Empreendedor aposta no professor para aplicativo chegar à escola
Terceira edição do Conecte-C, promovido pelo CIEB, compartilha a experiência de Guido Kovalskys no setor de edtech dos EUA
por Marina Lopes 27 de julho de 2016
Como as soluções educacionais podem cruzar o portão da escola? No Vale do Silício, região da Califórnia (EUA) que concentra empresas de tecnologia de ponta, um empreendedor decidiu apostar no professor como protagonista na escolha de tecnologia educacional. Durante o terceiro encontro do Conecte-C, promovido pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), em São Paulo, nesta terça-feira (26), Guido Kovalskys compartilhou a sua experiência à frente da Nearpod, que transforma o celular em aliado na sala de aula.
Lançada em 2012, em Miami, nos Estados Unidos, a Nearpod ajuda professores a criarem experiências de aprendizagem que ampliam o engajamento na sala de aula. Disponível para download gratuito na Apple Store e Google Play, a ferramenta permite criar e customizar apresentações interativas, que podem ser compartilhadas com os alunos, em tempo real, por meio de computadores, tablets e smartphones. “O problema que a gente está tentando resolver é ajudar o professor pelo caminho difícil de sair de uma aula basicamente analógica para a uma aula digital”, explicou Kovalskys.
Como foram os outros Conecte-C:
– Modelo de gestão defasado emperra compras de tecnologias educacionais
– Secretarias são transatlânticos cheios de alunos, diz gestora do Rio
Durante o evento, que reuniu diferentes atores do ecossistema de inovação na educação pública, o empreendedor detalhou o modelo de negócios que adotou para fazer a ferramenta chegar até as escolas norte-americanas. Por meio da disponibilização gratuita do aplicativo, ele encontrou um caminho mais simples para ultrapassar as barreiras da escola, que muitas vezes se fecha em uma fortaleza difícil de ser adentrada pelo empreendedor. “O professor é a pessoa que vai me ajudar a chegar na escola”, mencionou Kovalskys.
Antes de apresentar a sua solução para uma instituição, o Kovalskys conta que utiliza o indicador de atividade dos professores dentro da escola. A partir do momento em que a ferramenta já é utilizada por um número considerável de educadores, a equipe da Nearpod entra em contato com a instituição para oferecer licenças escolares e distritais, que incluem benefícios adicionais e permitem ter acesso aos dados de utilização. Dentro da ferramenta, além de permitir a criação de materiais próprios, a Nearpod também oferece conteúdos pagos que são produzidos por editoras ou professores aprovados no seu programa de autores.
Em um cenário bastante competitivo em que a presença de grandes empresas de tecnologia aumenta cada vez mais, encontrar um caminho sustentável dentro do universo das edtech depende de um alvo, segundo Kovalskys. “Foco é uma das coisas que eu aprendi com os meus colegas do Vale do Silício. Você tem direito a fazer uma coisa. Faz bem ou faz errado, mas faz uma”, afirmou, ao justificar a sua concentração no mercado norte-americano.
Essa estratégia também se aplica ao desenvolvimento do produto. Ao invés de prever um plano B capaz de driblar a falta de conectividade nas escolas, o empreendedor diz que decidiu assumir que o acesso à internet é uma premissa para utilizar o produto. “É uma decisão bem consciente que eu tomo. Para Nearpod dar certo em longo prazo, a internet tem que ser como a eletricidade. Enquanto não for, essa sala [de aula] não está pronta.”
Com esse modelo em mãos, ele conta que no último ano a empresa faturou quase US$ 10 milhões, sendo que 80% da receita veio da venda para escolas, que têm poder de decisão para efetuar a compra direta. Embora reconheça que a sua experiência de produto pode ser válida para os empreendedores brasileiros, Kovalskys diz que o modelo de monetização deve ser reconsiderado. “Aqui tem que ser mais criativo, porque vender para a escola eu acho bem difícil”, avaliou. “A analogia não é muito válida, mas alguém tem que tentar”, encoraja.