Brasileiro cria placa de US$1 para popularizar programação e robótica
Criador almeja tornar a One Dollar Board, que é do tamanho de um cartão de crédito, um item básico da lista de materiais escolares
por Marina Lopes 2 de setembro de 2016
Do desenvolvimento de pequenos projetos pedagógicos ao processo de criação de um robô, há quem diga que levar programação e robótica para o ambiente educacional requer um grande investimento financeiro. No entanto, o empreendedor brasileiro Claudio Olmedo quer mudar essa lógica. Ativista do hardware livre e do movimento maker, ele ajudou a desenvolver uma placa eletrônica de baixo custo que permite dar os primeiros passos na área com apenas um dólar.
Chamada de One Dollar Board (placa de um dólar), a placa tem o tamanho de um cartão de crédito e já vem com um manual de instruções impresso nela. Seguindo algumas etapas, estudantes podem executar exercícios simples para aprender lógica de programação e até mesmo construir projetos simples de automação.
A placa começou a ser desenvolvida durante a oitava edição da Campus Party, realizada na cidade de São Paulo, em 2015. Acostumado a dar palestras sobre hardware livre e cultura maker, Claudio pensou em levar algumas amostras de placas eletrônicas para distribuir aos participantes durante o evento.
Diferente de um ativista de software livre, que poderia compartilhar links para as pessoas testarem programas ou sistemas operacionais, quando ele falava sobre isso sentia a dificuldade de apresentar algo tangível. Como ele era fundador da empresa Centro Maker, especializada na fabricação de eletrônicos para makers, não pensou duas vezes antes de pedir para separarem algumas placas. “Foi aí que uma pessoa que trabalha comigo falou que eu já tinha pegado quase R$ 10 mil em placas para dar de presente”, lembra, Claudio.
Preocupado em encontrar uma forma de não falir sua empresa, mas ainda continuar divulgando o movimento, Claudio teve a ideia de desenvolver uma placa de baixíssimo custo durante o evento. Para isso, começou um processo de criação inverso: pensou em quais adaptações deveria fazer para que a placa eletrônica pudesse chegar ao preço final de um dólar, contando com o básico para iniciar o estudo de robótica e programação.
Ao fazer os primeiros rascunhos, logo conquistou voluntários que se interessaram pela proposta de popularizar o acesso a esse recurso. “Normalmente, quando você faz um workshop para montar um robozinho com as crianças, elas ficam muito animadas, mas depois precisam desmontar o robô porque a placa é cara”, conta Claudio, ao mencionar que uma placa eletrônica básica chega a custar entre R$ 70 e R$ 80 no mercado brasileiro.
Nos meses que seguiram, muitos voluntários se ofereceram para ajudar no desenvolvimento da placa, mas a falta de tempo dos participantes dificultava o andamento. Ao conseguir incubar o projeto no Parque Tecnológico de Itaipu, no Paraná, a iniciativa começou a ganhar força. “Criamos um modelo de negócio mais sustentável, que seria um negócio de impacto social”, explica.
O preço baixo é resultado de algumas adaptações estruturais, como dispensar um conector externo e permitir que a própria placa já seja plugada em uma porta USB para ser configurada. Além disso, a produção em larga escala na China também ajuda a diminuir o valor e oferece suporte logístico para enviar a diversos países.
Na tentativa de testar a aceitação do projeto, a placa One Dollar Board recorreu ao financiamento coletivo nacional e internacional. No Catarse, uma das principais plataformas brasileiras, foram arrecadados quase R$ 4 mil. Já no Indiegogo, a campanha já recebeu mais de U$ 6,674, incluindo contribuições de diversos países, como Alemanha e Estados Unidos.
Enquanto o modelo placa ainda está sendo aprimorado, Claudio conta que o projeto One Dollar Board está concentrando o seus esforços em desenvolver estratégias para entrar nas escolas brasileiras. “Também estamos criando um robozinho de baixo custo. Pra você falar com um diretor, quando cita uma placa de baixo custo para ensinar programação eletrônica, eles ficam olhando e perguntam: mas pra que serve essa placa?”, diz.
Para popularizar o ensino de robótica e programação nas escolas, ele diz que é preciso investir na produção de materiais pedagógicos e estratégias de capacitação dos professores. “Nosso sonho é que os alunos tenham aulas de programação, assim como eles têm aula de hipotenusa. Precisamos fazer trabalhos para que o professor de matemática consiga aplicar isso na sua aula de matemática, assim como o professor de história na sua aula de história”, projeta Claudio, que atualmente está participando do programa Start-Ed Lab, da Fundação Lemann, que acelera startups da área de educação.
Como solução para oferecer materiais de suporte pedagógico, eles irão criar uma plataforma online que reúne conteúdos e tutoriais para desenvolver atividades de programação, eletrônica e robótica. Nos próximos meses, um projeto piloto já deve começar a ser testado em algumas escolas privadas e públicas brasileiras.
De acordo com ele, o ensino de robótica e programação nas escolas será importante para ajudar os países em desenvolvimento se prepararem para a quarta revolução industrial, que engloba processos de automação, inteligência artificial, computação na nuvem e nanotecnologia. “Uma pesquisa da Cisco diz que na quarta revolução industrial a humanidade vai criar 19 trilhões de dólares”, aponta Claudio. No entanto, ele diz que é necessário criar condições para que as crianças possam inovar e desenvolver produtos. “Nós exportamos muito café, mas a nossa margem de lucro é muito pequena. O Starbucks, por exemplo, vende a experiência de tomar café”, cita, ao mencionar sobre a produção de valor agregado.