Como avaliar o sucesso de seu filho?
Para especialista norte-americano, felicidade e empatia são mais importantes do que a reputação da universidade
por Fernanda Kalena 26 de fevereiro de 2014
Todo pai quer que seu filho seja bem sucedido, tenha uma vida confortável e seja feliz. Na teoria parece simples, mas uma boa parte das famílias enfrenta o desafio de conciliar as expectativas que os pais têm em relação ao filho com o que o jovem quer para a própria vida. É para tentar desatar esse nó que o norte-americano Brady Norvall fundou uma empresa de coaching educacional, chamada FindABetterU (algo como: encontre o seu melhor, em português), que auxilia estudantes a escolher a universidade mais adequada para eles nos Estados Unidos.
Para ele, o erro começa no entendimento do que é sucesso. “A sociedade tem uma estranha definição de sucesso, baseada no nome da universidade cursada. Não pensamos em sucesso como felicidade e, certamente, não vemos o sucesso como um entendimento cultural. Isso é estranho”, afirma Norvall, que no início da sua carreira trabalhou como conselheiro na criação do ensino médio em uma escola do sul da Flórida. Para ele, uma pessoa que tenha a empatia mais aguçada é mais feliz e, por consequência, mais bem sucedida.
E ele não é o único a pensar assim. Em um artigo publicado recentemente no jornal norte-americano The New York Times, o vice-presidente de recursos humanos do Google, Laszlo Bock, disse que hoje em dia o talento pode vir de tantas formas diferentes e não tradicionais, que os empregadores tem que estar atentos não apenas ao nome das universidades. “Quando olhamos para pessoas que não cursaram faculdade e mesmo assim fizeram seu caminho no mundo, sabemos que esses são seres humanos excepcionais. E temos que fazer tudo ao nosso alcance para encontrar essas pessoas. Muitas universidades não entregam o que prometem, deixam o estudante com uma tonelada de dívidas e sem aprender as coisas mais importantes para a vida, é como prorrogar a adolescência”, argumenta Bock.
Já no caso da FindABetterU, quando uma família contrata Norvall para ser o mentor de um adolescente, seu trabalho não se restringe ao estudante. Em um primeiro contato, ele reúne pais e filho para uma conversa na tentativa de alinhar os pensamentos e objetivos. “Nesse momento fica nítido quando os pais têm expectativas diferentes das do adolescente e o quanto ele está sendo influenciado pelos pais e não pelos desejos que vê no seu próprio caminho. É comum pais e adultos projetarem seus próprios medos e ansiedades nos jovens”, conta o especialista que estará no Brasil no mês de março para palestrar no G.A.T.E., evento de educação que vai reunir especialistas e mais de 70 instituições internacionais de ensino em São Paulo.
Segundo Norvall, a grande dificuldade em lidar com famílias bem sucedidas é que elas têm acesso as melhores oportunidades, transmitem a pressão social para os filhos e colocam o nome da universidade a ser cursada como principal objetivo. “A mensagem que eu tento passar para elas é a de equilíbrio. Os pais querem que seus filhos sejam extraordinários, mas quando se é muito bom em alguma coisa, normalmente se é ruim em outra”, explica. Para ele, a capacidade em se comunicar efetivamente, falar sobre emoções, sentimentos e medos deveriam ser priorizadas. “Sem isso, eles podem até ter um talento extraordinário para algo, mas seus pontos fracos também vão ser ressaltados e vão minar suas chances em encontrar felicidade e satisfação em outras áreas de suas vidas.”
Para ele, o trabalho com os adolescentes deveria caminhar nesse sentido, de entender quais são os gostos, preferências e que caminho os jovens querem seguir. “Escolher uma universidade não é diferente de escolher a pessoa com a qual você vai casar. Mas é a primeira grande escolha que esses adolescentes têm que fazer na vida. Eles precisam pensar no tipo de vida que querem ter depois de formados”, diz Norvall. Para ele, tanto a mídia quando os rankings de classificação das universidades distorcem o que deveria ser o principal objetivo dos estudos. “Os jovens precisam de perspectiva, precisam fazer perguntas e não ter medo de falhar. Só assim estarão preparados para passar pelos obstáculos da vida.”
Norvall indica uma lista de filmes e documentários que considera importante para a formação dos adolescentes por aguçarem a empatia e expandirem a visão de mundo. Entre eles, o brasileiro Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, por ser “uma assustadora ilustração do poder da pressão econômica e social” e o francês Intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano, um filme que deixa claro a diferença entre empatia e compaixão”, justifica Norvall.