Cientistas negras brasileiras são homenageadas em exposição
Camilo Martins/ Astrofísica dos Corpos Negros

Inovações em Educação

Cientistas negras brasileiras são homenageadas em exposição virtual

Voltada para estudantes e interessados em exploração espacial, a mostra “Astrofísica dos corpos negros” explora a conexão entre os fenômenos do universo e os desafios da inclusão racial e de gênero na ciência

por Ryan Nunes ilustração relógio 28 de fevereiro de 2025

De onde viemos? Para onde vamos? Essas perguntas sempre intrigaram a humanidade, especialmente os cientistas. O astrônomo Carl Sagan (1934-1996), por exemplo, dizia que “somos todos poeira de estrelas”, e pesquisas recentes mostram que tanto os seres humanos quanto as estrelas compartilham 97% dos mesmos tipos de átomos. A exposição virtual “Astrofísica dos Corpos Negros” explora essa conexão, mostrando, por exemplo, como os ciclos de vida das estrelas — que nascem, evoluem e morrem — se assemelham aos nossos.

Para além da experiência interativa, que reúne os conceitos fundamentais dessa ciência que estuda os corpos celestes e os fenômenos do universo, a exposição destaca o trabalho de cientistas negras do Brasil. De fácil navegação, a página também reúne vídeos didáticos de apoio para professores e demais interessados.

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O objetivo do projeto é atrair estudantes de escolas públicas e o público em geral para refletir também sobre os desafios sociais que ainda limitam o acesso da população negra e das mulheres à ciência.

Vem dessa análise daí o nome da mostra, inspirada no artigo ”Os Corpos Negros: questões étnico-raciais, de gênero e suas intersecções na física e na astronomia brasileira”, do professor e pesquisador Alan Brito. “Queremos falar sobre a astrofísica estudada por corpos negros, com um trocadilho que simboliza tanto o campo teórico quanto as lutas sociais desses pesquisadores”, explica Eliade Lima, professora da Universidade Federal do Pampa e idealizadora da exposição, em entrevista ao portal da instituição.

Como ver um alinhamento planetário?
Se você estiver lendo esta matéria em fevereiro, não se esqueça de olhar para o céu na sexta-feira, dia 28. Nesta semana, sete planetas do Sistema Solar estão visíveis em um arco no céu noturno, em um fenômeno conhecido como “alinhamento planetário”.

Embora não seja um alinhamento perfeito em termos astronômicos, a posição dos planetas revela a conexão gravitacional entre eles, já que suas órbitas seguem o plano da eclíptica (o caminho aparente do Sol no céu). Essa proximidade orbital faz com que, da perspectiva da Terra, eles pareçam se agrupar na mesma região do céu.

Confira a reportagem da BBC, com entrevista de Eliade Lima, sobre o assunto.

Na física, um corpo negro é um objeto teórico que absorve toda a radiação eletromagnética incidente sobre ele, sem refletir ou transmitir luz. Durante o século 19, uma das grandes questões da disciplina era solucionar um problema teórico conhecido como ‘radiação de corpo negro’, que só foi resolvido com o desenvolvimento da mecânica quântica.

O conceito, porém, vai além da teoria na comunidade científica, transportando-se à discussão sobre questões sociais como baixa representatividade de mulheres, especialmente negras, nas ciências.

“Num passado recente, problemáticas da física como a radiação de corpo negro’ estavam no foco dos debates. Atualmente, a comunidade científica persegue outra questão envolvendo ‘corpos negros’, que se afasta do campo teórico para adentrar outro campo, repleto de lutas, debates e conquistas sociais entre acadêmicos, movimentos sociais e diferentes setores da sociedade”, comenta Eliade em artigo publicado na Folha de S.Paulo.

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Objetivos centrais

Financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a mostra organizada por Eliade contou com a colaboração dos cientistas Oscar dos Santos Borba e Liandra Ramos, professores do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências da Unipampa; Alan Alves Brito, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e Rita de Cássia dos Anjos, da UFPR (Universidade Federal do Paraná). A proposta também é prestar uma homenagem a bolsistas da Sociedade Astronômica Brasileira e outros astrofísicos do país, com destaque para as cientistas negras.

“Durante minha formação, não tive referência de mulheres cientistas negras. Para que mais meninas negras possam vir a ocupar espaço científico e cargos de liderança, as ações afirmativas precisam potencializar seu ingresso na universidade, além de dar suporte a sua permanência e ao ingresso ao mercado de trabalho”, afirma a professora Rita em um dos vídeos disponíveis na página da exposição.

Confira, no YouTube da exposição, a lista de cientistas negras homenageadas pela exposição


Conheça as cientistas negras brasileiras homenageadas na exposição:

Eliade Lima – Em uma época em que a fazenda de sua avó, em Vitória da Conquista (BA), não tinha energia elétrica, Eliade Lima, cientista com atuação nas áreas de Física de Altas Energias, Raios Cósmicos, Campos Magnéticos Extragalácticos e Astrofísica Estelar, seguia uma rotina diferente daquela de sua família. Enquanto todos iam dormir às 19h, ela saía para observar as estrelas. Como qualquer criança atenta, fazia uma série de perguntas à sua avó sobre o céu: “Por que algumas estrelas piscam e outras não?”. Sua curiosidade a levou a decidir ser cientista antes mesmo de compreender o que era a ciência.

➡️Leia também: Como ver o alinhamento planetário que ocorre no fim de fevereiro?

Denise Rocha Gonçalves – Possui graduação em Física (licenciatura e bacharelado) pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), mestrado e doutorado em Astronomia pela USP (Universidade de São Paulo). Desde 2007, é professora no Observatório do Valongo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Sua pesquisa é focada na área de Astronomia, com ênfase nos estágios finais da evolução estelar, incluindo nebulosas planetárias e estrelas simbióticas, além de abundâncias químicas nebulares e evolução química de galáxias do Grupo Local (composto por mais de 54 galáxias, incluindo a Via Láctea).

➡️Leia também: ‘Sempre fui a única preta ali’: caçadora de mistério do Universo é premiada

Dinalva Aires de Sales – Graduada em Matemática pela Universidade do Vale do Paraíba, com mestrado em Física e Astronomia pela mesma instituição e doutorado em Física pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Foi pesquisadora na NASA Postdoctoral Fellow no Rochester Institute of Technology em 2012/2013. Sua atuação é referência na AstroBioGeoQuímica – atuando de forma transdisciplinar com a física, química, matemática e ciência computacional. Atualmente, é professora adjunta do IMEF (Instituto de Matemática, Estatística e Física) da FURG (Universidade Federal do Rio Grande), e faz parte do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Física do IMEF-FURG.

➡️Leia também: Dinalva e os resultados pioneiros nos estudos das galáxias

Marcelle Soares Santos – Nascida em Vitória, Espírito Santo, em 1983, cresceu no Pará. Seu interesse pela Física surgiu na Escola Técnica Federal, com incentivo de professores e familiares. Em 2017, participou da primeira observação da luz de uma colisão de estrelas de nêutrons, a 1 bilhão de anos-luz da Terra. Sua pesquisa se concentra em ondas gravitacionais, energia escura e aglomerados de galáxias. Em 2019, recebeu o prêmio Sloan Research Fellowship, um reconhecimento da Fundação Alfred P. Sloan por seu trabalho. Atualmente, é professora e pesquisadora na Universidade de Zurich, na Suíça. Sua pesquisa se concentra em ondas gravitacionais, energia escura e aglomerados de galáxias.

➡️Leia também: A cientista capixaba busca o brilho dos fenômenos mais violentos do Universo para iluminar um mistério: o que é a energia escura?

Rita de Cássia dos Anjos – “Rita, você tem que entender como as coisas funcionam, interpretar as informações e não tomá-las como verdade absoluta”, dizia sua mãe. Após deixar sua cidade natal para se graduar em Física Biológica, Rita migrou para a iniciação científica que consolidou seu amor pela carreira. Sua principal área de pesquisa são as astropartículas, com ênfase na propagação de raios cósmicos, aceleração e interações de partículas cósmicas, além das fontes de partículas multimensageiras. Em 2020, foi vencedora do prêmio Programa para Mulheres na Ciência, promovido pela L’Oréal Brasil, Unesco Brasil e Academia Brasileira de Ciências.

➡️Assista: Os negros na ciência, com Denise Rocha Gonçalves, evento realizado pela Escola Parque


Edição do texto: Ana Luísa D’Maschio


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ciências, cultura

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