Balões do Google levam internet a confins da Terra
Para educadores, Projeto Loon, que começou a ser testado na Nova Zelândia, pode impactar – e muito – a sala de aula
por Patrícia Gomes 18 de julho de 2013
As dificuldades de usar recursos tecnológicos nas salas de aula brasileiras, sobretudo em escolas públicas, não são poucas. Os computadores, se existem, nem sempre funcionam ou estão disponíveis para os alunos. Se estão, as chances de terem uma conexão boa são mínimas. A solução para o problema, pelo menos na parte do acesso à internet, porém, pode vir dos céus. Literalmente. O Google anunciou recentemente o Projeto Loon, que pretende lançar balões na estratosfera que levam sinal de internet de qualidade a qualquer lugar do mundo. “Esperamos que eles se tornem uma opção para conectar áreas rurais, remotas ou desprovidas de internet e ajudar na comunicação depois de desastres naturais”, afirmou Mike Cassidy, responsável pelo projeto, ao anunciar o início dos testes, no mês passado. Diante dessa perspetiva, a sala de aula deve ser uma das primeiras impactadas.
“Estamos quase chegando a 2015 e, no Brasil, ainda não temos infraestrutura adequada para desenvolver projetos que envolvam tecnologias nas escolas. E isso não é só na rede pública, acontece na particular também. [Ter internet nas escolas] Seria incrível para a autonomia dos alunos, ajudaria a despertar a curiosidade”, comenta Maíra Pimentel, diretora de operações da Tamboro, empresa que desenvolve jogos educacionais para o ensino básico. “Hoje, quando os jovens estão usando um game, a experiência de aprendizagem acaba sendo ruim porque eles clicam e a página não carrega. Às vezes trava e eles precisam começar de novo, perdendo o que já tinham feito”, lamenta a empreendedora. Apesar de o Google ter falado apenas em prover áreas remotas e sem condições de acesso à internet, extraoficialmente já se acredita que o modelo possa ser usado para levar conexão para todo o mundo.
Para Andréia Lisboa de Souza, coordenadora do projeto de educação integral na Secretaria Estadual da Educação da Bahia, a possibilidade de ter acesso à internet nas escolas poderia ajudar os professores a darem mais sentido à educação que estão oferecendo. “Poderíamos inovar e recriar o currículo de forma mais interativa, ampliar os recursos e metodologias de ensino e aprendizagem; desenvolver, aprimorar e reinventar práticas pedagógicas que motivem o aprendizado”, diz a gestora pública, que completa: “Isso impacta na criação de tempos, espaços, conexões locais, regionais e globais nunca antes possíveis e passíveis de acontecer nas salas de aula em âmbito global”.
Seleção de imagens do momento do lançamento do projeto piloto, na Nova ZelândiaA professora Adriana Gandin, que lidera um projeto de levar tablets para a escola, concorda que o grande avanço da conexão fácil e rápida para a sala de aula pudesse acontecer, na verdade, fora dela. “Com a conectividade, podemos criar vida dentro e fora da escola. Alunos, professores e gestores podem vivenciar projetos transdisciplinares que discutem e buscam soluções para os problemas reais da humanidade, envolvendo todas as áreas do conhecimento”, afirma.
Apesar da recepção festiva dos educadores quanto à possibilidade de internet não ser mais uma dificuldade, é preciso ter calma. O Projeto Loon foi recebido com um pouco de ceticismo na mídia especializada – “há ainda muitos desafios para os balões do Google”, avaliou Steven Levy, editor da especializada Wired Magazine, que acompanhou o lançamento dos primeiros balões – e ainda está em fase de testes. “A ideia pode parecer maluca, mas há muita ciência sólida por trás disso”, concorda Cassidy. A divisão do Google que toca o projeto é a X, destinada a ideias de alto risco.
Veja vídeo sobre o projeto, em inglês.
A empresa escolheu uma área remota da Nova Zelândia para o primeiro experimento, no qual estão sendo usados 30 balões feitos de plástico, com 15 metros de diâmetro cada, quando inflados. “Ainda é cedo para comemorar, mas construímos um sistema que usa balões carregados pelo vento para altitudes duas vezes mais altas do que a altura por onde passam viagem de aviões comerciais. Vamos levar acesso à internet em velocidade similar ou até mais rápida que serviços de 3G de hoje”, afirmou Cassidy. O teste, que começou em junho, levou conexão a fazendas neozelandesas que nunca tinham conseguido acesso à web.
Segundo o executivo do Google, a ideia de usar balões ou objetos flutuantes para auxiliar nas comunicações não é nova. “O que tivemos de fazer foi descobrir como controlar o caminho deles [dos balões flutuantes] no céu. Descobrimos uma forma de fazer isso usando energia solar; agora nós conseguimos mover os balões para cima e para baixo para que eles ‘peguem’ os ventos nos quais queremos que eles viajem”, disse ele.