A geração Z chegou ao ensino superior, estamos preparados?
Pesquisa da Unisinos aponta como professores e instituições podem adaptar métodos de aprendizagem que mais fazem sentido para os alunos
por Gustavo Severo Borba 14 de maio de 2019
Qual o impacto da chegada de uma nova geração de alunos no ensino superior? Esta foi uma das perguntas que motivou as pesquisadoras norte-americanas Corey Seemiller e Meghan Grace a desenvolver em 2015 um estudo com jovens da geração Z (nascidos entre 1996 e 2010), que chegavam aos bancos escolares das universidades americanas com interesses, características e modos de aprender distintos das gerações anteriores. A pesquisa envolveu 15 instituições de ensino superior e foi apresentada através do livro Generation Z goes to College, publicado em 2016.
Compreender as características destes jovens e como devemos, como professores e instituições, nos adaptar as mudanças que eles promovem a medida que interagem e convivem conosco é fundamental para que possamos continuar construindo a melhor formação para os alunos de universidades no Brasil.
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Pensando nisso, entramos em contato com as pesquisadoras para propor um desdobramento da pesquisa americana, aqui no Brasil. A proposta foi muito bem aceita pelas professoras e no primeiro semestre de 2018 começamos o trabalho de adaptação dos instrumentos e coleta de dados. Nossa pesquisa alcançou praticamente 2000 alunos, sendo 1466 atendia aos critérios da pesquisa (ano de nascimento e ingresso na universidade). Estes alunos estão matriculados em 74 instituições de ensino superior diferentes, mas 41 instituições tiveram resposta única. A maioria dos respondentes está matriculado em 13 instituições de ensino superior, a maioria delas privadas sem fins lucrativos.
No segundo semestre de 2018, analisamos os resultados e a partir disso conseguimos mapear o perfil desses jovens, seus desejos, formas de aprender, características e preocupações. Os resultados descritos no relatório surpreendem em alguns momentos, como quando perguntamos qual o método de comunicação preferencial desta geração.
Tanto nos EUA quando no Brasil, o método preferido pelos estudantes é o presencial, cara a cara (face-to-face). O índice no Brasil de preferência deste método é de 82.8%. Mensagens instantâneas vem logo a seguir (64,9%) e em último lugar está a possibilidade de conversa por telefone (20,5%).
Com relação ao uso de redes e mídias sociais, cabe destacar que 75,7% dos jovens dizem que o youtube é um canal de obtenção de conhecimento novo.
Outro ponto relevante diz respeito às formas de recompensa que mais impactam nos alunos. A maioria respondeu que recompensas relacionadas a perspectiva de crescimento profissional e currículo são mais relevante. A resposta com maior índice foi “me motivo pela oportunidade de desenvolver conhecimento e avançar”, com 86,3%. Logo a seguir vem “aprender algo ou ser melhor em algo”, com 79.9% e “defender algo que acredito”. As recompensas tangíveis são relevantes (como a nota), mas foram indicadas por 75,6% dos alunos.
A pesquisa permitiu compreendermos quais os métodos de aprendizagem que mais fazem sentido para os alunos (linguístico ficou em primeiro lugar com 53,7%); quais os interesses dos jovens com relação a questões sociais (destaque para educação, direitos das mulheres e dos gays) e como eles se percebem, em termos de características pessoais (leais, mente aberta, responsáveis e determinados, são alguns dos destaques desta questão). A pesquisa aponta ainda estilos e formas de aprendizagem (ênfase na lógica e aprendizagem baseada em experiência).
A etapa quantitativa da pesquisa permitiu ainda realizar algumas correlações entre interesses sociais, formas de aprendizagem ou características pessoais e sexo.
A etapa qualitativa teve como interesse compreender qual o papel do professor, o que os alunos esperam da universidade e como estudar pode ser mais interessante e divertido.
Com relação à questão sobre formas de tornar o estudo mais interessante e divertido, destacam-se respostas relacionadas com a necessidade de temas que despertem o interesse do aluno, metodologias diferentes e inovadoras, um professor inspirador e aprender sobre algo que eu gosto.
Sobre a questão envolvendo o que buscam na universidade, a maioria respondeu que a universidade é o caminho para obtenção do conhecimento, de competências profissionais e de competências pessoais.
Finalmente, qual o papel do professor para estes jovens? Quase a metade deles respondeu algo relacionado com a figura de um orientador, alguém que ajuda na definição dos caminhos. Logo a seguir, mas com menos da metade de citações, vem ator principal e transmissor do conhecimento.
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Pesquisa desenvolvida por Paula Campagnolo, Isa Alves, Gustavo Borba, Corey Seemiller e Meghan Grace. O relatório desta pesquisa está disponível gratuitamente.
Gustavo Severo Borba
Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Maria (1995), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998), doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005) e especialização em Design Estratégico pela Unisinos (2008) e pós-doutorado na Escola de Educação do Boston College (2012). Atualmente é professor do Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. É lider do grupo de pesquisa Design Estratégico para a Inovação Cultural e Social. É embaixador do TEDx no Brasil. Tem experiência na área de processos de Design e Inovação, Design estratégico e novas práticas de ensino e aprendizagem orientadas pelo design.