Clube em escola pública de Salvador aproxima ciência ao cotidiano de alunos
Para mostrar que é possível fazer pesquisa com poucos recursos, professora incentivou a produção de trabalhos com foco na realidade local dos estudantes
por Moselene Reis 28 de agosto de 2019
Sou professora de química no Colégio Estadual Plataforma, em Salvador (BA). Como a minha escola não dispõe de sala de informática, computadores e biblioteca, os alunos nunca tiveram contato com a iniciação científica. Foi por isso que resolvi então criar um Clube de Ciências para incentivar a produção de trabalhos deste tipo com foco na realidade local. A proposta se concentrou fortalecer entre os alunos a questão de pertencimento ao território e contribuir com o aumento da autoestima.
O projeto teve início com uma pergunta sobre o que os alunos gostariam de desenvolver no lugar em que eles moravam. Eles responderam que desejavam trabalhar PANC (Plantas Alimentícias Não-Convencionais) existentes em plataformas de água existentes no bairro. Definidas as temáticas, pedi que os alunos fizessem os cursos online disponíveis no site da FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia) sobre Metodologia Científica e Feira de Ciências e iniciar o processo.
Após concluírem os cursos, eles começaram a fazer pesquisas bibliográficas para anotar tudo em um diário de bordo que foi entregue para cada um dos grupos. Nossos encontros do Clube de Ciências eram realizados sempre nos intervalos para merenda, já que no turno oposto a grande maioria dos estudantes trabalhava.
Com as pesquisas em mãos, o próximo envolveu visitas de campo para coletar amostras de PANC e das águas para que fossem analisadas. Além de tirar fotos e organizar uma coletânea com todos os documentos, fizemos entrevistas e vídeos com os moradores locais a fim de que os mesmos pudessem nos dar as contribuições para os nossos trabalhos.
Apresentamos esse trabalho na feira de ciências da escola e também enviamos o projeto para vários congressos e feiras. Resultado: fomos selecionados para a Feciba (Feira de Ciências da Bahia), o ERELIC (Encontro Regional das Licenciaturas do Nordeste) e o ENEQ (Encontro Nacional de Ensino de Química).
Os alunos ficaram encantados com tudo e perceberam que para se fazer ciência não precisa apenas ter um laboratório equipado, sala de informática e uma boa biblioteca. Todos estes fatores ajudam e muito, mas se não tiver vontade de aprender e de fazer, todos os itens são inúteis. Eles também perceberam uma real aproximação do cotidiano com a ciência, que pode ser praticada em qualquer lugar, na escola, em casa ou até mesmo na comunidade. Basta se ter um objeto de estudo e vontade de aprender.
Acredito que com essa iniciativa podem nascer novos cientistas, pois foi despertado o protagonismo juvenil dos alunos.
Moselene Reis
Licenciada em química pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), especialista em metodologia do ensino, pesquisa e extensão pela UNEB (Universidade do Estado da Bahia), especialista em PROEJA pelo IFBA (Instituto Federal da Bahia) e em educação ambiental pela UCAM (Universidade Candido Mendes). Atua como supervisora bolsista do PIBID na UFBA.