Cidade baiana melhora resultado premiando alunos
Empresários de Morro do Chapéu se reuniram para dar computadores, motos e poupanças aos estudantes com bom desempenho
por Vagner de Alencar 27 de agosto de 2012
O município de Morro do Chapéu, na região da Chapada Diamantina – a 400 km de Salvador, Bahia – é conhecido por sua temperatura baixa, que chega aos 10o C. Mas diferente do clima, o que parece ter aumentado por ali foi a motivação dos alunos da rede pública. Há cinco anos, a partir da iniciativa de Luciano da Casa do Pão – empresário famoso por fornecer pães às escolas da região –, que resolveu doar um computador para o melhor aluno das escolas do município, as notas começaram a subir. A iniciativa ganhou corpo e hoje faz parte do projeto Aluno Nota 10 em que empresários locais premiam os estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública com as melhores notas e frequência escolar.
Desde então, anualmente, os dez melhores alunos recebem notebooks, motos, poupança de até R$ 2 mil, tratamentos odontológicos e cestas básicas por um ano. O estímulo da recompensa elevou as notas dos estudantes, que passaram a atingir “supermédias” de até 9,75, além de ter aumentado a assiduidade. De acordo com dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica), a média geral dos alunos da rede estadual que estudam o último ano do ensino fundamental, por exemplo, saltou de 2,3 para 3,3, nos últimos cinco anos.
Escola modelo
Estimulado pela iniciativa, o diretor do colégio estadual Edigar Dourado Lima – localizado no povoado de Fedegosos, de pouco mais de 2 mil habitantes –, decidiu realizar um projeto similar. Há três anos, os melhores alunos ganham um pacote de viagem para Salvador. “Muitos estudantes sequer saíram daqui. O bacana é que os alunos já começam o ano dizendo ‘Eu quero viajar para Salvador’, e isso gera uma concorrência positiva. O que é muito bom”, afirma o diretor da escola Edson Gonçalves Oliveira.
Aos 63 anos de idade, Oliveira é o grande responsável pela transformação do colégio, que literalmente, tornou-se sua casa – o diretor mora na escola há cinco anos porque a instituição, como se fazia no interior antigamente, ainda mantém um dormitório para professores. Considerado modelo de referência na região, a escola tem 426 alunos de ensino fundamental II e ensino médio e nos últimos anos, os estudantes passaram a assumir o posto de melhores alunos da rede pública: 6 de cada 10 premiados pelo projeto Aluno Nota 10 são da escola.
Após dirigir por 19 anos uma escola pública, apontada por ele como destaque na cidade de Bonito, também na Bahia, Oliveira decidiu desembarcar no povoado em Morro do Chapéu com a mesma missão. “Antigamente a escola era ruim, não tinha nada. Hoje ela é bonita e aberta à comunidade”, afirma o diretor
Antes do início das aulas, que começa às 7h30 da manhã, os alunos hasteiam as bandeiras do Brasil e da Bahia. No contra-turno, participam da radioescola, criam programas e montam grades com anúncios de avisos da direção, datas festivas ou até mesmo com nomes de aniversariantes do dia. Já fora da sala de aula, na horta, eles plantam, cultivam e colhem alimentos que utilizam na merenda: o aipim e o andu são usados na sopa, o maracujá é reservado para suco e os legumes para incrementar a refeição.
Os alunos também estão aprendendo música. “Estamos formando uma banda. Compramos bateria, teclado, guitarra e baixo. Adquirimos o equipamento com o recurso do PDE [Plano de Desenvolvimento da Escola], já que as aulas de música vão entrar na grade curricular”, afirma Oliveira. “Quando o aluno vê a escola toda arrumada, bonita, ele pode achar a escola até melhor do que na casa dele. Eles não pensam duas vezes: querem voltar”, diz.
Todo fim de semana acontece o “Domingo na escola”, momento em que a comunidade se apropria de todos os ambientes do colégio. A quadra de esportes (única na região) fica livre para que times masculinos e femininos joguem futsal. Enquanto as salas de aula servem para formar grupos musicais ou assistir a documentários, séries, noticiários e filmes na TV a cabo. Já na sala de jogos é possível jogar pingue-pongue, xadrez ou sinuca.
Mas a integração entre comunidade e escola não para por aí. Oliveira pretende montar um clube, com piscina e tudo, nos fundos da escola. “Vamos montar uma espécie de associação, em que as pessoas possam comprar espécies de ‘carteiras’. Depois de lançada, a ideia é que, para manter o espaço, o alunado colabore com R$ 5 e a comunidade com R$ 10 por mês”, afirma.