'A gente só aprende realmente aquilo que sente' - PORVIR
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Inovações em Educação

‘A gente só aprende realmente aquilo que sente’

Participantes da conversa "Sentir é Aprender, Aprender é Sentir" destacam a importância de vivências e da escuta ativa para que estudantes compreendam seus sentimentos, como citou a escritora Conceição Evaristo

Parceria com LIV

por Ruam Oliveira ilustração relógio 25 de agosto de 2021

“A emoção nos constitui. E acho que segurar as emoções ou não poder viver as emoções nos embrutece”, disse a escritora Conceição Evaristo. No momento em que as atenções das escolas começam a se voltar cada vez mais para o aspecto socioemocional, entender o espaço que os sentimentos ocupam no cotidiano escolar é fundamental.

Participante da roda de conversa “Sentir é Aprender, Aprender é Sentir”, realizada na terça-feira (24), durante o 3º Congresso LIV Virtual, a escritora destaca que os aprendizados mais significativos que viveu passaram fundamentalmente pelo âmbito emocional.

Por já ter trabalhado com educação infantil, Conceição diz que quando o assunto é emoção, a criança tem muito o que ensinar. “Ela não tem autocensura com o sentimento. Se está feliz canta, dança, se está triste chora, grita, diz que não. Ao crescer, a gente vai aprendendo a não revelar os sentimentos”, disse.

O aprendizado, para a escritora, passa pela forma como os assuntos, conteúdos e práticas atingem as pessoas emocionalmente. “A gente só aprende realmente aquilo que sente”. Tecendo uma comparação entre as coisas que os estudantes são levados a memorizar ou decorar, ela aponta que isso raramente permanece e diz ser mais provável que um aluno se recorde do rosto de um professor que tenha sido marcante ao longo de sua vida escolar.

Quadro da transmissão do 3º Congresso LIV virtual - Sentir é aprender, aprender é sentir. Participam a Jornalista Glória Maria, a escritora Lilia Schwarcz, a escritora Conceição Evaristo, o músico Emicida, o psicólogo Lucas Veiga e a professora Lilia MeloCrédito: Reprodução

Participaram da conversa mediada pela jornalista Glória Maria, a historiadora e escritora Lilia Schwarcz, a escritora Conceição Evaristo, o músico Emicida, o psicólogo Lucas Veiga e a professora Lilia Melo.

Sob moderação da jornalista Glória Maria, os participantes refletiram sobre os impactos das emoções em suas vidas. O músico e escritor Emicida, também presente na atividade, destacou que compreender os sentimentos é uma tarefa que acompanha todas as pessoas durante toda a trajetória de vida, pontuando que a diferença que vem com o amadurecimento é identificar quais espaços as emoções ocupam em cada um.

“Às vezes vejo as pessoas falarem que lidar com as emoções precisa ser uma coisa prática, mas a verdade é que nós temos que estabelecer passinhos de formiga nessa história. Viver um dia de cada vez porque somos bombardeados com um turbilhão de histórias. Eu acho que isso atravessa toda a experiência humana”, apontou o músico.

Às vezes vejo as pessoas falarem que lidar com as emoções precisa ser uma coisa prática, mas a verdade é que nós temos que estabelecer passinhos de formiga nessa história

Saber lidar com os sentimentos é uma aprendizagem constante. A educadora Lília Melo, que também é escritora e ensaísta, reforçou que é importante compreender, dentro do processo de aprendizado, que as pessoas estarão o tempo inteiro uma em contato com as outras e, com isso, tendo acesso a sentimentos diferentes e jeitos de se expressar. Por isso, esses fatores devem fazer parte da estratégia de encorajar que os estudantes sejam mais empáticos, por exemplo. “Quando me disponho a ouvir, compreender e respeitar os outros, estou fazendo isso comigo mesmo.”

Esse trabalho de escuta ativa precisa ser constante para trabalhar o lado socioemocional de jovens e crianças em fase escolar. A historiadora Lilia M. Schwarcz destacou que há diferença entre ouvir e escutar, sendo ouvir uma habilidade física, enquanto escutar configura uma “opção cultural e emocional”. A tarefa, para a historiadora, é descobrir como furar a barreira da escuta.

“Penso que nem toda emoção deve ser controlada. Algumas emoções são pura potência. Eu, como pesquisadora, não raro me emociono. A emoção que é genuína parte do processo de escuta e transformação”, disse.

Penso que nem toda emoção deve ser controlada. Algumas emoções são pura potência. Eu, como pesquisadora, não raro me emociono. A emoção que é genuína parte do processo de escuta e transformação

Um recurso fundamental para ajudar as crianças e adolescentes a lidarem com aquilo que as afeta é ter a possibilidade de elaborar experiências vividas. “A gente percebe que a criança teve algum desconforto, algo que ela está sinalizando e que não passou pela palavra. E essa emoção que não conseguiu ser traduzida pode tanto expressar um mal estar físico quanto uma atitude ou comportamento considerado inadequado”, disse o psicólogo e consultor em saúde mental Lucas Veiga.

Lucas também ressalta a importância de construir um ambiente familiar ou escolar em que as emoções podem ser expressas. Em uma situação como a da pandemia, segundo ele, a reflexão precisa levar em conta os sentidos produzidos por este tempo e modificá-los.

“Essa perturbação, angústia e mal-estar que esse tempo presente gera podem ser traduzidos em palavras, em música, poesia. Pode ser expresso de uma maneira que essa emoção não mais tenha um efeito de adoecimento, de retirada ou diminuição da nossa potencialidade, mas como ponto de expansão com a vida, a realidade e a relação com o outro.”

Ainda sobre o exercício da escuta ativa, Lucas retoma a Sigmund Freud para contextualizar que a prática tem efeitos positivos, inclusive do ponto de vista clínico. Viabilizar esse processo e incentivar que crianças falem sobre seus sentimentos e também estejam aptas a ouvir as outras é uma tática para nutrir empatia e respeito no ambiente escolar.

Segundo o psicólogo, a criança que tem um ambiente familiar e escolar acolhedor, no qual ela é escutada nas suas questões e acolhida na sua singularidade, é a que tem maior capacidade de desenvolvimento cognitivo. Escutar é muito importante. “Só quando a gente aprende a escutar a si mesmo é que conseguimos escutar o outro e se colocar nas relações e no mundo sem perder de vista que o outro é o outro e que o que ele fala é diferente porque ele é outra pessoa”, disse.

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educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, socioemocionais

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