Com garrafas PET, estudantes de escolas públicas monitoram chuva em SP - PORVIR
Crédito: Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

Diário de Inovações

Com garrafas PET, estudantes de escolas públicas monitoram chuva em SP

Com o apoio de um aplicativo e de atividades aplicadas do 9° ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio, aulas de ciência cidadã focam na produção de dados para apoiar a população em dias de chuva

por Dayane Almeida de Sousa ilustração relógio 9 de fevereiro de 2022

Moradores de áreas de risco, mais vulneráveis a deslizamentos e enchentes relacionadas ao excesso de chuva, muitas vezes acompanham o noticiário da TV para saber se o tempo vai fechar. Mas qual quantidade de chuva pode se tornar um risco para essa população?

No caso da previsão de chuva, ela por si só não ajuda a responder a essa pergunta, pois a chuva divulgada pode ou não cair na região mais vulnerável, bem como a quantidade pode ser diferente. Os dados não correspondem a uma região específica e, sim, uma média calculada para a cidade inteira. E, em uma cidade grande como São Paulo, por exemplo, acaba não ajudando muito.

Foi por isso que escrevemos a eletiva Dados à Prova D’Água (com duração semestral), desenvolvida em conjunto com pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em parceria com as universidades de Glasgow e Warwick, no Reino Unido, Heidelberg, na Alemanha, e o Cemaden (Centro de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais).

A eletiva conta com oito capítulos que detalham sugestões de atividades para serem aplicadas em sala de aula para alunos do 9° ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio. As aulas têm como objetivo desmistificar alguns conceitos e conhecer outros, como: ciência cidadã; riscos e desastres; vulnerabilidade; resiliência; alagamento; inundação; enxurrada; conhecimento do território por meio do mapeamento; história da comunidade; produção de dados e dados governamentais.

As aulas ministradas tinham o intuito de construir, junto aos estudantes, a prática de ciência cidadã através de coleta, análise e compartilhamento de dados de chuva. Em um desses capítulos, realizamos uma oficina de pluviômetro artesanal, os pluvipets. Cada aluno confeccionou o seu usando apenas uma garrafa PET de 2 litros com paredes retas, uma régua de plástico, tesoura, estilete e fita adesiva, podendo usar para fixação pedras, pedregulhos, areia ou cimento. Além de confeccioná-los, os estudantes aprendem a instalar e fazer o monitoramento do equipamento com o aplicativo desenvolvido pela pesquisadora da FGV, Lívia Degrossi.

No aplicativo (disponível para o sistema Android), é possível indicar, por meio de um mapa, onde está chovendo e em qual intensidade, se existe algum ponto de alagamento, se o local é transitável ou não, o nível da água de um rio ou córrego, bem como os dados pluviométricos recolhidos no pluvipet (Diário do Pluviômetro). O mais legal é que esse aplicativo pode ser utilizado por quem fornece os dados, mas também para quem precisa dos dados.

Fazer ciência não é fácil. E essa temática, sobre desastres envolvendo a chuva, não é algo comum no repertório da população, principalmente quando não está chovendo. O primeiro ponto importante é a oportunidade de mostrar que a ciência pode ser algo prazeroso, pois não é de imediato, mas quando se tem a oportunidade de coletar e analisar dados que podem interferir, de forma positiva, na comunidade onde se está inserido, faz toda a diferença.
(Clique na imagem abaixo para ver mais fotos).

Os estudantes vão, aos poucos, sentindo-se capazes e passam a ver a ciência por uma nova perspectiva. Outro dificuldade é contornar a falta de autonomia e o letramento digital em defasagem, principalmente nas séries mais baixas.

Já com a comunidade, o desafio se dá a longo prazo. É preciso desmistificar desde o conceito que a garrafa PET deixa de ser lixo para se tornar um instrumento de investigação, até a forma como essa comunidade pode apoiar e atuar no seu entorno.

Mas não paramos aqui, esse é só o começo. O trabalho continua na E.E. Vicente Leporace, onde tudo teve início. E, também, na E.E. Renato Braga, onde o projeto ganhou corpo com apoio da equipe maravilhosa de pesquisadores da FGV. E pode ser aí na sua escola, professores de todos os cantos do Brasil. Venham fazer parte desse percurso de ciência cidadã!


Dayane Almeida de Sousa

Formada em Química e Pedagogia, com especialização em Ciências e Tecnologia pela UFABC, é professora da rede estadual de São Paulo desde 2008. Integra o grupo de pesquisa "Dados à Prova D’Água", com a FGV e Cemaden, desde 2019

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aplicativos, ciências, tecnologia

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