensamento visual era diferente do pensamento verbal, entendi que diferentes tipos de cérebros resolvem problemas distintos

As diferentes formas de pensar são complementares, segundo pesquisas expostas por Temple no SXSWEdu, e equipes que reúnam essas mentes distintas são capazes de resolver problemas complexos. Para justificar sua crença, ela citou Steve Jobs, um artista que teria contado com engenheiros (pensadores espaciais) para fazer seus produtos funcionarem.

Por isso, ela defende que é preciso construir oportunidades para as crianças, mostrar coisas interessantes a elas e expô-las a diferentes experiências. “Algumas pessoas aprendem fácil programação, eu nunca aprendi. Bill Gates teve acesso a computadores na mesma época que eu, mas ele teve facilidade para programar”, diz. Da mesma forma, Temple lembrou que existem diferentes formas de ensinar, algumas mais verbais e outras mais visuais, e é importante que as crianças com mentes diferentes tenham a opção de aprender como é mais natural para elas.

Outra preocupação de Temple é o distanciamento das crianças do mundo prático. Segundo ela, ninguém mais cozinha, faz coisas com as mãos e muitas pessoas nem sabem de onde vem os alimentos. Por isso, é uma entusiasta das impressoras 3D. “Elas trazem a tecnologia de volta para o mundo real. Se você não desenhar direito o que vai imprimir, depois o produto quebra. E você ainda precisa tocar o objeto!”.

Para Temple, a falta de experiências práticas está deixando os jovens pouco confiantes, com medo de enfrentar oportunidades e desafios na vida. “Aulas práticas ensinam a resolver problemas reais”, concluiu.

Confira sua apresentação no SXSWEdu:

 

A editora do Porvir, Tatiana Klix, acompanha o SXSWedu de Austin.


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educação mão na massa, inclusão, personalização, sxswedu

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