A necessária ponte entre a neurociência e a educação
Em uma série de artigos para o Porvir, a neurocientista Leonor Guerra e a educadora Ana Luiza Amaral debatem a aprendizagem alinhada ao funcionamento cerebral. Confira o primeiro texto
por Ana Luiza Neiva Amaral / Leonor Bezerra Guerra 28 de outubro de 2022
O cérebro não nasce pronto. Precisamos de interação social para aprender e ter sucesso ao longo da vida. Temos 86 bilhões de neurônios à nossa disposição, mas é a qualidade das nossas experiências e aprendizagens que modifica a arquitetura e o funcionamento cerebral ao longo do desenvolvimento.
Não nascemos com um manual de como usar o cérebro, um guia de como se aprende e de como podemos alavancar os nossos processos de aprendizagem. Estudantes, pais, professores e gestores não contam com uma bússola que indique os melhores caminhos na busca de uma aprendizagem plena e significativa, alinhada com os princípios do funcionamento cerebral.
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Os avanços no campo da neurociência têm possibilitado a compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem e já existe um conjunto sólido de evidências científicas que podem contribuir para o campo da educação. Essas descobertas colocam em relevo como práticas pedagógicas adequadas podem levar ao melhor desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes.
No entanto, o diálogo entre a neurociência e a educação nem sempre tem sido proveitoso porque, em muitos casos, os resultados das pesquisas são de difícil interpretação e não se conectam diretamente com o dia a dia da sala de aula. Por isso, é necessário sistematizar esse conhecimento e traduzir as descobertas neurocientíficas em princípios e orientações práticas que permitam aos educadores redesenharem os processos de ensino e aprendizagem do século XXI.
Estabelecer uma ponte entre neurociência e educação é um passo essencial para que os professores adotem estratégias pedagógicas inovadoras e efetivas, os estudantes escolham práticas de estudo mais eficientes, os pais promovam situações que favoreçam a aprendizagem e os gestores utilizem evidências científicas para fundamentar o desenvolvimento de políticas públicas que resultem em melhoria da qualidade da educação.
O século 21 vem trazendo mudanças dinâmicas e rápidas que tornam a aprendizagem ao longo da vida um recurso imprescindível. No entanto, o modelo educacional vigente precisa se reinventar. É preciso repensar os propósitos da educação nesse novo mundo moldado pela inteligência artificial e repleto de desafios e dilemas éticos. A sociedade contemporânea requer novas abordagens de ensino e aprendizagem que possibilitem a formação de crianças e jovens preparados para lidar com as situações complexas e em constante transformação. De fato, é preciso inovar na educação, mas com base em evidências científicas.
Nesse contexto, o Sesi (Serviço Social da Indústria) desenvolveu um estudo, fruto do diálogo entre uma neurocientista e uma educadora. Os principais resultados deste estudo são apresentados no livro “Neurociência e educação: olhando para o futuro da aprendizagem”, que aborda 12 princípios da Neurociência relacionados à aprendizagem e 22 tendências que estão configurando a educação do futuro. Por meio de linguagem acessível e utilização de infográficos são indicados importantes caminhos para um processo educacional mais efetivo.
O livro será lançado no V Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação, que será realizado presencialmente no Museu do Amanhã (RJ) de 17 a 19 de novembro, reunindo educadores, cientistas e estudantes interessados na área de ciência para a educação. A programação completa está disponível no site.
Clique aqui para baixar o infográfico acima em PDF
Ana Luiza Neiva Amaral
Pedagoga, psicopedagoga, mestre e doutora em Educação pela UnB (Universidade de Brasília). Atualmente, é especialista do Sesi (Serviço Social da Indústria), onde coordena estudos e pesquisas no campo da educação. Autora do livro "Mapa da evolução da aprendizagem no Brasil".
Leonor Bezerra Guerra
Médica, neuropsicóloga, mestre em Fisiologia e doutora em Biologia Celular pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Idealizadora e coordenadora do Programa de Extensão NeuroEduca, pioneiro na formação de professores no campo da Neurociência. Autora do livro "Neurociência e educação: como o cérebro aprende".