Como aplicar a aprendizagem ativa na educação a distância
Em artigo, professora defende que a EaD tem vocação para promover protagonismo dos estudantes. Veja dicas de como fazer isso
por Sandra Rodrigues 13 de junho de 2016
A aprendizagem ativa ocorre quando o aprendiz interage com o tema em estudo, lendo e perguntando sobre ele, relacionando o que encontra com o que já sabe, levantando hipóteses e dizendo o que pensa. Essas ações estão relacionadas a motivação, envolvimento e engajamento. Nesse caminho, o estudante reflete sobre o que está pensando e, numa espécie de checagem, avalia o que já sabe e decide se precisa ou não de mais inputs para compreender um novo conceito ou responder a uma indagação.
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Essa reflexão sobre o próprio conhecimento e o processo pessoal de aprendizagem é o que chamamos de metacognição. Conhecer a própria forma de pensar e de aprender tende a tornar o aprendiz mais confiante, porque ele se apropria dos percursos que funcionam melhor para o seu caso: havendo um objetivo claro, saberá que é capaz de alcançá-lo, e de que modo. O ganho em autoconfiança torna possível maior liberdade para tomar decisões – maior autonomia. Aqui chegamos a outro ponto: maior autonomia é um dos ingredientes para que o aluno desenvolva o protagonismo, característica importante durante seu período escolar/acadêmico e mais ainda depois, como profissional e cidadão.
Os conceitos envolvidos na aprendizagem ativa são válidos para situações de aprendizagem em geral, e educação a distância, com suas particularidades, oferece um excelente conjunto de possibilidades.
EaD e a vocação para aprendizagem ativa
A EaD esteve relacionada à aprendizagem ativa mesmo nos primórdios, quando a instrução se dava por correspondência e o aluno tinha que aprender com base apenas em textos e imagens impressas. Era assim nos cursos de eletrônica, por exemplo. A capacidade de colocar em prática o que estava escrito era treinada do único modo possível: na interação física com o objeto – o aluno “colocava a mão na massa” para construir o que havia sido proposto.
Hoje contamos com o enorme diferencial dado pela internet e tudo o que ela proporciona, e os modelos de EaD cresceram e evoluíram através dela. As diferenças entre eles se dão pela combinação entre concepção pedagógica, tipo de entrega de conteúdo e demanda de presença dos alunos nos pólos presenciais; as possibilidades de arranjo vão desde programas autoinstrucionais e exclusivamente a distância, até os cursos em que o aluno realiza a maior parte das atividades no polo; entre os extremos, diferentes proporções de presencialidade, moldadas conforme a demanda.
Cursos do sistema educacional formal (técnicos, de graduação e de pós-graduação) estão entre esses últimos. Neles, o uso de internet é requisito indispensável e o ambiente virtual de aprendizagem é largamente empregado como interface entre a instituição e o aluno. Fóruns de discussão e construções colaborativas – textos, projetos e outros – são recursos frequentemente utilizados. Essas características mais comuns estabelecem caminhos “naturais” para aprendizagem ativa: o estudante precisa elaborar ideias e manifestar-se nos fóruns e chats, porque geralmente é avaliado por isso; tem a chance de produzir em colaboração com os colegas, desenvolvendo projetos, construindo wikis e outros; pode ser incentivado a realizar pesquisas na internet ou fora dela e apresentar o que encontrou em formatos alternativos, como um portfólio, um pequeno vídeo ou num hangout – uma vez que a turma está distribuída em locais geograficamente distantes.
Distância transacional
Comunicação influi decisivamente na aprendizagem. Na EaD, aluno e professor estão separados física e/ou temporalmente, e eventuais problemas de compreensão entre professor e estudante podem adquirir um significado maior. Esse aspecto foi considerado na primeira tentativa de descrição de uma teoria da educação a distância, proposta por Michael Moore no início da década de 1970; ele considerou também que a separação geográfica afeta o comportamento de professores e alunos e o ensino-aprendizagem. Moore criou a expressão distância transacional para nomear esse espaço de comunicação entre o professor e o aluno, atribuindo a ele uma dimensão psicológica. A distância transacional é um espaço a ser transposto, nas palavras de Moore. O desafio dos programas em EaD é diminuir a distância transacional, minimizando os efeitos desfavoráveis à aprendizagem.
Distância transacional é afetada por três variáveis:
Diálogo – quanto mais possibilidades de interação, menor será a percepção de distância transacional. Vale lembrar que diálogo é a interação com uma finalidade mútua.
Estrutura – relacionada à rigidez ou flexibilidade de uma atividade educacional – o quanto a atividade permite a intervenção do aluno. Quanto mais flexibilidade, menor a distância transacional percebida.
Autonomia – relacionada à liberdade para tomar decisões. Maior autonomia é exigida do aluno quando a estrutura é mais rígida e o diálogo é menor. A percepção de distância transacional não é medida numa razão direta – a capacidade do aluno para assumir a responsabilidade por esta autonomia também influi.
A percepção de distância transacional é subjetiva – estudantes diferentes podem ter percepções de distância transacional diferentes para uma mesma atividade. O ideal seria desenhar os cursos conhecendo também o comportamento dos alunos com relação a essas variáveis.
Presença social
Dissemos que comunicação é decisiva na aprendizagem; quando se trata de comunicação mediada por tecnologia – característica da EaD atual –, surge outro elemento, relacionado às sensações de presença física e de estar sozinho ou com alguém. Esse conceito é conhecido entre os pesquisadores como presença social, fator que atua no envolvimento do estudante e também na percepção de distância transacional. O aluno estará socialmente presente quando não houver barreiras de distância transacional e ele se sentir engajado em atividades de interesse comum a um grupo. Dito de outra forma, quanto maior a sensação de presença social, menor a percepção de distância transacional. Nesta perspectiva, a interação com os colegas ganha mais importância, e atividades que demandam colaboração com ampla interação entre os componentes de um grupo tendem a contribuir para uma percepção de presença social maior (mais favorável).
Aprendizagem ativa, presença social e distância transacional
As oportunidades para aprendizagem ativa na educação a distância podem ser relacionadas à flexibilidade da atividade proposta e à frequência de diálogo que o programa proporciona: atividades mais flexíveis tenderiam a aumentar as intervenções e interações do aluno. Também podemos relacionar a aplicação de atividades para aprendizagem ativa com presença social e distância transacional, como nos exemplos a seguir.
É importante destacar que a modalidade a distância, por si só, não garante a aprendizagem ativa. Um curso desenhado com esse fim pode não produzir o resultado desejado se não contar com profissionais devidamente capacitados, por exemplo. Em linhas gerais, valem para a EaD as mesmas regras básicas utilizadas na educação presencial: ter professores preparados e comprometidos, objetivos de aprendizagem bem definidos, atividades adequadas aos conteúdos e objetivos, e uma avaliação condizente.
Sandra Rodrigues
Sandra Rodrigues é mestre em Psicologia, especialista em Inovação e Gestão em EaD, graduada em Biologia. Autora de curso sobre aprendizagem ativa e palestrante. Professora desde sempre, consultora há quase 15 anos, a maior parte deles em Educação. Interessada em tudo o que tem potencial para melhorar o jeito de ensinar e aprender. Atualmente é consultora da Hoper Educação.