Ataque em escola no Paraná: ações diante de novo caso de extremismo
Ataque a tiros em colégio no norte do Paraná traz à tona o debate sobre casos de extremismo nas escolas. O Porvir ouviu especialistas para reunir orientações voltadas a equipes escolares, estudantes e famílias
por Redação 19 de junho de 2023
Um ex-aluno, de 21 anos, entrou na manhã desta segunda-feira (19) no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, norte do Paraná, alegando precisar de uma cópia do histórico escolar. Armado, ele atirou em dois estudantes; ambos morreram. Outro aluno está em estado grave. O responsável pelo ataque foi preso.
O atentado traz à tona, novamente, o debate sobre casos de extremismo nas escolas. Nos últimos vinte anos, o Grupo de Estudos “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública”, da Unicamp (Universidade de Campinas) registrou 22 ataques, sendo 16 deles cometidos por estudantes e 12 por ex-alunos. A maioria dos casos aconteceu em escolas públicas e apenas em quatro instituições particulares. “Nove desses ataques ocorreram nos últimos oito meses, o que mostra um aumento muito expressivo. Isso é altamente preocupante”, afirmou Telma Vinha, coordenadora da pesquisa, em webinário realizado em abril.
O governador do Paraná Ratinho Junior (PSD) decretou luto oficial de três dias e lamentou o ocorrido. Durante agenda no Rio de Janeiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também manifestou solidariedade às famílias das vítimas. “Infelizmente, vimos a violência mais uma vez se manifestando no local que é o mais sagrado para as crianças e jovens do nosso país e para suas famílias, que é uma escola”.
Ao longo deste primeiro semestre de 2023, no qual foram registrados ataques a escolas em São Paulo (SP) e em Blumenau (SC), o Porvir produziu uma série de reportagens sobre violência e extremismo. Abaixo, selecionamos algumas recomendações:
Pense antes de compartilhar: não colabore com o ‘efeito contágio’ de ataques às escolas
Diante de notícias trágicas, é quase que instintivo acessar ou compartilhar imagens, vídeos ou fotos dos agressores e dos ataques em redes sociais, grupos de WhatsApp ou outros meios de comunicação. A orientação de especialistas é de que isso não ocorra, mesmo em grupos privados, para evitar o chamado “efeito contágio”.
Pesquisas mostram que esses incidentes geralmente ocorrem em aglomerados e tendem a ser contagiosos. E a cobertura intensiva da mídia parece impulsionar o contágio, dizem especialistas em psicologia.
Como a escola pode agir e dialogar com as famílias e os estudantes
Especialistas apontam estratégias para trabalhar com os alunos e com a comunidade escolar de maneira cuidadosa e responsável. O primeiro passo é pedir calma, reconhecer o sofrimento e abrir espaço para o diálogo dentro do ambiente escolar, sugere a professora Luciene Tognetta, do departamento de psicologia da educação da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo). Ela avalia que escolas públicas e particulares estão sob o mesmo risco e, por isso, é preciso união entre a comunidade educativa para pensar em medidas coletivas de proteção.
O que mais você vai encontrar:
- Como se comunicar com as famílias?
- Como apoiar os estudantes?
- Combinados que a escola pode adotar
- Que atividades realizar com os estudantes
Para a psicóloga Ediane Ribeiro, especialista em trauma, a exposição a uma violência dessa grandeza é um trauma de choque e precisa de ações, tanto individuais quanto coletivas. No âmbito individual, todas as pessoas envolvidas – familiares, todas as crianças e funcionários da escola – precisam receber acolhimento e suporte da sua rede de apoio, de familiares e amigos. “É também muito indicada uma intervenção precoce de profissionais da área de saúde mental e emocional que possam ajudar a compreender como essa experiência está sendo processada por cada uma dessas pessoas, a fim de ajudá-las com técnicas que possam reequilibrar o sistema emocional extremamente abalado.”
De acordo com a especialista, também é preciso que o tema seja tratado coletivamente, dentro do ambiente no qual aconteceu a situação. “A escola precisa criar espaços para que alunos, professores e funcionários possam compartilhar suas sensações para terem a oportunidade de falar não só do trauma em si, o que nem é tão indicado nesse momento, mas para que eles possam reconhecer no coletivo reações que são naturais a esse processo.”
* Com informações da Agência Brasil